Transporte público de Curitiba perdeu um quarto dos passageiros desde 2019

Número de passageiros usando o ônibus teve alta expressiva no ano passado em relação a 2021, mas segue bem abaixo do que havia sido registrado antes da pandemia

Rodolfo Luis Kowalski

Número de passageiros transportados subiu em relação aos anos de pandemia (Franklin de Freitas

A sangria que o transporte público de Curitiba enfrentou ao longo da última década, quando o número de usuários do sistema caiu progressivamente, aprofundou-se com a pandemia de Covid-19, ao ponto de a capital paranaense ter perdido nos últimos quatro anos um quarto de seus passageiros. Dessa forma, ainda que o número de usuários dos ônibus tenha crescido expressivamente em 2022 na comparação com 2020 e 2021 (anos mais trágicos e críticos da crise sanitária), o total de passageiros transportados segue distante do que era realizado até 2019.

Segundo dados da Urbanização de Curitiba (Urbs), extraídos do Painel Interativo de Passageiros, ao longo do ano passado um total de 150,1 milhões de passageiros haviam sido transportados pelos ônibus curitibanos. O volume, que considera as viagens realizadas até o dia 21 de dezembro de 2022 e inclui passageiros pagantes e isentos (como idosos, pessoas com deficiência e estudantes), aponta para a primeira retomada mais expressiva do movimento no transporte coletivo dede o início da pandemia, em consonância com a melhora do quadro sanitário e o avanço da vacinação contra a Covid-19.

Em 2020, primeiro ano de pandemia, o total de passageiros transportados na cidade havia sido de 107,4 milhões, número que cresceu só 5,4% no ano seguinte, chegando a 113,2 milhões. Já no ano passado, quase 37 milhões de passageiros a mais foram registrados nos ônibus curitibanos em relação a 2021, com crescimento de 32,6%. Considerando ainda que os dados do Painel não registram o número de passageiros transportados nos 10 últimos dias de 2022, é natural que essa diferença tenha ficado ainda maior até o final do anos, com o total de passageiros em 2022 fechando em torno de 154 milhões.

Uma alta expressiva em relação ao período em que havia uma necessidade mais premente de distanciamento social (quando houve a suspensão das aulas presenciais nas escolas e a implantação do regime home office em muitas empresas nos anos de 2020 e 2021), mas ainda um número distante daquele que o transporte coletivo curitibano registrava antes da pandemia de Covid-19.

É que em 2019 um total de 203,9 milhões de passageiros haviam sido transportados na capital paranaense, o que significa 26% a mais na comparação com os 150,1 milhões anotados em 2022. É como se, antes da pandemia, 559 mil passageiros utilizassem diariamente os ônibus, número que no ano passado já estava 423 mil (novamente, considerando-se os dados até o dia 21 de dezembro).

Uma questão de sustentabilidade
A Prefeitura de Curitiba lançou ontem um apelo para que os curitibanos adquiram novos hábitos, mais sustentáveis, e utilizem mais frequentemente o transporte coletivo*.

“Trocar o carro de passeio pelo transporte coletivo traz diversos benefícios para toda a sociedade, a exemplo da diminuição do número de acidentes, minimização de congestionamentos no trânsito, redução da poluição atmosférica e sonora e logística verde, construindo um futuro mais sustentável”, argumentou o município em publicação no site oficial da Prefeitura.

Os usuários do sistema podem pagar pelas viagens usando o Cartão Usuário, o Cartão Isento (para idosos e pessoas com deficiência) e o Cartão Estudante (para alunos de escola pública, residentes em Curitiba, cuja família recebe entre 3 e 5 salários mínimos e more a mais de 10 quadras do local de estudo).

