CAPA RESTAURANTE LUIS PEDRUCO
Restaurante Pote Chopp: 60 anos de história no coração de Curitiba (Foto: Luís Pedruco)

A esquina entre as ruas José Loureiro e Dr. Muricy, no Centro de Curitiba, é também a casa de um dos mais tradicionais restaurantes curitibanos. Trata-se do Pote Chopp, que recentemente (no dia 17 de maio) celebrou 60 anos de história. São seis décadas funcionando no mesmo endereço e oferecendo o mesmo cardápio (com uma ou outra novidade), que conquistou gerações de clientes fiéis.

“Temos gerações de clientes. É uma coisa até gozada que acontece aqui, porque de repente chega alguém e fala assim ‘oh, eu tô vindo aqui para mostrar pro meu filho onde eu conheci a mãe deles’, ou trazem os filhos para mostrar o lugar onde almoçavam com o avô. Temos freguesia de três gerações, e isso que é o mais importante pra gente: a fidelidade que a gente construiu em 60 anos. Uma freguesia sólida e permanente”, afirma Luciano Amatuzzi, que tem 65 anos e é o proprietário do Pote Chopp.

O bar e restaurante funciona de segunda a sábado, das 11 às 15 horas. Por dia, entre 500 e 800 pessoas passam pelo local, que registra movimento maior às sextas e sábados. “No domingo nós não abrimos. Isso já é tradicional. Nós nunca abrimos no domingo, desde que inaugurou o Pote Chopp, há 60 anos. Meu pai sempre falava que domingo é o dia sagrado, é o dia da família. E a família dele, a nossa, e dos nossos colaboradores também”, explica Amatuzzi.

Alcatrão “orelha de elefante”, mignon à parmegiana e mais destaques

Tradição, inclusive, é o que não falta na casa. Há décadas, por exemplo, o cardápio é o mesmo, com pratos do dia e opções à la carte. A segunda-feira, por exemplo, é dia de virado paulista. Terça, língua com ervilhas. Na quarta, feijoada. Quinta, dobradinha. Na sexta, moqueca com peixe. E no sábado, novamente a feijoada.

Já no serviço à la carte, os destaques são o alcatrão, conhecido como orelha de elefante, um prato que serve de três a quatro pessoas. O churrasco de igreja, o mignon à cavalo e o mignon ao alho são outras boas pedidas. Mas o prato mais pedido e conhecido da casa é o tradicionalíssimo mignon à parmegiana, que até o final do inverno estará fazendo parte do Festival do Inverno da Parmegiana, com preço especial: R$ 120 para duas pessoas e R$ 150 para três.

“O cardápio nosso é o mesmo de 50, 60 anos atrás. Temos os pratos do dia e o serviço à la carte. E de uns 20 anos para cá, como estamos no Centro e tem muita gente com pressa, sem tempo para almoçar e que quer comer algo rápido, começamos também com o buffet por quilo, que a pessoa se serve ali e já vai comer, porque no à la carte demora uns 20 minutos depois de feito o pedido pra comida chegar na mesa”, comenta ainda o empresário.

Medo da demolição do Bar Mignon fez nascer o Pote Chopp

A família Amatuzzi veio da Itália ao Brasil em 1902, quando Heitor Amatuzzi e sua esposa se estabeleceram em Paranaguá. Depois de certo tempo, acabaram se mudando para Curitiba e na Capital fundaram o Bar Mignon, que fica na Rua XV de Novembro no final de 2025 vai completar 100 anos de história. Com o tempo, a família foi crescendo, com o nascimento dos filhos (como Heitor Jr e Benedito). E eles já começaram a se envolver no negócio, passando a trabalhar no estabelecimento familiar.

Isso até 1963, quando o então prefeito de Curitiba, Ivo Arzua, apareceu com um projeto para alargar a Rua XV. “Iam derrubar todos os prédios desde a Luiz Xavier até a Marechal. E meu avô, meu pai e meu tio ficaram preocupados com a situação e já procuraram outro local para se mudar. Foi aí que nasceu o Pote Chopp”, conta Luciano Amatuzzi.

Acontece que a família Amatuzzi era muito amiga de um jovem advogado chamado René Dotti, que os ajudou a fazer uma ação para embargar a destruição dos prédios da Rua XV e transformar aquilo em patrimônio histórico. Os comerciantes da região então se juntaram e a iniciativa deu certo: um lado da rua foi tombado e os prédios daquele lado, onde ficava o Bar Mignon, não foram derrubados. “E aí nós demos sorte, porque ficamos com o Bar Mignon, que faz 100 anos em novembro, e o Pote Chopp, que fez 60 anos agora”, cita ainda Luciano.

