O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ) vai empossar pela primeira vez em sua história um membro do Ministério Público (MP) para assumir uma de suas cadeiras. Ângela Khury Munhoz da Rocha será 11ª mulher a ocupar a vaga de desembargadora no TJ. E apesar dos avanços que a luta pela emancipação feminina teve nos últimos anos, a futura desembargadora acredita que ainda terá muitos desafios pela frente.
Promotora pública de segundo grau, o primeiro desafio de Ângela Khury foi vencer a lista tríplice, quando concorreu com dois homens-candidatos: Valério Vanhoni e o promotor de justiça Ramatis Fávero. Se o segundo fosse escolhido, também seria o primeiro membro do MP a assumir a vaga no TJ – já que até então sempre foram escolhidos juízes. Na lista tríplice escolhida pelo Pleno do TJ, enviada ao governador Roberto Requião (PMDB), a promotora foi confirmada no cargo, já que havia sido a mais votada da lista. Ângela Khury assume a cadeira deixada com a aposentadoria do desembargador Antonio Lopes de Noronha.
A promotora também passou por outra escolha, antes de ter seu nome incluído na lista que foi ao governador. Como norma, Ângela Khury foi indicada numa lista sêxtupla, encaminhada pelo Ministério Público ao TJ. Nesta lista ainda estavam os nome de Antônio Cioffi de Moura, Paulo Roberto Santos e João Henrique Silveira. A indicação do novo desembargador está na cota do “quinto constitucional”, os 20% do quadro que são compostos por indicação da Ordem dos Advogados do Brasil ou do Ministério Público.
Ângela Khury, que é sobrinha de Aníbal Khury, ex-presidente da Assembléia Legislativa, falecido em 1999, e também prima do deputado estadual Alexandre Curi (PMDB), não vê nenhum problema em ter seu nome referendado por Requião. “Disse isso em outra ocasião. Falei que o fato de ser promovida para desembargadora e ter o sobrenome que tenho e pelo fato de ter parentes ligados à política, tenho mais ônus do que bônus. Por outro lado, acredito que as pessoas têm orgulho de seus sobrenomes e eu tenho orgulho do meu”, garante a futura desembargadora, que ainda não tem data para assumir o cargo, mas deve tomar posse ainda em agosto.
Nos dias que antecederam sua eleição, Ângela Khury baseou-se num conselho do pai, que morreu há nove anos. “Estava confiante de que entraria na lista tríplice, mas nunca se sabe o resultado de uma eleição. Sempre segui o ensinamento do meu pai que dizia: trabalhe para entrar em primeiro para ter a chance de ficar em último. Isso serve para tudo. É uma honra sair de uma instituição como o Ministério Público e assumir a magistratura. Pretendo trabalhar arduamente e gostaria de tomar posse o mais rápido possível”, diz ela.
A promotora conta que muitos dos juízes com quem trabalhou hoje estão no TJ. Para Ângela Khury, o fato dessas pessoas terem acompanhado sua trajetória pode ter contribuído para sua votação. “O conhecimento do trabalho influenciou e embasou a decisão na hora do voto. Tenho maturidade, tempo de trabalho e contribuição para o MP”. Com 23 anos de Ministério Público, ela já passou por quase todas as áreas.
Votação – Para realizar a lista tríplice enviada ao governador, votaram 100 dos 120 desembargadores. Ângela Khury recebeu o maior número de votos, 87. Ela foi seguida de Valério Vanhoni, com 68, e pelo promotor Ramatis Fávero, que obteve 54 votos. Na eleição, concorreram também o procurador de justiça, Paulo Roberto de Lima Santos, que fez 41 votos, o procurador Antonio Cioffi de Moura, que recebeu 26 votos, e o promotor João Henrique Vilela Silveira, que teve 24 votos.
A rapidez no despacho dos processos, o profissionalismo e generosidade com os menos favorecidos foram apontados como fatores que influenciaram a indicação da promotora. Também foi destacada a sua atuação dela na Vara da Família e de Registros Públicos.
Mérito — Aos 45 anos de idade, Ângela Khury é casada com um médico, de quem herdou o outro sobrenome: Munhoz da Rocha. Mãe de uma filha de 10 anos, a nova desembargadora teve ascensão rápida. Um ano depois de se formar em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1986, já passou em um concurso para como promotora de justiça substituta em São José dos Pinhais. Passou por comarcas no interior e desde 1990 está em Curitiba.
A promotora afirma chegou a esse patamar por mérito, pois começou sua carreira como promotora pública “com pequeno destaque”. Ângela Khury integra o Ministério Público desde 1987.
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