Além disso, também é possível pagar a passagem com cartão de débito e crédito à vista com sistema de aproximação, relógios inteligentes e smartphones também dentro dos ônibus. Para pagar a tarifa, é só aproximar o cartão de crédito ou débito que apresente o sinal de pagamento por aproximação do validador, tal como é feito com cartões de transporte convencionais. Você também pode aproximar seu celular com as carteiras digitais – Samsung Pay, Apple Pay e Google Pay – ou qualquer outro dispositivo de pagamento, como relógios, pulseiras ou adesivos. O sistema aceita pagamento com as bandeiras Visa, Mastercard e Elo. Todos os ônibus possuem adesivos informando sobre a disponibilidade desse tipo de pagamento.

* ERRATA: Inicialmente, a reportagem dizia que a campanha em prol da sustentabilidade tinha relação com a redução no número de passageiros. A informação foi corrigida nesta terça-feira (17), após o município esclarecer que tal pauta não tem a ver com a queda no número de passageiros, mas que se trata exclusivamente de uma questão de sustentabilidade. Ainda segundo o município, o menor número de passageiros em 2022 já era esperado porque muitas empresas mantiveram o regime de trabalho remoto ou implantaram o híbrido.

Pensando no futuro do sistema na Capital
Curitiba está tocando atualmente dois grandes projetos, ambos com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o intuito de apontar para o transporte coletivo da cidade o seu futuro. Trata-se do BRT Leste-Oeste e da Linha Direta Inter 2.

O primeiro projeto, que terá o custo de US$ 75 milhões, vai requalificar mais de 20 quilômetros de canaletas exclusivas para ônibus, além de reformar 34 estações, três terminais e construir outros dois. Quando concluído, o trajeto do Ligeirão entre o Terminal de Pinhais e o CIC Norte será 23 minutos mais rápido, com apenas 11 paradas no percurso.

Já o segundo projeto, que custará US$ 133,4 milhões, prevê a melhoria da infraestrutura viária e de equipamentos para o aumento da velocidade operacional e a ampliação da capacidade do Ligeirinho Inter 2 e do Interbairros II, que são as duas linhas circulares que mais transportam passageiros na cidade fora dos eixos estruturais. O objetivo é fazer com que o número de transportados suba doa atuais 155 mil passageiros por dia para 181 mil.

Além disso, outras mudanças ainda estão sendo pensadas e planejadas, dentro e fora do Estado. Por exemplo, recentemente pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) comprovaram que mapear os horários e ponto de embarque e desembarque de usuários pode colaborar para a eficiência na prestação do serviço de transporte, além da segurança e conforto dos usuários, diminuindo a lotação dos ônibus, especialmente nos horários de pico.
O estudo, feito em Curitiba ao longo de mais de um ano, mostra que 90% dos passageiros obedecem a uma rotina praticamente fixa, que envolve o trajeto entre casa e trabalho e casa e escola, além da volta, havendo pouca variação na lotação dos ônibus nos mesmos horários. “Assim, seria possível escalonar essas atividades em horários adequados para evitar a lotação dos ônibus, distribuindo os passageiros de acordo com seus horários respectivos”, explica Luis André Fumagalli, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da PUCPR, um dos autores da pesquisa.

Pesquisa
Mais barato

A pesquisa feita pela PUCPR ainda traz outro achado interessante. É que os pesquisadores identificaram os principais motivos pelos quais as pessoas continuam usando o transporte público: porque ainda é o meio de transporte mais barato em comparação com outras opções e/ou porque é o único meio de transporte disponível para um grupo específico da população. O artigo “Challenges for public transportation: consequences and possible alternatives for the Covid-19 pandemic through strategic digital city application” (“Desafios para o transporte público: consequências e possíveis alternativas para a pandemia de Covid-19 por meio de aplicação estratégica de cidade digital”, em tradução livre) foi publicado no Journal of Urban Management, revista científica que é referência mundial na área de planejamento urbano, e venceu o Prêmio Capes/Fundação Volkswagen de 2022 na categoria “Modelos Sustentáveis de Negócios Conectados a Melhorias Urbanas”.