Paraná Fumaça e perigo

Sindicato dos Cegonheiros monta “mapa” de queimadas às margens de rodovias; Paraná teve alta

Editado por Mario Akira
queimada rodovia

Fumaça de queimadas e incêndios prejudicam visibilidade (Foto:CBMPR)

As queimadas seguem ameaçando segurança nas rodovias por conta de focos regionais, apesar de queda na média histórica. É o que aponta um levantamento divulgado pelo Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg), profissionais que estão o tempo todo nas estradas.

O Brasil registrou em julho e agosto de 2025 os menores índices de queimadas dos últimos anos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), julho apresentou queda de 56,8% no número de focos de incêndio e redução de 61% nas áreas queimadas em comparação ao mesmo período de 2024. Foram 9.713 focos em julho de 2025, contra 22.487 em julho do ano anterior.

Em agosto, a queda foi ainda mais expressiva: 17.943 focos de calor, o menor patamar já registrado desde o início da série histórica em 1998. Esse número representa 62% menos que a média histórica para o mês (47.348) e também é 16% inferior ao recorde anterior de baixa, em 2013 (21.410 focos).

A redução foi observada em quase todos os biomas. O Pantanal teve queda de 96,8% nos focos e 99,2% na área queimada; a Amazônia apresentou redução de 80,9% nos focos e 89,9% na área afetada; o Cerrado registrou queda de cerca de 28% nos dois indicadores; a Mata Atlântica reduziu 19,3% em focos e 76,4% em área atingida.

Apenas a Caatinga apresentou aumento: de 542 para 715 focos em julho (alta de 31,9%) e de 10,2 mil para 14,7 mil hectares queimados (alta de 43,2%), sempre em relação ao ano passado.

Queimadas: riscos persistentes nas rodovias

Apesar dos resultados positivos no agregado, focos regionais seguem oferecendo riscos significativos, sobretudo em áreas próximas às rodovias.

• Piracicaba (SP): incêndio atingiu mata às margens da Rodovia Margarida da Graça Martins (SP-135) em setembro, mobilizando o Corpo de Bombeiros.
• São Luiz do Paraitinga (SP): queimada de grandes proporções consumiu 19 hectares de mata ao lado da Rodovia Nelson Ferreira Pinto (SP-153).
• Paraná: levantamento mostrou que o número de ocorrências saltou de 12 em junho para 142 em agosto — aumento de quase 12 vezes.
• Minas Gerais: de janeiro a agosto de 2025, foram registrados 10.327 casos de queimadas. Somente em agosto, houve 1.192 ocorrências.

Esses episódios revelam que, mesmo diante da tendência nacional de queda, as estradas ainda convivem com focos que comprometem a visibilidade, a segurança viária, a saúde da população e a pontualidade das entregas de cargas.

A visão do setor de transporte

José Ronaldo Marques da Silva, o Boizinho, presidente do Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg), lembra que os números gerais são motivo de comemoração, mas não eliminam o perigo:

“A redução nacional das queimadas é um dado animador, pois mostra que políticas de prevenção e combate estão funcionando. Mas, para quem vive o dia a dia das estradas, a realidade é outra. Um único foco de fogo ao lado de uma rodovia movimentada é suficiente para causar tragédias”.

A fumaça pode reduzir a visibilidade a poucos metros, provocar colisões em sequência, gerar engavetamentos e colocar em risco a vida não só dos motoristas profissionais, mas também das famílias que viajam. Além disso, o calor extremo danifica a pavimentação e atrasa a logística de transporte, afetando toda a cadeia econômica.

“É fundamental que, mesmo diante da boa notícia em escala nacional, a sociedade e os governos continuem vigilantes com os focos regionais, porque são eles que ameaçam diretamente quem está na estrada”.

Márcio Galdino, diretor regional do Sinaceg, reforça a importância da prevenção diante dos focos de incêndio locais e da conscientização de todos os usuários das rodovias:

“Nós sabemos que muitas queimadas têm origem em descuidos: uma ponta de cigarro atirada pela janela, lixo deixado no acostamento, caminhões mal enlonados que soltam resíduos inflamáveis. Esses pequenos deslizes podem se transformar em grandes incêndios”.

Também é papel das concessionárias e dos órgãos públicos manter acostamentos limpos, faixas de contenção (aceiros) e equipes treinadas para responder rapidamente às emergências.

Igualmente, é essencial que cada motorista adote boas práticas: fechar os vidros, reduzir a velocidade ao passar por áreas de fumaça, manter distância segura do veículo da frente e, em hipótese alguma, parar na pista.

“A segurança no trânsito depende de cada um de nós. O fogo pode começar pequeno, mas seu impacto sobre a vida de milhares de pessoas que dependem das rodovias é imenso. Por isso, é urgente reforçar campanhas de prevenção e fiscalização”, diz Galdino.

Desafio para os próximos meses

Especialistas alertam que setembro e outubro são meses críticos, pois tradicionalmente concentram longos períodos de seca em regiões como o Centro-Oeste e o Sudeste. O desafio será manter a tendência de queda observada no cenário nacional e, ao mesmo tempo, fortalecer o combate às ocorrências localizadas, que permanecem como uma das principais ameaças à segurança viária.

O tema é extremamente importante para o Sinaceg porque a entidade integra a cadeia do transporte rodoviário de veículos no Brasil, uma atividade que congrega 5.000 trabalhadores, gente que precisa diariamente das rodovias seguras para exercer sua missão.