
A cada dia, três suicídios são consumados no Paraná. Assim tem sido ao longo dos últimos cinco anos, período no qual mais de 5 mil pessoas deram cabo à própria vida no estado. Os dados são do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Painel de Monitoramento da Mortalidade, do Ministério da Saúde, e compreendem o período de 2020 a 2024. O nono mês do ano, por sua vez, é especialmente oportuno para tratar do tema, já que é quando se inicia a campanha do Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio.
De acordo com as estatísticas oficiais, ao longo dos últimos cinco anos o Brasil registrou um total de 76.893 mortes por lesões autoprovocadas intencionalmente. O Paraná, por sua vez, foi a quarta unidade da federação com mais falecimentos: 5.255, o equivalente a quase três casos por dia ou, ainda, um óbito a cada oito horas. Apenas São Paulo (13.154), Minas Gerais (8.955) e Rio Grande do Sul (7.507) tiveram mais mortes.
Nos últimos tempos, inclusive, nota-se uma tendência de alta nos registros. Até 2020, por exemplo, o Paraná jamais havia tido mais de mil suicídios ao longo de um único ano. Em 2021, porém, essa “barreira” foi superada pela primeira vez, com 1.106 registros. A situação se repetiu ainda nos anos seguintes (2022 e 2023), com mais 1.188 e 1.143 mortes, respectivamente.
Em 2024, o número de mortes por lesões autoprovocadas intencionalmente já recuou para 883, uma redução de 22,75% na comparação com o ano anterior. Os dados mais recentes, entretanto, ainda são preliminares. Ou seja, é possível que ainda sofram alterações.
De toda forma, a queda paranaense segue uma tendência nacional. Isso porque, em 2024, 17.002 suicídios se consumaram no Brasil. Em 2024, o Painel de Informações sobre Mortalidade já acusa 14.095 óbitos, uma redução de 17,1%. O recuo paranaense, portanto, ficou acima da média nacional. E apenas duas unidades da federação, por ora, tiveram quedas mais expressivas que o Paraná. Foram elas: Rio de Janeiro (-50,33%, com 451 mortes em 2024) e Minas Gerais (026,65%, com 1.464).
Os suicídios no Brasil
Unidade da Federação | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 | TOTAL |
Rondônia | 139 | 145 | 150 | 156 | 165 | 755 |
Acre | 72 | 70 | 81 | 118 | 102 | 443 |
Amazonas | 313 | 297 | 297 | 339 | 312 | 1.558 |
Roraima | 36 | 69 | 55 | 63 | 59 | 282 |
Pará | 391 | 398 | 499 | 526 | 474 | 2.288 |
Amapá | 51 | 63 | 81 | 73 | 59 | 327 |
Tocantins | 117 | 167 | 149 | 163 | 176 | 772 |
Maranhão | 341 | 386 | 395 | 460 | 408 | 1.990 |
Piauí | 313 | 376 | 364 | 371 | 360 | 1.784 |
Ceará | 606 | 823 | 790 | 799 | 703 | 3.721 |
Rio Grande do Norte | 235 | 254 | 238 | 283 | 222 | 1.232 |
Paraíba | 258 | 280 | 328 | 367 | 308 | 1.541 |
Pernambuco | 451 | 546 | 488 | 613 | 508 | 2.606 |
Alagoas | 168 | 158 | 193 | 187 | 150 | 856 |
Sergipe | 130 | 132 | 162 | 154 | 130 | 708 |
Bahia | 737 | 837 | 879 | 917 | 751 | 4.121 |
Minas Gerais | 1.647 | 1.800 | 2.048 | 1.996 | 1.464 | 8.955 |
Espírito Santo | 251 | 259 | 238 | 300 | 247 | 1.295 |
Rio de Janeiro | 789 | 903 | 813 | 908 | 451 | 3.864 |
São Paulo | 2.359 | 2.645 | 2.923 | 2.787 | 2.440 | 13.154 |
Paraná | 935 | 1.106 | 1.188 | 1.143 | 883 | 5.255 |
Santa Catarina | 778 | 856 | 938 | 964 | 897 | 4.433 |
Rio Grande do Sul | 1.419 | 1.517 | 1.571 | 1.662 | 1.338 | 7.507 |
Mato Grosso do Sul | 244 | 305 | 328 | 343 | 330 | 1.550 |
Mato Grosso | 261 | 264 | 302 | 319 | 295 | 1.441 |
Goiás | 596 | 653 | 712 | 711 | 636 | 3.308 |
Distrito Federal | 198 | 190 | 252 | 280 | 227 | 1.147 |
Total | 13.835 | 15.499 | 16.462 | 17.002 | 14.095 | 76.893 |
Se precisar, peça ajuda
Desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, realiza no Brasil a campanha Setembro Amarelo, com o objetivo de trazer informações para conscientizar a sociedade e colaborar para a prevenção do suicídio no país. A iniciativa chega em seu 11º ano tendo o seguinte mote: “Se precisar, peça ajuda”. A campanha acontece durante todo o mês, mas no dia 10 é que se celebrá o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
“Quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. Essas pessoas pensam rigidamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe”, aponta o site do Setembro Amarelo.
Ainda de acordo com a organização, se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. “É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente.”
Sinais de risco e rede de apoio em Curitiba
Um primeiro fator de risco ao suicídio são os transtornos mentais. Isso porque praticamente todas as pessoas que cometem suicídio apresentam pelo menos um transtorno psiquiátrico, como depressão, transtorno bipolar, problemas com drogas lícitas ou ilícitas, etc.
Outra questão importante é o histórico pessoal. Isso porque a tentativa prévia é o principal fator de risco para o suicídio e indivíduos que já tentaram dar cabo à própria vida têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente.
Um dos centros de apoio emocional mais atuantes no Brasil é o Centro de Valorização da Vida (CVV). Nele existe o serviço de escuta 24 horas por dia. Basta ligar para 188 e solicitar o atendimento. O serviço também está disponível via internet pelo www.cvv.org.br.
Além disso, em Curitiba há diversas opções gratuitas ou a preços módicos para aqueles que precisam de acompanhamento psicológico e não possuem condições financeiras.
O SUS, por exemplo, oferece atendimento e tratamento em todos os serviços da Rede de Atenção Psicossocial na cidade. Além disso, seis instituições de ensino (PUCPR, UFPR, Uniandrade, UniBrasil, UP e UTP) oferecem atendimento psicológico gratuito ou a preços módicos ao público que comprova ter baixa renda.