No principal fato político da disputa para o governo do Estado desde a eleição de domingo, o prefeito de Curitiba, Beto Richa anunciou ontem oficialmente seu engajamento na candidatura do candidato de oposição, senador Osmar Dias (PDT) no segundo turno das eleições do Paraná. O principal motivo que pesou para a decisão do tucano – considerado hoje a mais importante liderança do partido no Estado – foi fortalecer a candidatura tucana de Geraldo Alckmin à Presidência da República no Paraná e retribuir o apoio que Osmar e seu grupo lhe deu na eleição municipal de 2004.
O anúncio caiu como um “balde de água fria” na campanha do governador licenciado e candidato à reeleição, Roberto Requião (PMDB), que tentou à todo custo convencer o prefeito a manter a neutralidade para evitar que o tucano transferisse a popularidade que tem na Capital a Osmar. O reforço do prefeito – que coordenou a campanha de Alckmin no Estado levando o tucano à uma vitória folgada sobre o presidente Lula no Paraná – é considerado decisivo para o candidato de oposição no segundo turno da disputa para o governo.
Além de reforçar a campanha de oposição, o prefeito acabou desfalcando a campanha de Requião. O vice-prefeito Luciano Ducci, que esteve na campanha peemedebista no primeiro turno, resolveu se desligar para evitar qualquer atrito e se dedicar apenas a candidatura de Alckmin.
Beto Richa acredita que terá como desafio a reunificação do partido após a eleição de 29 de outubro. No primeiro turno, sete deputados estaduais aderiram a candidatura de Requião, inclusive o governador em exercício e presidente da Assembléia Legislativa Hermas Brandão. Do outro lado, com Osmar, estiveram dois deputados estaduais, entre eles o presidente do PSDB do Paraná, Valdir Rossoni, e toda a bancada federal do partido, além da maior parte dos vereadores tucanos da Capital.
Sobre possibilidade de disputar a eleição de 2.010 para o governo, Richa foi bem claro. Primeiro quer terminar o mandato e concorrer a reeleição para a prefeitura. Depois, se achar que cumpriu sua obrigação comandando o Palácio 29 de Março e a população concordar, aí sim ele irá analisar o momento político.
Cobranças — Eu estava incomodado. Nas ruas, pessoas ficavam me cobrando uma postura. Tanto em Curitiba como no interior. Agora estou de alma lavada. Vou ter um sono tranqüilo por ter feito a escolha certa – de fazer a melhor opção para Curitiba e para o Paraná.
Consultas — Conversei com vereadores, prefeitos, políticos de outras legendas, com o candidato Geraldo Alckmin, com o presidente da Executiva Nacional, Tasso Jereisati, e o coordenador da campanha tucana, Sérgio Guerra. Chegamos a um consenso do que seria melhor para o Paraná.
Motivos — Pela verticalização das alianças, o PSDB ficou impedido de declarar apoio ao Osmar Dias no primeiro turno. Ele tinha um candidato à Presidência da República e nós outro. Agora a maioria tucana irá entrar de corpo e alma na campanha estadual. Outra razão foi para atrair apoios importantes ao Geraldo Alckmin. O resultado das urnas mostrou que minha estratégia estava certa. O Alckmin obteve uma extraordinária votação no Paraná.
Decisão — A relação de amizade e ideológica foram motivos fortes para tomar essa atitude de aderir a campanha de Osmar Dias. Minha atitude pode ser chamada de coerência política. Digo sempre: na política quando você age com coerência até os adversários lhe respeitam.
Comunicado — Eu conversei com o Hermas Brandão que iria apoiar o Osmar Dias. Ele deu uma demonstração de respeito aceitando minha decisão. Também conversei com o governador licenciado Roberto Requião, que compreendeu meus argumentos. A posição foi uma questão partidária. Por isso nem conversei sobre a parceria que Curitiba tem com o governo Estadual. Porque essa parceria nunca foi condicionada a retribuições. Foi feita visando o melhor para a cidade e para o Estado.
Camisa — Quero dizer que estou a disposição do Osmar Dias para trabalhar a seu lado e levar a mensagem dele, não apenas para Curitiba, mas para todas as regiões do Estado do Paraná. Serei um soldado. Conversarei agora com o Osmar para saber o que poderei fazer para cumprir a minha missão para a vitória.
Crescimento — O PSDB, sob a gestão do deputado Valdir Rossoni, cresceu muito no Paraná. Fizemos o deputado federal mais votado nesta eleição, Gustavo Fruet. Reelegemos o senador Alvaro Dias. Fizemos mais de 100 mil votos na legenda para deputado federal e quase 60 mil para deputado estadual. O partido já vinha sendo cobrado.
Dissidência — Passada a eleição quero reaglutinar essas lideranças do partido. Conto com a ajuda de todos os membros do PSDB e do presidente estadual Valdir Rossoni para trazer de volta todos os companheiros. Não tenho dúvida que todos retornarão. Minha relação com o Hermas Brandão é das melhores. Uma relação de confiança e respeito. Ele compreendeu que minha posição foi o caminho natural. Tomei essa posição com muita consciência.
Investimentos — Os investimentos e os convênios (entre o Estado e o município) não serão cancelados pela minha posição neste segundo turno em favor de Osmar Dias. O governador licenciado não vai deixar que divergências políticas predominem sobre o direito público. Conseguimos recursos importantes para investimentos, pavimentação asfáltica para Saúde, a fundo perdido. Essa parceria sólida para Curitiba vai continuar. Acredito que ele não irá romper essa parceria e que cumpra todos os contratos assinados. Porque ele sabe separar o político Beto Richa do Beto Richa político. O governo não vai prejudicar o povo de Curitiba por causa de uma posição do prefeito que já era esperada por todos.
Estratégia nacional — No primeiro turno conseguimos reverter a vantagem inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Paraná. As urnas mostraram que ele cresceu muito em apenas um mês. No domingo conseguimos cerca de 16% de vantagem no Paraná e 8% em Curitiba. Agora neste segundo turno vamos agregar o apoio de vários setores da sociedade paranaense que não estiveram conosco. A população vai enxergar a diferença entre os candidatos, vai conhecer os escândalos que estouraram nos últimos tempos, como o mensalão e o sanguessuga. Precisamos dar um basta a tudo, elegendo o Geraldo Alckmin presidente do Brasil.
Licença — No primeiro turno eu falei que jamais deixaria a campanha prejudicar o bom andamento da máquina administrativa. Cheguei a fazer uma circular, manifestando que nenhuma atividade política poderia atrapalhar. Mas se for necessário que eu me licencie para atuar com mais afinco na campanha do Geraldo Alckmin e do Osmar Dias, eu o farei.
Lula — Não estou preocupado se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vá ficar sem palanque no Paraná. Estou preocupado apenas com o nosso candidato, Geraldo Alckmin. Vou trabalhar para que o Lula tenha poucos votos no Estado do Paraná.
Futuro — 2010 está muito longe. Eu não tenho planos para disputar o governo do Estado na próxima eleição. Nunca fiz política por obsessão doentia. Política eu aprendi a fazer dentro da minha casa, com meu pai e sem atropelo. Hoje sou prefeito de Curitiba. As minhas energias estão concentradas para corresponder as expectativas do povo de Curitiba. Se a população no futuro achar que cumpri as obrigações e me convocar, aí irei analisar uma candidatura na majoritária. Não sou um candidato de si próprio. O candidato de si próprio está fadado a derrota. Antes de tudo, tenho que avaliar se concorrerei a reeleição em 2008. 2010 está muito distante.