O Centro de Curitiba foi ocupado neste domingo (14 de setembro) pela Marcha da Maconha. O evento, que está em sua 18ª edição, reuniu milhares de pessoas, num ato que reforça o crescente apoio popular à legalização da erva. Além disso, com o tema “A ciência confirma: a Planta é divina”, a manifestação também colocou em pauta os múltiplos benefícios da maconha — do uso terapêutico à preservação ambiental —, além de denunciar os impactos da política proibicionista no Brasil.
A concentração para o ato teve início às 14h20, na Boca Maldita. Duas horas depois, às 16h20, ocorreu a saída da Marcha rumo à Praça 19 de Dezembro. Alguns políticos, inclusive, marcaram presença. Foram eles: o deputado estadual Goura (PDT), a deputada federal Carol Dartora (PT) e as vereadoras Professora Angela (PSOL) e Giorgia Prates (PT).
Um ano depois da descriminalização
A Marcha deste ano acontece em um contexto histórico: um ano após a decisão do Supremo Tribunal Federal que descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal. Ainda assim, o cultivo da planta permanece proibido. Com isso, mantém-se a lógica da chamada “guerra às drogas”. Segundo o movimento, esse contexto continua a criminalizar principalmente corpos negros, empobrecidos e periféricos.
A manifestação de hoje, inclusive, denuncia os efeitos dessa política. Entre eles estão o encarceramento em massa, o genocídio da juventude negra, o controle violento do cotidiano nas periferias e a negação de acesso a políticas públicas. Diante disso, os manifestantes exigem mudanças urgentes na forma como o Estado trata a questão das drogas.
Com enfoque na história milenar da planta e em seus diversos usos, o evento também celebra os avanços internacionais. Em diversos países, cresce a regulamentação da maconha para fins medicinais, industriais e sociais/adultos.
Outras bandeiras também levantadas pelo movimento são:
• A superação da crise climática: A crise climática e seus efeitos cada vez mais evidentes demandam ações urgentes de governos e de toda a sociedade. Neste cenário a planta é uma poderosa aliada, sendo uma opção sustentável à indústria alimentícia, farmacêutica e têxtil. A planta também é uma opção viável para substituição do plástico. Consumindo muito menos água que outros cultivos e com uma capacidade impressionante de limpeza e regeneração do solo, a maconha mostra que seus benefícios vão muito além do uso individual.
• Redução de danos (RD): A RD é um conjunto de estratégias de cuidado para pessoas que usam álcool e outras drogas. Reconhecida como política de saúde pública no Brasil e em vários países, a prática se apresenta enquanto uma ética de cuidado voltada à autonomia individual e comunitária para gestão de danos associados ao uso de drogas. Medidas como difusão de informações e fornecimento de insumos para uso mais seguro (tais como água, preservativo, protetor solar, piteiras etc.) tem se mostrado muito eficiente na redução de riscos individuais e coletivos. A Marcha defende a ampliação de tais políticas e sua extensão para outras atividades cotidianas como o uso de telas e a prática de apostas. Destacam que neste momento a vereadora Profª. Angela é alvo de processo de cassação na Câmara de Curitiba pela defesa da Redução de Danos, situação ilegal que afronta direitos de toda a sociedade.
• Vida e dignidade das mulheres: A luta pela legalização da maconha também é uma luta pela autonomia das mulheres. A Marcha reforça a importância de garantir direitos reprodutivos, de enfrentar a violência de gênero e de promover a igualdade em todos os âmbitos da sociedade.
• Liberdade da planta e de todos os corpos: A Marcha defende a liberdade não apenas da planta, mas também dos corpos marginalizados e criminalizados pela política de drogas. O movimento social busca desmantelar as estruturas de repressão e controle dos corpos, que afetam desproporcionalmente a população negra e periférica.
A Marcha da Maconha
A Marcha da Maconha Curitiba vai além de uma simples demanda por mudanças na lei. Ela compreende que a proibição das drogas é irracional, fundamentada em preconceitos e sustentada por interesses econômicos e políticos. A Marcha também reivindica a criação de novas políticas públicas sobre drogas – como a Redução de Danos – que não apenas regulamentem a planta, mas que também promovam reparações históricas e sociais às populações historicamente mais afetadas pela falsa guerra às drogas.
Com 18 anos de história em Curitiba, a Marcha envolve uma ampla diversidade de coletivos, associações e grupos, de ativistas a mães e familiares de pacientes que fazem uso de maconha para fins terapêuticos. A ampla participação popular reforça a luta pela legalização como uma luta por dignidade, saúde e justiça social. A Marcha acolhe todos os setores da sociedade, e a participação no movimento é aberta a qualquer pessoa – não é necessário ser usuário para apoiar a causa.