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Dirceu: “Tudo que acontecer aqui na eleição vai repercutir no nosso estado (Luísa Mainardes)

O Partido dos Trabalhadores (PT) deve pelo menos tentar construir uma candidatura própria para a Prefeitura de Curitiba em 2024. Ao menos é isso o que defende o deputado federal Zeca Dirceu, que é um dos pré-candidatos a prefeito pelo partido — assim como a também deputada federal Carol Dartora e o advogado Felipe Magal — e que na última segunda-feira participou de um ato público no Sindicato dos Bancários que tratou do tema.

Em entrevista ao ‘Bem Paraná’, concedida nesta terça-feira (20), Zeca apontou que há muito tempo vem defendendo a candidatura própria do PT em Curitiba, até pela importância da cidade e por todo o contexto histórico que envolve a capital paranaense. “Tudo que acontecer aqui na eleição vai repercutir nos outros municípios, vai repercutir no nosso estado. Teve ainda todo o drama que o presidente Lula, meu pai (José Dirceu) e outros viveram aqui. Isso tudo coloca Curitiba dentro de um contexto nacional de maior é relevância”.

Na visão do parlamentar, não faz sentido que partidos menores apresentem seus próprios candidatos a prefeito neste momento e o PT não o faça, ainda mais considerando que a data-limite para o registro de candidaturas só se encerra no segundo semestre, em 15 de agosto, o que significa que há algum tempo para se avaliar com mais calma o cenário eleitoral. Até por isso, segundo ele, aqueles que conduziram o processo até aqui cometeram um erro, principalmente porque não houve, até o momento, discussões coletivas ou decisões de alguma instância do próprio partido sobre o assunto.

“Eu acho que o presidente do PT de Curitiba, o Ângelo Vanhoni, é um ótimo líder, está cumprindo o seu papel, está se esforçando, mas tem sido atropelado por decisões de terceiros, fora de tudo que preza o estatuto do Partido, fora de tudo que preza a nossa tradição democrática”, aponta Zeca. “A militância quer a candidatura própria e nós não podemos desconsiderar, ignorar isso. Ontem [segunda-feira], mais uma vez, nós conseguimos provar que a maior parte das lideranças são favoráveis à candidatura própria. Então há uma maioria muito bem consolidada a favor da candidatura própria, sem descartar a construção de uma frente, o diálogo com outros candidatos”, complementa.

Além disso, também há uma questão estratégica. É que a apresentação de um candidato próprio do PT para prefeito de Curitiba, avalia Zeca, pode ajudar a alavancar candidaturas do partido para a Câmara Municipal e até mesmo gerar impacto nas eleições gerais de 2026. “Ter candidato próprio [para prefeito em Curitiba] reforça e ajuda a eleger muito mais vereadores, e não ter candidato próprio pode nos fazer perder representação não só agora, mas em 2026, porque a eleição municipal é decisiva para a quantidade de deputados estaduais, deputados federais e senadores que cada partido vai eleger. Então, abrir mão de disputar aqui em Curitiba e em outras grandes cidades nos trará um prejuízo muito grande.”

A expectativa do parlamentar, então, é que o partido construa uma proposta para a cidade, um compromisso, antes mesmo de definir o nome do candidato ou da candidata petista. “Eu acho que esse processo não foi construído de forma correta e agora, de um jeito ou de outro, a gente está forçando isso, nem que tenhamos de levar essa questão, junto com outras lideranças nossas, para uma deliberação da direção estadual, levar isso para o plano nacional, até porque já tem uma diretriz nacional de que cidade com mais de 200 mil eleitores, onde tem segundo turno, a palavra final é da direção nacional”, emenda.

Com a experiência de já ter sido prefeito de Cruzeiro do Oeste por dois mandatos, além de estar em sua quarta legislatura como deputado federal, Zeca Dirceu defende, entre outras propostas, a criação de um orçamento mais participativo para Curitiba, com a população tendo maior influência na destinação dos recursos públicos da cidade. Além disso, também quer mais investimentos na área educacional, citando conquistas que teve quando chefiou o Poder Executivo de outra cidade.

Por fim, ele também ressalta que uma possível chegada do PT ao Palácio 29 de Março poderia trazer benefícios aos curitibanos por garantir uma maior sinergia com o governo federal, que é quem concentra a maior parte dos recursos públicos obtidos através do pagamento de impostos. “Hoje até existe [essa sinergia], mas não é na amplitude que poderia ser, até porque não há uma coincidência de governos do mesmo partido, da mesma linha política, da mesma linha ideológica. Vamos olhar pela periferia, olhar pelos bairros, olhar pelas regiões mais distantes, periféricas, que não têm o mesmo cuidado que as regiões mais nobres, as regiões mais ricas da cidade. Isso é uma mudança de paradigma que só um governo do PT, pelas nossas características até históricas, pode proporcionar à cidade. E ter um candidato nosso vai permitir que a gente vá para um debate na TV falar sobre isso”, defende.

“Quem tem que pedir desculpa são os governantes de Israel”, diz Dirceu sobre declarações de Lula

Zeca Dirceu também comentou sobre a crise diplomática entre Brasil e Israel, deflagrada no último domingo após o presidente Lula comparar a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto. Segundo ele, a primeira coisa a ser esclarecida é que tanto ele como o presidente respeitam todo o povo judeu e mantém uma relação muito fraterna com a comunidade judaica.

“Não se pode confundir uma crítica, uma cobrança de um cessar fogo, de um fim de uma guerra, de um fim de uma matança, com a crítica a um dirigente do estado de Israel, no caso o primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu], com um ataque ao povo judeu, à memória do povo judeu, à memória do que foi o Holocausto. Então a gente precisa separar as coisas, né? Como também o povo árabe, o povo palestino, não pode pagar por um erro, uma atitude inconsequente de uma organização que não é institucional, como é o Hamas, que provocou isso tudo matando inocentes em Israel”, argumenta o parlamentar.

“Quem tem que pedir desculpa – eu acho que na verdade tem que pedir perdão a Deus – são os governantes de Israel, que estão matando inocentes, estão matando crianças, estão destruindo escolas, estão destruindo hospitais com uma falsa desculpa de que é para combater o Hamas. Não é assim que vai se combater o Hamas. O que há ali é uma tentativa de eliminar uma área, um território que é legítimo, o povo palestino ter, como é legítimo ter sido criado o estado de Israel e o povo de Israel ter ali a sua própria área, o seu próprio espaço”, aponta o deputado.

“Se alguém deve desculpa – e eu diria que deve perdão -, são os governantes de Israel, que estão massacrando um povo fragilizado e que não tem nada a ver com o Hamas. O povo palestino não é responsável pelo que o Hamas fez, assim como o povo judeu não é responsável pelo que o primeiro-ministro de Israel está fazendo nesse momento da guerra.”