Marta diz que PT trai sua essência ao votar medidas de ajuste fiscal

Folhapress

EDUARDO CUCOLO E SOFIA FERNANDES BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Quem traiu quem? Com essa pergunta a senadora Marta Suplicy (SP) iniciou seu discurso para pedir aos ex-colegas do PT que votem contra as medidas provisórias do ajuste fiscal para não trair os princípios do partido. Segundo Marta, algumas pessoas afirmam que ela traiu o partido que a acolheu ao deixar a legenda. “Se alguém traiu alguém, eu pergunto a vocês, quem traiu quem? Eu saí do partido dos trabalhadores por alguns motivos. Foi pela traição do partido aos princípios de quando ingressei nesse partido.” “O partido dos trabalhadores hoje trai a sua essência, a sua criação, a defesa do que se batalhou a vida inteira. Não sou eu que estou traindo esses princípios”, afirmou nesta terça-feira (26) durante a votação da medida provisória 665, que altera as regras de acesso a benefícios trabalhistas. Marta afirmou poder imaginar como estão se sentindo os “grandes líderes desse partido” diante da proposta do governo, em uma referência ao ex-presidente Lula, que tem questionado as medidas de ajuste. A senadora afirmou que o governo Dilma Rousseff destruiu a economia brasileira nos últimos quatro anos e que agora, ao invés de pedir desculpas ao povo brasileiro, propõe um plano de ajustes que vai cair primeiro nas costas dos trabalhadores, mas que também atinge empresários e banqueiros. “Quem apoia esse governo?”, questionou Marta. Ela afirmou que a dor que os ex-companheiros de partido estão sentindo ao votar as medidas fiscais é “uma dor para nada”, pois as medidas não vão resolver os problemas econômicos do país. “Na confusão em que esse governo está, não sei do que vai servir votar essa questão hoje de forma positiva”, afirmou, ao citar as disputas internas entre os ministérios da Fazenda, do Planejamento e a Casa Civil. VOTAÇÃO Em uma prévia de como será apertada a votação da medida que dificulta a concessão de seguro-desemprego e abono salarial, o governo teve apenas cinco votos de vantagem no início da votação desta terça-feira. Por 37 a 32 votos, os senadores consideraram constitucional a medida provisória. Entre os votos contrários, estavam os dos petistas Lindbergh Farias (RJ), Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA). O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB – AL), também votou contra a admissibilidade da matéria. Se fosse derrubada nessa etapa, a medida nem seguiria para votação. Pinheiro afirmou que é contra o artigo que trata do abono salarial, que eleva para três meses o tempo mínimo necessário para o trabalhador ter direito ao benefício. Segundo ele, faltou um compromisso claro do governo de que essa parte da medida será vetada pela presidente Dilma. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) afirmou que o governo acenou com a possibilidade de vetar a quarentena de 90 dias de trabalho para obtenção do abono salarial (hoje basta trabalhar um mês para ter acesso ao benefício), mas descartou estender o veto à proposta de pagar o benefício proporcionalmente ao meses trabalhados. “O governo já foi até onde podia”, afirmou. A sessão desta terça foi suspensa por alguns minutos quando manifestantes da Força Sindical, usando máscaras de Dilma Rousseff, entoaram gritos contra a presidente e “Fora PT”. O presidente do Senado, ao contrário do que aconteceu na semana passada, não pediu que se retirasse os manifestantes das galerias. Apenas pediu para que fiquem em silêncio durante a votação, como determina o regimento da Casa. Antes, no fim da tarde, sindicalistas da CUT (Central Única dos Trabalhadores) jogaram esterco do lado de fora do Senado, na passagem dos carros oficiais dos senadores.