Upcycling une exclusividade e sustentabilidade em Curitiba

A tendência de reutilizar recursos da moda cresce na capital paranaense

Redação Bem Paraná
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Peças que poderiam ser descartadas ganham vida nova (Alana Morzelli)

Sabe aquela jaqueta antiga que foi para o lixo ou o brinco sem par guardado em casa? Esses objetos podem se transformar em algo completamente novo a partir de uma prática que vem ganhando destaque no mundo da moda em Curitiba: o Upcycling.

Segundo Gustavo Becquer, dono do ateliê Labecqueer, o movimento consiste em enxergar potencial onde muitos veem apenas descarte. Ele explica que “Upcycling é quando você vê uma peça e enxerga um potencial maior do que ela já tem. Quando você vê possibilidades, às vezes até em algo que não seja necessariamente tecido, pode ser em materiais que não têm a ver com têxteis, coisas que não dá para costurar na máquina”, diz.​

A proposta do ateliê é unir o reaproveitamento de tecidos à criação de peças exclusivas e cheias de personalidade. As criações variam de saias e calças a bolsas e acessórios, como chapéus e cintos.

De acordo com Becquer, sua inspiração vem também da moda punk. “Nos anos 80, a gente falava muito sobre o movimento punk, que era justamente de pessoas que não tinham condição financeira de comprar roupas novas. Então elas customizavam as roupas com o que tinham, e isso foi se mantendo”, lembra Becquer.​

Mas o upcycling não se limita apenas às roupas. O ateliê de joias renovadas Relumbre, de Giovana Gutseit, aposta em acessórios reaproveitados de brechós ou criados a partir de peças danificadas. Para ela, a ideia é não deixar o material parado.

“A Relumbre surge para resgatar isso, de você ter peças que possam ser passadas para as próximas gerações”, conta Giovana. Além dos acessórios tradicionais, como brincos e aneis, Gutseit também restaura colares, pulseiras, óculos e tudo o que puder ser renovado e voltar para o uso. “Tudo o que está ao nosso alcance de restaurar, nós fazemos, e também tem coisas que eu não consigo restaurar aqui no ateliê”, explica.​

Além da paixão por criar e renovar peças, os dois ateliês compartilham uma opinião importante: a aceitação em Curitiba. A capital paranaense já é vista como um polo da moda no Brasil, com eventos como o Fashion Revolution Brasil e o Boqueirão Fashion Day, que promovem a democratização do acesso à moda.

Mas não só a alta costura agrada os curitibanos, a moda sustentável tem grande público na cidade, principalmente no consumo de peças de segunda mão, como os brechós que dominaram a Rua Riachuelo e com a cultura de peças inéditas a partir da segunda mão.​

A aceitação foi tão grande que Curitiba ganhou um espaço dedicado a brechós com curadoria e ateliês de upcycling, o C.alma, localizado ao lado do Cine Passeio, na Rua Riachuelo.

Uma das idealizadoras do espaço, Isadora Pereira, explica que o espaço físico com peças a mostra impactam positivamente o consumo na cidade “a ideia é justamente essa, é mostrar que é uma moda acessível, uma moda para todos os públicos, que que brechó não é só roupa de gente morta.”

Peças de vestuário do ateliê Labecqueer (Luisa Manardes)

Desafios do Upcycling no Brasil
Mesmo sendo promissor, o upcycling ainda enfrenta barreiras. Entre elas estão o desconhecimento do conceito — especialmente por ser um termo em inglês — e o preço mais elevado das peças, em comparação aos produtos oferecidos em grandes redes de departamento.

Segundo a pesquisa de Thalia Wu Teng, para o curso de Economia da UFPR, a moda sustentável no Brasil enfrenta três grandes desafios:

Falta de justiça social: o acesso à moda sustentável ainda é limitado a públicos com maior poder aquisitivo.

Preservação ambiental: embora a proposta do upcycling seja reduzir o impacto ambiental, a prática isolada não é suficiente para mudar o panorama da indústria da moda como um todo.

Viabilidade econômica: muitos ateliês e marcas sustentáveis ainda lutam para se manter financeiramente. Produzir peças únicas, trabalhar com materiais reaproveitados e manter processos éticos de produção elevam os custos, enquanto o público disposto a pagar por isso ainda é pequeno.

Esses desafios mostram que, apesar de todo o potencial do upcycling para transformar o mercado da moda, o caminho para sua popularização ainda exige mudanças culturais, políticas e econômicas mais profundas.

Giovana Gutseit, dona do ateliê Relumbre (Alana Morzelli)

Moda Sustentável
De acordo com uma pesquisa do Statista, o setor de vestuário movimentou globalmente 1,53 trilhão de dólares em 2022. Apesar do crescimento do consumo consciente, a indústria da moda ainda enfrenta desafios no que diz respeito à sustentabilidade.

O Pulse of the Fashion Industry Report, publicado em 2017 pela Global Fashion Agenda em parceria com a The Boston Consulting Group, aponta que a moda é responsável anualmente pelo consumo de 79 bilhões de metros cúbicos de água, pela emissão de 1,7 bilhão de toneladas de gás carbônico e pela geração de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis.

Diferente do modelo convencional de produção, o Upcycling integra o conceito de moda com caráter sustentável. Em contramão à cultura do consumismo e do fast fashion — modelo que prioriza a produção rápida e barata de roupas para atender tendências —, a moda circular busca reduzir o volume de resíduos descartados no meio ambiente e conscientizar os consumidores sobre os impactos do consumo exagerado, especialmente impulsionado pelas redes sociais.

Segundo o professor de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná, Junior Garcia, a moda sustentável precisa estar atrelada a um novo padrão de comportamento de compra. “A moda circular promove uma redução dos resíduos e do uso de recursos naturais, se relacionando diretamente com a economia ecológica, na medida em que critérios ambientais e sociais são incorporados aos processos de decisão”, explica.

Alana Morzelli, sob supervisão de Josianne Ritz