Quando a família de João Carlos Rodrigues se mudou da pequena Guamiranga (região Central) para Curitiba, em 1978, ele tinha apenas dois anos de idade, a rua Trindade do Bairro Cajuru onde eles foram morar não era nem uma rua propriamente dita, mas um “carreiro”. Com apenas dez anos, ele já trabalhava ao lado da irmã, então com 14 anos, no balcão do bar/mercearia aberto pela família no bairro. E foi a partir do pequeno negócio, que com o tempo foi crescendo, que ele ganhou o apelido que ostentou nas urnas e o levou a ser eleito vereador da Capital paranaense: João da Loja 5 Irmãos.
Aos 44 anos, casado, pai de três filhos, o vereador eleito conta que foi a influência da família – que sempre gostou de ajudar os que mais precisavam – que o levou a se envolver em ações comunitárias. Dessas ações veio a vontade de se envolver na política. Depois de duas candidaturas que só não emplacaram por poucos votos, em 2008 e 2012, desta vez ele resolveu profissionalizar a campanha. A estratégia deu certo, e ele recebeu 4.423 eleitores.
Por conhecer bem de perto a realidade das periferias de Curitiba, sua principal bandeira é levar esporte, educação e oportunidades aos jovens e adultos moradores dos bairros mais carentes da cidade. Em entrevista ao Bem Paraná, o vereador eleito conta um pouco dessa história e explica ainda que pretende se manter independente em relação à gestão Rafael Greca na Câmara Municipal.
Bem Paraná – Onde o senhor nasceu? Qual a sua formação?
João da Loja 5 irmãos – Nasci em Curitiba. Nasci aqui por conta de saúde de minha mãe. Fiquei uns dois meses porque era uma gravidez de risco. Voltamos em 1978 em definitivo para Curitiba. Minha família morava em Guamiranga. Vim para cá quando tinha dois anos. Sou formado em Ciências Contábeis pela PUC/PR. Quando nós viemos para cá minha mãe, primeiramente, trabalhou de servente no Hospital do Cajuru, e meu pai trabalhou na fábrica da Coca-Cola. Viemos morar no Cajuru, na rua da Trindade, não tinha nem rua na verdade. Meus pais começaram a atuar no comércio em 1986. Comecei a trabalhar com dez anos. Eu e minha irmã, Marilda, de 14 anos na época. Com a tutela e coordenação do meu pai e da minha mãe. Nós ficamos trabalhando seis meses em um bar e mercearia que a gente abriu aqui. Foi indo, dando certo, eles fizeram os acertos em suas empresas. E daí saíram e com seus acertos a gente investiu no negócio para ir crescendo.
BP – Como o senhor se envolveu na política?
João da Loja 5 irmãos – Comecei na faculdade, em 2001, no diretório do PSC. Eu participava do diretório jovem e depois que eu me formei, a gente começou uma luta comunitária, associação de moradores, promovendo esportes, artes-marciais, futebol, skate. Sempre gostei muito de esportes. Além de gostar a gente promovia eventos, paralelamente à minha atividade de comerciante, eu participava de reuniões de conselho de segurança, saúde, audiências públicas da prefeitura. Participo até hoje. Sou vice-presidente da associação comercial e industrial da região. Minha mãe, meu pai sempre teve essa veia de ajudar, amor ao próximo. Tem uma história legal, uma coisa que me marcou muito, a gente tinha um carrinho velho, um fusca e foram levar uma pessoa no hospital que estava precisando. Ela falou: “o que adianta a gente ter alguma coisa, Deus abençoar a gente, e a gente não poder ajudar os outros”. Isso foi me marcando. Meus irmãos também. A família tem isso. Passado dos meus pais. E daí a gente foi se envolvendo, depois lá para frente veio o convite de disputar um cargo público.
PRIORIDADES
‘Educação é o que faz a cultura avançar’
Bem Paraná – O senhor já tinha disputado eleições?
João da Loja 5 irmãos – Sim. Essa foi a terceira. Dessa vez a gente se organizou mais. Em 2008, a primeira vez, eu fui convidado um pouco antes, não tinha experiência com política. O comerciante também é uma figura local. Conversa com muita gente. Saí por sair, para ver o que dá. Sem organização, sem assessoria. Faltou 200 e pouco votos. Fiz 2,3 mil votos. Daí me afastei e em 2008 fui convidado para fazer parte da gestão do prefeito (Beto Richa). Trabalhando como gestor na regional do Cajuru. Foi bom pelo aprendizado. Daí estava tudo se encaminhando para 2012 sair (candidato). Mas daí quando faltava mais ou menos um ano, eu conversei com a família, tinha outros negócios que eu estava tocando, deu um tempo. Em 2016, sai também muito em cima, sem muita organização. O cara que entrou, entrou com 3,6 mil votos. Ampliou 20% a minha votação. Continuava os projetos esportivos. Depois de 2016, já na outra semana eu falei: ‘agora vou fazer algo mais organizado’. Fizemos uma força política com lideranças locais, uns três candidatos acima de 1 mil votos, fizemos uma aliança. Daí fizemos esse trabalho e continuamos a fortalecer nossos projetos de esporte, ação social, engajando mais. Graças a Deus deu certo.
