gleisi hoffmann processo contra ricardo arruda
Gleisi Hoffmann Foto: Divulgação

Em reunião com líderes do governo Lula (PT) no Congresso, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) reconheceu falhas na articulação política do governo, mas também cobrou aliados em relação à derrota na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) proposta para investigar o escândalo de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Leia mais


Nesta quarta-feira (20), em uma reviravolta, a oposição conseguiu emplacar um candidato próprio e derrotar o senador Omar Aziz (PSD-AM), que presidiu a CPI da Covid, em 2021, e havia sido indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Com a escolha decidida no voto, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) foi eleito presidente por 17 votos a 14.

Viana indicou o deputado federal bolsonarista Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) para a relatoria. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-TO), havia escolhido Ricardo Ayres (Republicanos-TO), seu colega de partido.


Após a derrota, Gleisi convocou uma reunião de emergência. Participaram o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, e os deputados José Guimarães (PT-CE) e Rogério Correia (PT-MG).
No encontro, Randolfe assumiu a responsabilidade e disse que o erro foi da liderança. Gleisi, então, afirmou que houve erro também por parte da Secretaria de Relações Institucionais. A ministra considerou a falha grave e ressaltou que isso não deve se repetir.


Foram levantados três casos de deputados ausentes, o que permitiu que suplentes da oposição virassem o jogo -Mário Heringer (PDT-MG), Romero Rodrigues (Podemos-PB) e Rafael Brito (MDB-AL). Além disso, a responsabilidade recaiu sobre uma articulação feita pelo presidente e líder do União Brasil, na noite de terça (19), com objetivo de aplicar a derrota ao governo.

Derrota na CPI do INSS; momentos tensos


Na reunião com Gleisi, houve um momento de constrangimento, já que o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), foi sutilmente cobrado por não ter avisado que Rafael Brito estava fora do país. O emedebista, por sua vez, afirmou que só foi avisado por Randolfe da necessidade de substituição quando a votação já estava em curso.


Segundo relatos, o encontro foi tenso, e Gleisi estava contrariada, mas a troca de justificativas entre Isnaldo e Randolfe não teve tom belicoso.


“Apesar do resultado que a oposição conseguiu hoje, por erros na mobilização de nossa base, vamos continuar trabalhando, corrigindo os erros, para que a CPMI não seja instrumentalizada para atender a interesses políticos”, disse a ministra à reportagem.

“É importante garantir que os trabalhos não interfiram nas investigações em curso nem no processo de ressarcimento dos aposentados, o que esse governo já está fazendo”, completou. Após a reunião, Lindbergh admitiu que houve erro de articulação do governo e disse que Gleisi fez uma cobrança.


“O governo, é claro, fez a cobrança. Todo mundo tem que estar mais ligado. Os líderes têm que estar mais ligados. Tem que ter uma articulação mais forte entre Senado e Câmara”, afirmou.
“Houve alguma subestimação. A base do governo foi surpreendida porque tinha que ter mobilizado mais. Isso é um fato. Teve problemas. Mas dá para montar uma maioria ali para construir os trabalhos com estabilidade, a gente tem que trabalhar para isso”, disse Lindbergh.


O líder petista disse ainda que há a preocupação de que a CPMI, nas mãos da oposição, “vire um circo” e sirva de palanque para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que será julgado no mês que vem pelo STF (Supremo Tribunal Federal) sob acusação de golpismo.


“Esse pessoal, se não tiver cuidado, eles desmoralizam a CPMI, nessa briga enlouquecida deles contra o governo. Daqui a pouco ela vai ser usada como moeda para tentar livrar o julgamento [de Bolsonaro].”
O líder do PT ainda afirmou que o governo “não tem nenhuma preocupação” com a investigação que será feita na CPMI, apontando que ela se originou na Controladoria-Geral da União e na Polícia Federal.


“Houve algum tipo de cochilo. Então é hora de olhar para frente, reorganizar o jogo. Nós não temos medo dessa CPI. Pelo contrário, a gente está abrindo toda a investigação e quer que as coisas sejam transparentes”, completou.


Lindbergh ainda criticou o critério do regimento do Senado, regra que permitiu que integrantes governistas da CPMI que faltaram à reunião desta quarta fossem substituídos por membros de oposição do PL, dado que os partidos integram o mesmo bloco.

Afronta aos presidentes da Câmara e do Senado


Nos bastidores, a eleição foi vista não só como uma falha na articulação do governo mas também como uma nova afronta da oposição à autoridade dos presidentes da Câmara e do Senado, que haviam acertado relator e presidente antes da instalação da CPMI, como é de praxe.