
Ex-ministro da Defesa durante o segundo mandato de Luiz InĂ¡cio Lula da Silva, Nelson Jobim afirmou nesta quinta-feira, 19, que apoia a permanĂªncia do atual ministro da pasta, JosĂ© MĂºcio, apĂ³s os atos golpistas de 8 de janeiro. Jobim argumentou que MĂºcio tem habilidade na interlocuĂ§Ă£o com as Forças Armadas e destacou a importĂ¢ncia de se nomear um civil para a chefia do ministĂ©rio apĂ³s o fim do governo Jair Bolsonaro, quando se fortaleceu um processo de militarizaĂ§Ă£o da Defesa.
“Temos hoje um homem competente na Defesa, que Ă© JosĂ© MĂºcio”, afirmou o ex-ministro. “Fernando Henrique Cardoso começou esse processo de entregar o comando (da Defesa) para um civil, e isso foi progressivo. O processo de militarizaĂ§Ă£o da Defesa começou primeiro com o ministro Aldo Rebelo, no governo Dilma, quando ele indicou o militar Silva e Luna para secretĂ¡rio-geral, que Ă© o cargo civil mais importante. Depois, no governo Temer, houve tambĂ©m um problema quando criou-se o MinistĂ©rio da Segurança PĂºblica, e o general Silva e Luna subiu para a Defesa”, relembrou, durante seminĂ¡rio promovido pela FundaĂ§Ă£o Fernando Henrique Cardoso. Jobim afirmou que Jair Bolsonaro “militarizou toda a estrutura” e argumentou que o ministĂ©rio deve ter um civil que circule bem entre militares e polĂticos. “MĂºcio tem habilidade para tanto”, disse.
ApĂ³s a invasĂ£o Ă s sedes dos trĂªs Poderes em BrasĂlia, uma ala do PT passou a pressionar para a demissĂ£o de MĂºcio, argumentando que o ministro nĂ£o deu uma resposta “firme” aos problemas de segurança observados no dia 8 de janeiro. Petistas tambĂ©m esperavam uma postura mais “agressiva” de MĂºcio contra os bolsonaristas que acampavam na frente dos quartĂ©is, e se frustraram quando o ministro afirmou que nĂ£o desmobilizaria “ninguĂ©m na marra”.
Jobim citou as recentes declarações de Lula que geraram mal-estar com as Forças Armadas. Na semana passada, o presidente afirmou que os militares “nĂ£o sĂ£o poder moderador como pensam que sĂ£o”. O ex-ministro relembrou que, em 2020, uma liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, deixou claro que as Forças Armadas nĂ£o sĂ£o poder moderador, e criticou o fato de o petista ficar “retomando assuntos”.
“HĂ¡ um extenso voto de Fux deixando isso claro. As Forças Armadas nĂ£o sĂ£o poder moderador. NĂ£o tem essa discussĂ£o”, afirmou Jobim. Na liminar em questĂ£o, formulada em resposta a uma AĂ§Ă£o Direta de Inconstitucionalidade movida pelo PDT, Fux afirmou que o poder das Forças Armadas Ă© limitado, “excluindo-se qualquer interpretaĂ§Ă£o que permita sua utilizaĂ§Ă£o para indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes”.
Nesta terça-feira, 17, o general SĂ©rgio Etchegoyen, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Michel Temer, classificou as declarações de Lula sobre as Forças Armadas como “uma profunda covardia” e afirmou que elas nĂ£o contribuem para a pacificaĂ§Ă£o do PaĂs.
RetaliaĂ§Ă£o
O ex-ministro defendeu que a reaĂ§Ă£o aos atos golpistas de 8 de janeiro ocorra com “destreza e sapiĂªncia”, sem “retaliaĂ§Ă£o”. Segundo ele, determinar a prisĂ£o de “todo o mundo” radicaliza a sociedade e fortalece o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Se os democratas começarem a agir de acordo com o fizeram (os extremistas), fazendo uma retaliaĂ§Ă£o, surge uma radicalizaĂ§Ă£o e se fortalece o Bolsonaro. Para se ter apoio Ă© preciso ter um inimigo. Precisamos ter sapiĂªncia ao tratar o ocorrido no dia 8. NĂ£o se pode induzir que, daquela multidĂ£o, todos foram pra fazer quebra-quebra. Havia pessoas com criança no colo, que estavam lĂ¡ para fazer uma manifestaĂ§Ă£o”, afirmou.
Jobim afirmou que Ă© contra, no mĂ©rito, Ă prisĂ£o de Anderson Torres e do comandante da PolĂcia Militar no DF. Ele defendeu que a melhor maneira de desmobilizar os extremistas nĂ£o Ă© por meio do confronto, mas do estĂmulo ao crescimento de uma direita democrĂ¡tica que, segundo ele, pode assumir o espaço que hoje Ă© ocupado pelo bolsonarismo.
“Prender todo mundo sĂ³ radicaliza. Precisamos estimular a formaĂ§Ă£o da direita democrĂ¡tica, encontrar lĂderes para a direita democrĂ¡tica, pois Ă© ela que tem potencial para reduzir o bolsonarismo e o extremismo da extrema-direita. O bolsonarismo vai desaparecer se tivermos a habilidade de desmanchĂ¡-lo por dentro, estimulando o crescimento da direita democrĂ¡tica. NĂ£o faremos isso na base do confronto.”