Na última virada de ano, um grupo sul-americano conduziu a sexta edição da Expedição Peabiru, percorrendo um trajeto de cerca de 7,5 mil quilômetros pelas paisagens e belezas naturais da Patagônia. O desafio da viagem foi ir de Curitiba, no Paraná, até a cidade de Villa Traful, na Argentina, usando apenas carros antigos.
A ideia surgiu em 2019, quando um pequeno grupo de amigos decidiu que era a hora de trazer para a América Latina, algo como as famosas provas automobilísticas realizadas na Europa e na Ásia há anos.
A inspiração veio dos Rallys Pequim-Paris e Mongol. O primeiro, é uma prova histórica de longa duração histórica, realizada pela primeira vez em 1907 e vencida por um príncipe italiano, Itala de Scipione Borghese. A corrida original, que contou com apenas cinco carros inscritos e não tinha estradas ou postos de gasolina no percurso, segue sendo revivida por grupos de apaixonados por carros clássicos. Já o segundo, o Mongol ou “da Mongólia”, é um rally intercontinental, que foi realizado pela primeira vez em 2004. Originalmente, o trajeto terminava na Mongólia, mas, após mudanças, passou a terminar na Rússia. Entre os destaques do Rally Mongol, está a equipe australiana “Destined to Flail”, que passou por 41 países, durante quatro semanas, na edição de 2018.
A versão sul americana, que acontece desde 2019, viaja pelas belezas naturais das paisagens da América Latina, com destinos que variam ano a ano, usando veículos antigos, e praticando a vivência em grupo – dormindo em barracas e cozinhando à margem da estrada. Júlio Guidolin é o organizador do grupo e destaca que “a proposta é um resgate às viagens do passado, em que não haviam carros com câmbio automático, fácil acesso à assistência mecânica e tecnologia à disposição”. Os desafios do percurso contemplam reparos e improvisos que justificam o lema do grupo: “Viva o inesperado!”
Alguns dos participantes da Expedição Patagônia, em Vila Traful, na Argentina, em janeiro de 2024. – Fotos: Expedição Peabiru
A última edição da Expedição Peabiru contou com 27 veículos e mais de 60 participantes, que vivenciaram juntos os mais de 15 dias de viagem. O número de mulheres que fazem parte da expedição vem aumentando e, na última edição, a proporção foi de quase cinquenta por cento dos integrantes do grupo. Em 2023, duas equipes femininas foram destaque na viagem: Cibele Koga, que viajou em uma motocicleta, e as irmãs Bruna e Marjory Walesko Falce, que fizeram o percurso a bordo da Belina “Bel”.
O grupo é aberto para novos participantes.
Veículos
As regras originais determinavam quatro categorias de veículos, sendo Master Pro (ano de fabricação até 1990; menos de 1.800 cc; combustível gasolina; tração 4×2), Força Livre (ano de fabricação até 1980; motor livre; combustível livre; tração livre), Kombi (ano de fabricação livre; motor livre; combustível livre) e Caminhão, Motorhome e Ônibus (ano de fabricação até 1990; motor livre; combustível livre).
A partir de 2023, os organizadores foram mais flexíveis, acrescentando motocicletas e permitindo exceções, mas sem perder a “essência do grupo”.
Chevrolet 1951, pilotado pelo organizador do grupo, Júlio Cesar Guidolin.
Julio Guidolin é o organizador da equipe. Nesta última edição, viajou a bordo do cupê “Chevrolet Bel Air” 1951 com mecânica Opala.
O veículo mais antigo é um Chevrolet 1937, que já participou de três edições da viagem, sendo duas para a Bolívia e essa última, para a Patagônia Argentina. Acompanhando o mais antigo, outro clássico que chama a atenção nas estradas: o Motorhome Mercedes-Benz 1960, apelidado carinhosamente de “Lesmão”.
Chevrolet 1937, pilotado por Júlio Cesar Guidolin.
Alguns veículos foram os mais improváveis de conseguir finalizar o percurso. Entre eles, um Fiat Uno e uma Honda CG Titan, que participaram da viagem de 2022, e, nesta última, um Gurgel. Em contrapartida, os que têm mais facilidade de percorrer tantos quilômetros são os Wagons, também conhecidos como peruas, como Belinas e Quantum, que estão entre os veículos em maior quantidade no grupo, oferecendo espaço, conforto e valor mais acessível.
Destinos
As viagens acontecem duas vezes ao ano, uma no início de janeiro e outra em junho. Cada roteiro leva a um destino diferente. O rally inaugural, de janeiro de 2019, saiu de Curitiba, no Paraná, Brasil, em um pequeno grupo que viajou até a cidade de Porco, na Bolívia. O trajeto passou pelo Paraguai e pela Argentina. Já a segunda temporada do mesmo ano, em junho, partiu de Curitiba, no Brasil, com destino à Melo, no Uruguai, passando por três estados brasileiros: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
No segundo ano de expedição, em janeiro de 2020, o grupo voltou às estradas. Dessa vez, em um percurso que começou em Hernandarias, no Paraguai, e foi até Porco, na Bolívia. Pelo caminho, os viajantes passaram por cidades na Argentina e pelo deserto do Atacama, no Chile, além das paisagens exóticas e exuberantes da Bolívia.
Em 2021, devido à pandemia mundial ocasionada pelo vírus Covid-19 e ao fechamento das fronteiras, o roteiro foi adaptado à região Sul do Brasil, tomando cuidados necessários e passando por cidades históricas e repletas de cultura nacional.
A edição de 2022 levou os viajantes à Bolívia novamente, mas, dessa vez, em um percurso que passava pela Argentina e contemplou a famosa Estrada da Morte, também conhecida como Estrada Yungas, na Bolívia.
O destino de 2023 trouxe novidades para o grupo. A proposta do roteiro foi uma viagem de Oceano a Oceano, saindo de Antonina, no litoral paranaense, às margens do Oceano Atlântico, para chegar a La Serena, uma cidade no Chile, no Oceano Pacífico. No trajeto, cidades na Argentina.
Por fim, a edição mais recente largou de Curitiba com destino às paisagens naturais da Patagônia Argentina. A região de Villa Traful foi escolhida como destino final e teve 27 carros inscritos — alcançando cada vez mais variedade de marcas e modelos participantes.
Origem do nome
O nome Peabiru foi inspirado no histórico caminho desenvolvido por Incas, índios tupis-guaranis ou algum outro grupo – visto que o “dono” da estrada original nunca foi comprovado. As rotas continham ramificações; começavam no litoral paulista, passando pelo Paraná, Santa Catarina, Paraguai, Bolívia e há quem diga que terminariam no Peru. O caminho original e seus desbravadores são motivo de pesquisas e estudos pelo Brasil. De todo modo, Peabiru faz referência ao caminho místico e lendário, porque alguns dos trajetos propostos pelo grupo de viajantes passam pelos países que fazem parte dos famosos caminhos Peabiru.
SERVIÇO
Peabiru – Expedição Patagônia
Saída: Curitiba, no Paraná
Destino final: Vila Traful, Patagônia, Argentina
Mais informações: Instagram e Facebook – @expedicaopeabiru