RIO DE JANEIRO, RJ – Graça Foster, 61, que renunciou Ă  presidĂªncia da Petrobras nesta quarta-feira (4), foi a primeira mulher a dirigir a companhia. Ela estagiou em outras empresas e trabalhou na extinta NuclebrĂ¡s antes de entrar definitivamente na Petrobras em 1981. No inĂ­cio dos anos 2000, como gerente da Transportadora Brasileira Gasoduto BolĂ­via-Brasil (Gasbol), controlada pela Petrobras, conheceu Dilma Rousseff. A entĂ£o secretĂ¡ria de Energia do Rio Grande do Sul pediu um ramal adicional de um gasoduto para o sul do Estado. Ouviu um “nĂ£o”. Em 2003, quando assumiu o MinistĂ©rio de Minas e Energia, Dilma levou Graça para tocar o dia a dia da pasta. Em 2006, assumiu a presidĂªncia da BR Distribuidora, onde ficou atĂ© 2007. Simplificou a estrutura organizacional, ampliou o foco na comercializaĂ§Ă£o de combustĂ­veis e o lucro subiu 46%. Assumiu a diretoria de GĂ¡s e Energia, substituindo Ildo Sauer, um raro crĂ­tico. Aumentou a rede de gasodutos, para atingir mais mercados. O prejuĂ­zo de R$ 1,3 bilhĂ£o em 2007, da gestĂ£o de Sauer, foi reduzido para R$ 315 milhões em 2008 e em 2009 revertido para um lucro de R$ 703 milhões, que continuou crescendo atĂ© 2011, chegando a R$ 3,1 bilhões. Para ele, o trunfo de Graça Ă© seguir os passos da amiga Dilma, “tratando bem os de cima e mal os subordinados”. Para chegar ao topo da maior empresa do Brasil, Graça, como gosta de ser chamada, fez uma trajetĂ³ria sob a marca da rigidez. HETERODOXA Decisões heterodoxas auxiliaram os Ăªxitos da gestĂ£o. Para acelerar a conclusĂ£o de um gasoduto, decidiu enterrar o equipamento que fez a perfuraĂ§Ă£o dos tĂºneis em vez de desmontĂ¡-lo, o que atrasaria a obra em 104 dias. O enterro da Anita, como a mĂ¡quina era chamada por Graça, acelerou a obra e cumpriu os prazos estabelecidos. Primeira mulher a comandar uma petroleira, estar quase solitĂ¡ria entre homens nĂ£o Ă© novidade para Graça. Formou-se engenheira quĂ­mica em 1978, na UFF (Universidade Federal Fluminense), em NiterĂ³i, com 42 homens e somente outras sete mulheres. Incentivada pelo professor Egil Wagner Monteiro, Graça entrou na Petrobras como estagiĂ¡ria nesse mesmo ano: “Era uma aluna brilhante e foi uma estagiĂ¡ria brilhante. Sempre foi competente e estudiosa, muito dedicada”. Sempre cultivou medidas heterodoxas. Quando se queixava de que o marido, Cleber, nĂ£o lhe dava atenĂ§Ă£o, dizia jogar sal no suco dele, ou passar batom no rosto para que ele a notasse, conta a amiga da faculdade Ana Regina Gravinho. “Ela era muito engraçada, educada e simpĂ¡tica.” Graça ainda estudava quando teve a primeira filha, o que atrasou sua formatura em um ano. “Tinha que fazer prova correndo porque FlĂ¡via estava no corredor, correndo de um lado para o outro”, disse Graça em rara entrevista sobre a vida pessoal, Ă  “Prata da Casa”, publicaĂ§Ă£o sobre ex-alunos da UFF. A mĂ©dica FlĂ¡via, 36, lhe deu a Ăºnica neta, Priscilla, 16. Com o empresĂ¡rio Colin Foster, atual marido, tem outro filho, o jornalista Colin, 29. Mineira de Caratinga, Graça nasceu em 1953. Aos dois anos, foi para o Rio. Viveu no morro do Adeus (zona norte), disse em entrevistas. No Complexo do AlemĂ£o, nĂ£o hĂ¡ memĂ³ria de sua passagem. Em conversa com um assessor de ministro, no ano passado, contou que a mĂ£e, Terezinha Pena Silva, era “paupĂ©rrima” e que vendia “umas coisas” para ajudĂ¡-la no sustento da casa. Diz-se que foi catadora de papel. Na juventude, viveu na Ilha do Governador (zona norte do Rio), onde moram a mĂ£e, a irmĂ£ Rita e o sobrinho Diogo. No ginĂ¡sio, fez teatro e dividiu palco com o ator Miguel Falabella. Gracinha, como era chamada, costumava ser a atriz principal. “FazĂ­amos [peças] com textos escritos pelo grupo. Ela era uma boa atriz. Tinha boa presença de palco, boa presença cĂªnica”, diz Eduardo Falabella, irmĂ£o de Miguel e colega de turma na adolescĂªncia. Segundo ele, hoje pesquisador do Cenpes (centro de pesquisa da Petrobras), Graça participava de festivais de mĂºsica, gostava de praia, festas e de namorar. “DILMINHA” A executiva filiou-se ao PT em 2008. Participou de eventos em apoio a Dilma na campanha de 2010. Segundo a filha FlĂ¡via publicou no Twitter, chama a presidente de “Dilminha” entre familiares. Ao receber a medalha Tiradentes na Assembleia do Rio, em 2009, o discurso da neta, Priscilla, a emocionou, quando disse considerar a avĂ³ seu “maior exemplo”. Graça deixa claro que a “vida particular se adapta Ă  Petrobras”, como disse Ă  “Prata da Casa”. Chega Ă s 7h30 ao trabalho, sem hora para sair. De estagiĂ¡ria a presidente, Graça definiu Ă  publicaĂ§Ă£o da UFF a sua trajetĂ³ria: “Eu poderia dizer que [entrar na Petrobras] foi um sonho, mas, na verdade, foi um acerto”.