Testemunha de um Centro de outros tempos e origem do nome

Quando começou a funcionar, o Pote Chopp era um restaurante menor, que funcionava só na parte da Dr. Muricy. Com o tempo, porém, a clientela foi crescendo, bem como o estabelecimento, que hoje já conta com duas entradas (uma pela Rua José Loureiro e outra pela Dr. Muricy) e três salões, com capacidade para atender, ao mesmo tempo, até 250 pessoas sentadas.

“Sempre funcionamos como bar e restaurante. Mas na época o Centro de Curitiba era diferente. Aqui do lado funcionavam vários hotéis, como o Ouro Verde, Clímax, Presidente e Hotel Paraná. O Centro era o centro mesmo, tudo girava em torno daqui. Era onde tinham os cartórios, os escritórios de advocacia, os consultórios médicos, dentistas… Tudo era no Centro. Hoje em dia, Curitiba já tem 25 centros: é o centro do Boqueirão, do Uberaba, do Batel, do Água Verde, do Cabral, do Bacacheri… Curitiba expandiu muito, mas graças a Deus a nossa freguesia é fiel. Funcionamos bem ainda, graças a Deus!”, comemora Amatuzzi.

O nome Pote Chopp, por sua vez, surgiu a partir de uma ideia do pai de Luciano, Heitor Jr. “Antigamente tinha os bares de chopp, que eram tradicionais em Curitiba E no litoral. Aí o meu pai fez uma caneca de chopp e deu o nome de pote de chopp, o que acabou inspirando o nome do restaurante. Ainda temos as canecas aqui, inclusive, mas não servimos mais. Só que naquele tempo foi famoso, e graças a Deus estamos firmes até hoje.”

A hora do fim pode estar chegando?

Aos 65 anos, Luciano Amatuzzi conta que trabalha desde os nove anos de idade no Pote Chopp. “Comecei a ajudar aqui quando era criança, pequeno. Tem até uma foto minha de 1970, quando o Brasil foi tricampeão, e eu já estava trabalhando”, relata o hoje proprietário da casa, que toca o negócio junto com seu primo, Laércio. Seus filhos, no entanto, acabaram não se envolvendo no negócio, com um virando administrador, outra advogada e uma terceira, dentista.

“Eu não quis que meus filhos se envolvessem. Esse ramo de bar e restaurante é muito sacrificante, você não tem férias, não tem final de semana… Eu não queria isso pros meus filhos, queria que eles tivessem uma profissão melhor, mais controlada, mais independente. E aí cada um foi para o seu lado”, diz Luciano, citando que, talvez, algum neto possa dar sequência ao Pote Chopp depois dele. “Talvez algum dos meus netos queira continuar tocando o restaurante depois de mim. Senão, encerra por aqui mesmo. Se nenhum dos meus netos assumir, na hora que eu sair, encerra tudo mesmo.

Além da clientela, funcionários também são fiéis no Pote Chopp

Atualmente, 15 funcionários trabalham no Pote Chopp. O mais antigo deles é o Oscar, que já está na casa há 48 anos. Além deles, há ainda nomes como Alcimir, Severino e a Don Tânia, que já estão há 28 anos no restaurante. “Geralmente tem pouca rotatividade de funcionário. O pessoal que trabalha aqui é a maioria fixo e já estão acostumados com a casa, não querem sair. Tem alguns até que já se aposentaram, mas voltaram para trabalhar porque não querem ficar em casa”, explica Luciano.

Oscar Ricardo Koerbel é um desses casos. Ele começou a trabalhar no Pote Chopp em 1978, aos 28 anos de idade. Antes, trabalhou por nove anos no Bar Triângulo. E esses dois foram seus únicos empregos ao longo de toda a vida. “Aqui, não mudou nada, não tem diferença nenhuma. Continuamos com um movimento bom e tenho muitas amizades, muitos amigos. Isso já é uma grande coisa, né? Eles vêm aqui me prestigiar e eu valorizo muito isso”, comemora o garçom, que já está aposentado há 15 anos, mas segue na ativa.

“Enquanto tiver pique para trabalhar, vamos trabalhar! Não dá para parar, né?! Se for para ficar em casa, o homem lá em cima já chama, diz que a gente está perturbando na Terra. Então eu continuo trabalhando todos os dias, de segunda a sábado. Começo às 10 horas da manhã e saio 16h30, 17 horas.”