Em debate sobre o uso de inteligĂªncia artificial (IA) no sistema judiciĂ¡rio brasileiro, o ministro do

Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux criticou neste sĂ¡bado, 6, uma eventual sobrecarga da Suprema

Corte do PaĂ­s. “Tudo hoje se empurra para o Supremo Tribunal Federal. ‘Ah, o processo… Quando Ă© que

o processo vai para o Supremo?’ O pessoal pergunta quando vai, nĂ£o quando volta. NĂ³s somos 11

ministros, fazemos as vezes de 20 mil magistrados”, afirmou Fux, na 10ª ediĂ§Ă£o do Brasil Conference,

em Boston, nos Estados Unidos.

Fux participou de uma mesa ao lado do procurador-geral da RepĂºblica, Paulo Gonet, do advogado-geral da

UniĂ£o, Jorge Messias, e da conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Renata Gil.

O ministro do STF tambĂ©m afirmou que o Brasil precisa efetivamente de uma “grande regulaĂ§Ă£o” da IA. “A

inteligĂªncia artificial Ă© muito mais inteligente que a inteligĂªncia humana”, disse o magistrado.

Antes da fala de Fux, Jorge Messias, da AGU, destacou a necessidade de se enfrentar questões bĂ¡sicas

de aplicaĂ§Ă£o Ă©tica ao se avançar com o uso da inteligĂªncia artificial no judiciĂ¡rio do PaĂ­s. “Temos,

sim, questões Ă©ticas que precisam ser debatidas. Em que medida essa vigilĂ¢ncia intrusiva, esse excesso

de automaĂ§Ă£o, ele nĂ£o levarĂ¡ a uma reproduĂ§Ă£o de padrões de injustiças, que sĂ£o padrões histĂ³ricos da

sociedade brasileira ainda mantĂ©m”, afirmou o advogado-geral da UniĂ£o.

“Eu tenho uma aversĂ£o Ă  possibilidade que a inteligĂªncia artificial seja preditiva no sentido de

definir o Estado de Direito, liberdade e a vida das pessoas. Por outro lado, também entendo que

devemos voltar os olhos para essa novidade”, disse Fuz. “Imagina uma inteligĂªncia artificial

alimentada por vieses discriminatĂ³rios e que nĂ£o obedecem direitos fundamentais”, acrescentou.

Para Renata Gil, o nosso desafio, dentro desse contexto, Ă© saber usar essas ferramentas. “SubstituiĂ§Ă£o

ao ser humano nunca vai acontecer. E [sobre a] preocupaĂ§Ă£o com as discriminações, o ser humano atua

com preconceitos tambĂ©m quando ele julga. EntĂ£o a mĂ¡quina e o ser humano tem os mesmos problemas”,

afirmou. Ela acrescentou que a inteligĂªncia artificial poderĂ¡ atuar efetivamente no combate Ă 

violĂªncia contra a mulher.

ApĂ³s o evento, o PGR Paulo Gonet afirmou que a inteligĂªncia artificial vai ajudar em pesquisas e busca

por evidĂªncias. “O caso Marielle, por exemplo, Ă© muito interessante. Os executores foram descobertos a

partir da combinaĂ§Ă£o de elementos de dados. A triangulaĂ§Ă£o de antenas de internet permitia saber, com

base na hora do evento e o lugar, quem tinha circulado naquela Ă¡rea naquele momento foi possĂ­vel para

reduzir o Ă¢mbito dos suspeitos”, relatou.

“Essa combinaĂ§Ă£o de dados afunilou o campo dos suspeitos. Para a busca da verdade, de fatos, Ă©

importante a inteligĂªncia artificial. Mas no momento do julgamento de quem participou dos fatos Ă©

importante que tenha o fator humano, que Ă© insubstituĂ­vel”, acrescentou Gonet.