ESP-Milei
Milei (CrĂ©dito: ReproduĂ§Ă£o de vĂ­deo/X/JMilei)

A caravana de campanha que levava Javier Milei por Lomas de Zamora, na Grande Buenos Aires, terminou abruptamente, depois que opositores arremessaram pedras contra o presidente da Argentina e entraram em confronto com seus apoiadores na tarde desta quarta-feira (27).

Milei foi ao municĂ­pio para apoiar os candidatos de seu partido, A Liberdade Avança, que disputam as eleições legislativas de 7 de setembro para a provĂ­ncia de Buenos Aires. Sua apariĂ§Ă£o se deu em meio ao escĂ¢ndalo de divulgaĂ§Ă£o de Ă¡udios que apontariam uma suposta corrupĂ§Ă£o na Andis (AgĂªncia Nacional para Pessoas com DeficiĂªncia) —pouco antes da confusĂ£o, Milei quebrou um silĂªncio de seis dias e falou pela primeira vez sobre o caso.

Lomas de Zamora Ă© governada pelo peronismo e conta com uma forte oposiĂ§Ă£o ao governo nacional. Durante a passagem do caminhĂ£o onde Milei estava, pedras e outros objetos foram lançados contra a comitiva. O evento contou com a presença de Maximiliano Bondarenko, candidato do partido de Milei. O motorista do caminhĂ£o, sob proteĂ§Ă£o policial, acelerou para escapar da Ă¡rea.

Os militantes de Milei culparam peronistas pelo ataque. A caravana começou 15 quarteirões antes, e o ponto de encontro em Lomas de Zamora foi estabelecido perto da praça Grigera. De acordo com o porta-voz da PresidĂªncia, Manuel Adorni, Milei nĂ£o se feriu. “As pedras nada mais sĂ£o do que o exemplo mais fiel do fim do kirchnerismo”, escreveu Adorni.

Logo apĂ³s o incidente, Milei publicou uma foto em suas redes sociais, ao lado de sua irmĂ£, Karina, e do deputado JosĂ© Luis Espert. “Em Olivos [residĂªncia oficial da PresidĂªncia], depois da ida a Lomas de Zamora, onde os Kukas [kirchneristas], sem ideias, atiraram pedras, eles recorreram novamente Ă  violĂªncia.”

O evento na Grande Buenos Aires tambĂ©m marcou uma mudança de estratĂ©gia da Casa Rosada na gestĂ£o do escĂ¢ndalo dos Ă¡udios do ex-diretor da Andis.

Milei, que atĂ© entĂ£o nĂ£o tinha se pronunciado diretamente sobre o caso, disse que sĂ£o mentiras as afirmações atribuĂ­das a Diego Spagnuolo, que apontam supostas propinas na compra de medicamentos pelo Ă³rgĂ£o e que envolvem a sua irmĂ£ e secretĂ¡ria-geral da PresidĂªncia.

“Tudo o que ele diz Ă© mentira, vamos levĂ¡-lo ao tribunal e provar que ele mentiu”, disse o chefe de Estado na caravana de campanha ao ser consultado por um jornalista.

As gravações que sĂ£o atribuĂ­das a Spagnuolo falam da existĂªncia de um sistema de cobrança de propinas na compra de remĂ©dios e prĂ³teses que favoreceria Karina e seu assessor mais prĂ³ximo, Eduardo Lule Menem.

Os primeiros Ă¡udios, divulgados por um canal de streaming, apontam que a irmĂ£ de Milei ficaria com 3% da propina paga pelos medicamentos, que equivaleriam a um valor de US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões) a US$ 800 mil (R$ 4,3 milhões) por mĂªs.

Spagnuolo foi demitido ainda na semana passada, e a Andis segue sem comando. Desde que uma operaĂ§Ă£o policial na sexta-feira (22) apreendeu celulares e documentos do ex-diretor e de responsĂ¡veis pela Drogaria Suizo Argentina, empresa de distribuiĂ§Ă£o de remĂ©dios que foi apontada nos Ă¡udios como parte do esquema.

Nesta quarta-feira, uma anĂ¡lise preliminar apontou que nĂ£o foram encontraram conversas entre o ex-diretor e os irmĂ£os Milei no celular de Spagnuolo, mas as autoridades trabalham com a possibilidade de que arquivos tenham sido apagados. Novos Ă¡udios tĂªm vazado desde entĂ£o.

Karina ainda nĂ£o falou publicamente sobre o caso e os Ăºnicos que tinham se pronunciado eram aliados de Milei, que trataram o vazamento como uma operaĂ§Ă£o da oposiĂ§Ă£o para prejudicar o governo Ă s vĂ©speras de duas eleições importantes —a da provĂ­ncia de Buenos Aires, em menos de duas semanas, e a do Congresso Nacional, em outubro.

O presidente da CĂ¢mara dos Deputados e primo de Lule, MartĂ­n Menem, disse em uma entrevista ao canal LN+ na terça-feira (26) que as gravações de Ă¡udio vazadas sĂ£o “uma operaĂ§Ă£o planejada e concebida” pela oposiĂ§Ă£o.

Convocado pelo Congresso nesta quarta, o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, evitou mencionar Karina, mas classificou o escĂ¢ndalo como “uma operaĂ§Ă£o polĂ­tica”.

O escĂ¢ndalo tomou proporções maiores do que o antecipado pelo governo, acostumado a determinar a discussĂ£o polĂ­tica na Argentina, e diferentes levantamentos nos Ăºltimos dias apontaram um impacto negativo para a Casa Rosada.

A consultoria Management & Fit entrevistou por telefone e pela internet 1.000 pessoas nos dias 25 e 26 e agosto em todo o país, com margem de erro de 3,1 pontos e confiança de 95%. Os dados apontam que o nível de conhecimento dos argentinos sobre o caso é de 94,5%.

TambĂ©m apontam que 73,2% dizem considerĂ¡-lo grave ou muito grave e 59,2% consideram os relatos verdadeiros. AlĂ©m disso, 60% ou mais consideram os irmĂ£os Milei responsĂ¡veis e 56,1% dizem que isso modifica a confiança no governo.