Campanha de Maia não deu ‘tiro de canhão em passarinho’, diz estrategista

Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em sua empreitada de tentar chegar pela terceira vez consecutiva à presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) contou com uma ajuda ilustre: o publicitário baiano Fernando Barros desenhou a estratégia do favorito na disputa. 


Nesta quinta-feira (31), ele definiu a tática à Folha de S.Paulo: “se tiver que dizer qual é o traço da campanha dele, seria discrição”.


Ele explica porque o presidente da Casa tem fugido de aparições públicas e evitado dar entrevistas à imprensa o período pré-eleitoral que termina nesta sexta-feira (1º) quando a Câmara elegerá sua nova Mesa Diretora.


“Você tem um público que você quer atingir, que são os 500 e poucos deputados, e eles não são necessariamente guiados pelas mídias de massa, é você dar tiro de canhão em passarinho”, explica ele. 


De acordo com o publicitário, a estratégia de uma eleição interna é muito diferente das campanhas externas. Neste ano, ele trabalhou nas campanhas de Paulo Câmara (PSB-PE) e Ratinho Jr (PSD), elegendo ambos. 


“Quanto mais barulho ele fizesse, mais oposição ele atrairia”, afirma. “Usou muito pouca coisa de redes sociais, porque é melhor você cuidar de cada deputado, isso é muito importante.”


No caso de Maia, diz ajudar por ter uma amizade antiga com o parlamentar. Em 2018, foi o marqueteiro de seu pai, César Maia (DEM-RJ), que perdeu a vaga do Senado em uma virada surpreendente de Arolde de Oliveira (PSD). 


Barros é ligado ao DEM e, principalmente, ao grupo político de ACM (e agora ACM Neto) há décadas. Em 1990, por exemplo, ajudou histórico cacique a se eleger governador da Bahia no primeiro turno.


Para a eleição da Câmara, aconselhou Maia a receber todos os parlamentares individualmente, principalmente os calouros. Com renovação recorde, a Câmara elegeu 243 novatos, que nunca antes ocuparam mandatos em no Congresso. 


“Os novos precisam se sentir respeitados, apoiados e reconhecidos. Ninguém foi tratado como calouro”, diz. 


Nesta quinta, em discurso durante evento para novos parlamentares, o presidente da Câmara mostrou essa linha de pensamento. “A maioria dos presentes aqui, não todos, já teve a oportunidade de estar comigo, e toda vez que eu falo sobre aquilo que eu acredito, da importância da agenda de reformas, da importância de o Brasil voltar a crescer, eu sempre quando termino eu passo o meu celular para cada um dos deputados”, disse ele


A ideia é se mostrar aberto e acessível aos parlamentares. Além do tête-à-tête, Maia articulou, é claro, com as direções partidárias. 


Chega favorito na disputa desta sexta por ter conseguido aglomerar em torno de si todo o centrão, distribuindo cargos na Mesa Diretora para partidos como PP, PSD e PR, o PSL e do presidente Jair Bolsonaro, e setores da esquerda como PDT e PC do B. 


Os apoios formais, porém, não significam que os deputados destas legendas votarão no candidato -e Maia, em seu sexto mandato, sabe disso. Por isso as conversas no varejo, inclusive com siglas que não fecharam apoio público a ele. 


No PT, por exemplo, diz-se à boca miúda que boa parte da bancada, que faz parte do bloco de oposição com PSOL, PSB e Rede, deve optar pelo atual presidente. 


Já no PP Maia enfrenta o problema oposto. Com setores do partido insatisfeitos, parte dos votos da bancada deve ir para o candidato avulso da sigla, Ricardo Barros (PP-PR), que tem tomado posição de enfrentamento ao Ministério Público e ao Judiciário, tema caro a muitos parlamentares –principalmente os enrolados com a Justiça. 


Barros, porém, se diz confiante da confirmação da vitória de Maia ainda no primeiro turno. 


“É o que se espera. Surpresas em eleições podem até existir, mas no Congresso é um campo muito preciso, não é um lugar onde as pessoas ficam na indiferença, não sabem em quem votar até a última hora. Não há indecisos ali não”, afirma.