Os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Eduardo Leite (PSD-RS), do Rio Grande do Sul, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, optaram por ignorar ou minimizar os ataques feitos no fim de semana por bolsonaristas. Os ataques surgiram a partir de uma publicação do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL), filho de Jair Bolsonaro (PL), compartilhada por outro filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Os cinco governadores estão cotados na herança pelo espólio da direita em 2026. Eles evitaram entrar em embate público, apesar dos termos utilizados pelos integrantes do clã. Buscaram adotar um discurso de que se trata de momento delicado na família, que poderia resultar em excessos públicos.
Sem citar nomes, a postagem se referiu, de forma irônica, a “governadores democráticos” que “se comportam como ratos” com atitude oportunista. Depois, na noite de segunda-feira (18), Carlos fez uma nova publicação no mesmo tom e foi mais uma vez republicado por Eduardo.
“Por onde andam os “governadores democráticos” que pleiteiam a presidência opinando com muita prudência e sofisticação? O país está ACABANDO!!! Estou sendo muito radical eu sei, pois perguntar dá cadeia e desune a direita. Está tudo normal na democracia relativa brasileira”, escreveu.
Interlocutores de governadores estão vendo uma intensificação no discurso radicalizado dos filhos e não acreditam que haverá recuo por parte deles.
Zema
O único que se manifestou publicamente foi Zema – identificado por bolsonaristas como o gatilho para os ataques de Carlos. Ele lançou a candidatura no último sábado, num movimento visto como equivocado pelo momento.
O evento ocorreu um dia depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) ter marcado o julgamento da trama golpista, que pode condenar Bolsonaro a mais de 40 anos de cadeia.
“Nós à direita temos as mesmas propostas. Estamos lutando pelos mesmos objetivos. Então, fico até surpreso e compreendo. Me solidarizo com a família que vive um momento difícil. Continuamos caminhando juntos. Até marido e mulher discordam, então o que dizer de partidos políticos diferentes”, disse Zema, que no fim de semana lançou sua pré-candidatura à Presidência.
Tarcísio
Outro governador que tem sido alvo frequente dos filhos de Bolsonaro é Tarcísio, que manteve suas agendas com integrantes do empresariado.
Ele participou, no sábado (16), de um almoço oferecido a ele por Alexandre Bettamio, co-head of global investment banking do Bank of America, após uma semana em que já havia participado de três encontros com agentes do mercado financeiro, num gesto por vezes criticado por filhos de Bolsonaro.
Nesta segunda (18), ele participou de um fórum de infraestrutura, em que defendeu sua política de promoção de investimentos a partir de parcerias com o setor privado, além de confirmar presença em mais uma palestra para agentes do mercado e em um encontro com cristãos empreendedores promovido pela Igreja Batista da Lagoinha Alphaville –eventos que, no entender de bolsonaristas, têm caráter de preparação para sua campanha presidencial.
Tarcísio, contudo, afirma que será candidato à reeleição em São Paulo.
O governador decidiu, segundo interlocutores, que não faria nenhuma ação em resposta aos filhos de Bolsonaro. É estratégia de Tarcísio nunca responder a ataques do clã e manter uma relação direta apenas com o ex-presidente, que agora está em prisão domiciliar e de quem foi ministro da Infraestrutura.
Eduardo Leite
Também nesta segunda, ele teve uma reunião com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), que já se apresentou como pré-candidato ao Planalto. À Folha de S.Paulo, ele disse disse que há muitos pontos de convergência entre os dois, e que a conversa neste momento não é sobre candidaturas.
“Foi uma conversa muito boa. Temos muitos pontos de convergência nas agendas de nossos governos. Falamos sobre privatizações, concessões, bonificação por mérito a servidores públicos, programas sociais”, disse.
“Naturalmente, esses pontos em comum nos fazem conversar, também, sobre uma visão comum para o futuro do Brasil. Um diálogo centrado no projeto, não sobre candidaturas”, completou.
Interlocutores dos governadores dizem não ser conveniente se deixar pautar pelos filhos de Bolsonaro. Uma parte cogita haver um movimento inclusive para ajudar a própria campanha da família – Carlos deve se lançar pelo Senado em Santa Catarina.
Queixa
A principal queixa do filho do ex-presidente, de que os aliados não estariam se articulando para ajudar a aprovar o projeto da anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de Janeiro, é vista com ceticismo por grupos próximos dos governadores.
Eles dizem que nada que eles façam pode hoje reverter o cenário, de que o projeto, que também anistiaria Bolsonaro, não vai prosperar na Casa. O próprio presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que não há clima para aprovação da medida.
Apesar das críticas abertas no clã Bolsonaro, os governadores da direita seguem no movimento por uma espécie de frente unificada, ainda que haja mais de uma candidatura no campo.
Ao menos parte deles se encontrará nesta terça-feira (19) em um jantar promovido por Antonio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP), depois do ato que oficializará a federação dos dois partidos.
O jantar contará com a presença de governadores de centro-direita e presidentes de partidos de direita, como Marcos Pereira (Republicanos).