
O publicitário Duda Lima produziu em julho um vídeo a pedido do pastor Silas Malafaia com a mensagem de que o ex-presidente e seus apoiadores são alvos de perseguição injusta e que as tarifas impostas ao Brasil pelo presidente norte-americano Donald Trump só baixarão caso haja anistia aos bolsonaristas. A conclusão é da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo a PF e a PGR, Malafaia orientou de ações de coação e obstrução a autoridades promovidas por Jair e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com o objetivo de pressionar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e parlamentares a aprovarem medidas de interesse do grupo bolsonarista. Entre elas, a anistia do ex-presidente.
Duda Lula é o marqueteiro do PL que esteve à frente da campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Ele não aparece entre os investigados pela PF no caso.
Malafala mencionou o pedido ao marqueteiro em conversas com Bolsonaro que constam do relatório final de investigação da Polícia Federal apresentado em agosto. O documento aponta indícios de que Bolsonaro e seu filho tentaram obstruir o julgamento da trama golpista.
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado pela Primeira Turma do STF. Primeira vez na história, um ex-presidente recebe punição por esse crime. A defesa afirma que vai recorrer.
O pastor Malafaia é investigado por suposta participação em crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação envolvendo organização criminosa e abolição violenta do Estado democrático de Direito.
Malafaia nega
Malafaia diz à reportagem que Duda é seu amigo. Que não pagou nada para que ele fizesse o vídeo. E que não existe crime em relacionar o fim do tarifaço de Trump à anistia de Bolsonaro.
“Quer dizer que a esquerda pode fazer a peça publicitária que ela quer para arrebentar quem eles querem e nós não podemos fazer para nos defender? Uma coisa voluntária, que eu não paguei nada”, afirma o pastor. Ele acrescentou que é alvo de perseguição política e que a PF está a serviço do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
“Qual a novidade que tem aí, de a gente fazer propaganda de chamar para anistia, dizendo que o tarifaço de Donald Trump tem a ver com a perseguição a Bolsonaro? E se tiver uma anistia, isso acaba. Quem não sabe disso?”, questiona Malafaia.
“Eles querem calar os opositores. Eles não suportam a oposição, gente que pensa e que questiona. Isso é uma vergonha. Isso é uma safadeza inescrupulosa e cretina.”
O que diz Duda
Em nota, Duda afirma que trabalha, sim, contra o atual governo federal, representado por Lula (PT), mas em nenhuma peça que produziu profissionalmente há ataques que possam ferir o regramento jurídico e a liberdade de expressão.
O relatório da PF mostra que no dia 13 de julho Malafaia disse em mensagem a Bolsonaro que havia falado para Duda Lima “inventar uma frase que coloque mais ou menos algo em torno disso: anistia já e a taxação cai”.
Segundo ele, a estratégia tinha o objetivo de “tirar de Lula o discurso, saímos das cordas e vamos para o ataque”.
Ele também diz ter “forte opinião contra Lula” quando ele tem “atitude irresponsável com a nação brasileira, provocando o presidente da nação mais poderosa do mundo”.
Trump havia anunciado quatro dias antes o tarifaço contra o Brasil, o que fez com que Bolsonaro recebesse críticas devido à articulação liderada por seu filho Eduardo para que o país recebesse a sanção.
“Tem que juntar a taxa com a questão da anistia. Ou juntar liberdade, justiça e anistia e a queda da taxa. É a carta de Trump, não vão ter como dizer que é fake. Falei isso para o marqueteiro Duda”, escreveu Malafaia ao ex-presidente.
“O marqueteiro Duda deu a seguinte sugestão, ele vai produzir vídeo e banner. Estará pronto segunda para fazer uma campanha orquestrada. Anistia para todos! O Brasil da liberdade não será taxado. Donald Trump”, completou o pastor.
A expressão “campanha orquestrada” foi grifada pela PF em seu relatório.
Investigação
Para os investigadores, as mensagens evidenciam que a verdadeira intenção dos atos praticados por Malafaia e Jair Bolsonaro era “coagir as autoridades brasileiras (ministros do STF e parlamentares) para obter uma anistia e impunidade nas ações penais em curso, sendo tais medidas a única saída para reverter as sanções impostas pelos Estados Unidos”.
Uma semana após a troca de mensagens com Bolsonaro, Malafaia publicou o vídeo produzido por Duda no X (ex-Twitter).
O material contém diversos elementos citados pelo pastor, como a carta de Trump e o bordão “o Brasil da justiça e liberdade não será taxado”.
O vídeo afirma que Trump está dizendo o que muitos no Brasil têm medo de expressar: “prender patriotas é injusto, calar vozes é censura e perseguir Bolsonaro é vergonha internacional”. Ele também defende que o presidente norte-americano quer ser parceiro de um Brasil com “democracia verdadeira” e que só vai taxar o país se houver insistência na “democracia relativa”. “Para resolver o problema está mais fácil do que parece: anistia para os inocentes”, diz o vídeo.
Além de promover campanhas de candidatos do PL e aliados, Lima também é responsável pela comunicação do partido. Ele é próximo de Valdemar Costa Neto, presidente da legenda.
No ano passado, suas agências receberam R$ 1,5 milhão somente do PL, segundo prestação de contas apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A campanha de Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, para a qual foi indicado por Valdemar, recebeu mais R$ 8,3 milhões.
Em um dos momentos marcantes da disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2024, Duda levou um soco de Nahuel Medina, cinegrafista de Pablo Marçal (PRTB). Isso ocorreu durante debate organizado pelo Grupo Flow.