Haddad garante que há medidas possíveis de retaliação contra EUA sem impacto na inflação

Agência Brasil, editada por Lycio Vellozo Ribas
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Washington Costa/MF

O Brasil pode usar uma série de medidas de retaliação comercial contra os Estados Unidos que não provocam impacto na inflação. Ao menos é o que afirmou nesta quinta-feira (10) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele reiterou que a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril, estabelece ações não tarifárias e até algumas elevações de tarifas que não provocam o aumento de preços no país.

As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos impactam apenas os consumidores norte-americanos. No entanto, caso o Brasil retalie com uma sobretaxa semelhante, haveria, em tese, impactos sobre a inflação brasileira à medida que produtos norte-americanos ficariam até 50% mais caros.

“Ninguém está falando nisso [em medidas que gerem inflação], por enquanto. Há muitas medidas não tarifárias que podem ser pensadas. Há um rol enorme de medidas que estão sendo estudadas. Tem um grupo de trabalho, conforme eu disse”, afirmou Haddad. “Nós precisamos de um tempo [para decidir], mas há muitas medidas não tarifárias. Há medidas tarifárias que não impactam a inflação”.

Lei da reciprocidade

O ministro lembrou que a Lei de Reciprocidade Econômica foi aprovada com amplo apoio no Congresso, inclusive com votos da oposição. Haddad também lembrou que os canais diplomáticos entre o Brasil e os Estados Unidos continuam abertos.

“Vamos, obviamente, ter um grupo de trabalho para analisar a Lei da Reciprocidade, aprovada com larga margem pelo Congresso, inclusive com setores conservadores da sociedade que defendem a soberania nacional”, disse. “Enquanto isso, os canais diplomáticos sempre estarão abertos para buscar um entendimento e a superação desse impasse”, comentou.

Irracionalidade

Como fez em entrevista a um podcast na manhã desta quinta-feira, o ministro voltou a classificar de “irracional” a decisão do governo do presidente Donald Trump de taxar os produtos brasileiros em 50%.

“É uma tarifa que não se justifica sob nenhum ponto de vista, menos ainda do ponto de vista econômico. Os Estados Unidos tiveram um superávit junto ao Brasil, fora a América do Sul, junto ao Brasil nos últimos 15 anos, de mais de US$ 400 bilhões. Um superávit [para os Estados Unidos]. Então, quem poderia estar pensando em proteção era o Brasil. O Brasil não está pensando nisso”, afirmou Haddad.

Recurso na OMC

Ainda nesta quinta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à Record TV, que o governo federal vai abrir uma reclamação oficial à Organização Mundial do Comércio (OMC), para tentar reverter as tarifas de 50% sobre exportações de produtos comerciais aos Estados Unidos, anunciada ontem por Donald Trump. Caso não haja sucesso, no entanto, o país adotará retaliações proporcionais, garantiu o presidente brasileiro.

“Não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, reforçou o presidente.

A ideia de Lula é articular o recurso à OMC com outros países que também estão sendo taxados pelos EUA. “Dentro da OMC, você pode encontrar um grupo de países que foram taxados pelos EUA. Tem toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, vamos ter que fazer [de acordo com] a Lei da Reciprocidade”, acrescentou.