O MinistĂ©rio PĂºblico Militar do Amazonas (MPM-AM) abriu um procedimento interno para apurar possĂvel crime do Comando Militar da AmazĂ´nia (CMA), em Manaus. A investigaĂ§Ă£o toma como base dois ofĂcios do Governo do Amazonas que relatam a atuaĂ§Ă£o do ExĂ©rcito em 9 de janeiro, quando um acampamento golpista foi desmontado em frente ao quartel. Segundo os documentos, no dia da operaĂ§Ă£o, o CMA guardou pertences dos acampados e negociou individualmente, dentro do quartel, com lideranças do movimento local.
De acordo com o procurador de Justiça Militar do Amazonas, JosĂ© Luiz Pereira Gomes, o MPM-AM foi informado do episĂ³dio pelo MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) na Ăºltima segunda-feira (16), o que suscitou o inĂcio da investigaĂ§Ă£o.
“O procedimento aberto Ă© preliminar de investigaĂ§Ă£o, denominado NotĂcia de Fato, no qual serĂ£o apurados, rigorosamente, todos os fatos relacionados na documentaĂ§Ă£o enviada pela Procuradoria da RepĂºblica no Amazonas, no que concerne a crimes militares”, afirmou Gomes. O MPM pode posteriormente decidir oferecer denĂºncias contra oficiais Ă Justiça Militar.
A operaĂ§Ă£o de desmonte do acampamento golpista, em Manaus, foi comandada pela Secretaria de Segurança PĂºblica do Amazonas. O governo estadual seguiu a ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, mas tambĂ©m atendeu a uma decisĂ£o de mesmo teor da Justiça Federal do Amazonas.
Foi nesta segunda aĂ§Ă£o judicial que a Procuradoria-Geral do Estado (PGE-AM) apresentou dois ofĂcios que relatam a atuaĂ§Ă£o do CMA no dia da operaĂ§Ă£o. Os documentos vieram a pĂºblico apĂ³s reportagem do jornal A CrĂtica, de Manaus. No primeiro ofĂcio, o titular da SSP-AM, general Carlos Alberto Mansur, afirma que o ExĂ©rcito “disponibilizou, para quem solicitou, espaço para guarda temporĂ¡ria de material usado no manifesto” e “realizou negociaĂ§Ă£o de forma individual e, dentro do quartel, diferente do tratado em reuniĂ£o, quando seria em conjunto com a PolĂcia Militar”.
No segundo ofĂcio, o comandante-geral da PM do Amazonas, Marcus VinĂcius Oliveira, afirma que o CMA nĂ£o disponibilizou soldados para o cumprimento da operaĂ§Ă£o, embora tenha integrado o gabinete de crise criado pelo Governo do Amazonas apĂ³s os ataques golpistas em BrasĂlia (DF).
Em nota divulgada Ă imprensa, o Comando Militar da AmazĂ´nia (CMA) confirmou que guardou, por dois dias, materiais de bolsonaristas. “(O armazenamento dos pertences) ocorreu como parte das negociações, para que os manifestantes nĂ£o mais retornassem ao acampamento, medida tomada em auxĂlio Ă SSP-AM para o efetivo cumprimento da medida judicial”.
JĂ¡ a negociaĂ§Ă£o dentro do quartel aconteceu apĂ³s pedido dos golpistas acampados para falar com o comandante do CMA, general Achilles Furlan Neto. “A fim de que as tratativas chegassem ao resultado buscado (desocupaĂ§Ă£o do local sem o emprego de força e com o mĂnimo de dano colateral), o oficial negociador do CMA conduziu integrantes da manifestaĂ§Ă£o Ă sala de Relações PĂºblicas para tratar do assunto”, disse o ExĂ©rcito.
A ordem de desmonte de acampamentos bolsonaristas em todo o PaĂs foi dada por Alexandre de Moraes apĂ³s os ataques de extremistas Ă s sedes dos poderes em BrasĂlia no dia 8 de janeiro. No dia seguinte Ă invasĂ£o, o magistrado ordenou “desocupaĂ§Ă£o e dissoluĂ§Ă£o total” dos acampamentos em atĂ© 24 horas. Em Manaus, a dissoluĂ§Ă£o tambĂ©m foi ordenada pela Justiça Federal do Estado.
O presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva se reuniu com comandantes das Forças Armadas na manhĂ£ desta sexta-feira, 20, no PalĂ¡cio do Planalto. Segundo o ministro da Defesa, JosĂ© Mucio, que participou da reuniĂ£o ao lado de Rui Costa, da Casa Civil, e do empresĂ¡rio JosuĂ© Gomes, presidente da Fiesp, os chefes da Marinha, ExĂ©rcito e AeronĂ¡utica concordaram em punir os militares envolvidos nos ataques.
Como mostrou o EstadĂ£o, oficiais chegaram a cobrar o golpe e desafiar comandantes. Foi o caso do coronel JosĂ© PlacĂdio, ex-GSI que ameaçou o ministro da Justiça, FlĂ¡vio Dino, e tentou incitar uma revolta articulada por coronĂ©is, atropelando a democracia e a prĂ³pria hierarquia militar.