BP – Qual a principal bandeira do seu mandato?
João da Loja 5 Irmãos – Das principais bandeiras minhas é o esporte, algo que tenho trabalhado bastante. Sou um defensor da educação. É o que faz uma cultura avançar. A gente está cheio de exemplo, Europa, Japão, as crianças vão de manhã para a escola e voltam às 5 da tarde, no ensino fundamental. Eu sou criado na periferia. A Trindade era famosa, infelizmente. Agora está melhor. Muitos jovens se envolvem com drogas, perdem a vida. Quando mais projetos esportivos nessa área, na cultura, gera mais oportunidades para esses jovens para eles não serem perdidos pelo tráfico. A gente acredita nisso e vem trabalhando há mais de dez anos. Lá na Vila Torres, por exemplo, a gente tem um projeto há cinco anos que eu sou parceiro. Já está dando frutos, já tem uns quatro, cinco atletas que estão em bom nível, que pode futuramente viver disso. E também sendo espelho para as outras crianças da comunidade. No futebol, também a gente tem um projeto “Recomeçar”, que além de fazer a parte esportiva, leva psicólogos, pessoal da igreja, faz um trabalho social com as pessoas. A realidade que a gente vê ali às vezes, pai preso, mãe dependente, às vezes o vô, a vó, a tia cria. Minha ideia de mandato é isso, justiça social, gerar oportunidades. Sobretudo em locais que mais precisam. Em Curitiba, a gente tem muitos bolsões de pobreza. Região do Cajuru, Uberaba. Até aquela época que teve aquela chacina no Uberaba. Está evoluindo, mas ainda há muito o que se fazer. E também aqui na região do Cajuru, nós temos 16 escolas municipais. Dessas, 13 são normais, e três integrais. Porque não lutar por mais escolas integrais? Acho que uma das minhas bandeiras seria essa.
CÂMARA
‘Vou ser independente’
BP – Como o senhor pretende se posicionar em relação à gestão do prefeito Rafael Greca? Apoio, independência ou oposição?
João da Loja 5 Irmãos – Nosso partido tem conversado sobre isso. Possivelmente a gente vai ser independente. Nem oposição, nem base nesse momento. A gente acredita que dá para trabalhar nesse sentido de independência.
BP – Como o senhor está vendo a situação da pandemia em Curitiba, aumento de casos, o risco de uma segunda onda e a forma como a prefeitura está lidando com isso?
João da Loja 5 Irmãos – Eu vejo com preocupação. É o maior assunto do mundo. Não é só local. Da mesma forma que a gente tem a preocupação com a saúde, tem a questão econômica, social também. Eu acho que precisamos orientar a população, principalmente o Executivo. Ser coerente nesse aspecto de conseguir atender primeiramente a saúde. Informar mais as pessoas. A questão do isolamento social, aglomerações, ser um pouco mais rigoroso nesse controle de aglomerações, sobretudo coisas que não sejam essenciais, baladas. A questão dos ônibus também acho que tem que ter um controle maior. É muita desinformação. Nem os especialistas sabem direito o que estão falando, imagine os leigos. Quando tem muita desinformação, a cautela é importante. Uso de máscaras, álcool gel. Tem que ter mais campanhas de orientação.
BP – O senhor já tem algum projeto específico para o início do mandato?
João da Loja 5 Irmãos – A gente tem pensado na questão da educação integral. Também de cursos profissionalizantes. Levar mais qualificação para jovens e adultos. A gente até tem parcerias com algumas escolas, só como lideranças comunitárias. Consegui alguns projetos no sentido de estar usando o espaço público da melhor maneira possível. As escolas são espaços grandes que podem ser usadas da melhor forma. Como o projeto “Comunidade Escola”. Para gerar oportunidades e a questão do esporte. Por exemplo, nós fizemos uma parceria com o CIEE no ano passado, trouxemos um curso de administração, de como se comunicar, se portar em uma entrevista de emprego. Muita gente também quer ajudar, mas não sabe como. Criar mais engajamento social nesse sentido.