O advogado Nori Seto, aprendeu com o pai, o ilustrador Cláudio Seto, o código de ética dos samurais, calcado no ensinamento da valorização da honra, do respeito e da lealdade. E é com base nesse código que ele pretende atuas como vereador de Curitiba, depois de ter sido eleito no ano passado, com 4.085 votos, na segunda vez que disputou o cargo. Para isso, ele contou com o apoio da comunidade Nipo-brasileira da Capital paranaense, conquistada pela atuação como diretor e depois presidente da associação cultural Nikkei Curitiba, e pela liderança angariada nas ações sociais e culturais da região do bairro São Braz, onde cresceu e mora há mais de 40 anos.
O interesse na política surgiu justamente pela vontade de compreender o trabalho do pai, que atuou em diversos jornais da cidade, com charges e ilustrações que marcaram época. Em entrevista ao Bem Paraná, Nori Seto explica que sua principal bandeira é a promoção da educação, da cultura e do esporte como elementos de transformação da sociedade.
Bem Paraná – Onde o senhor nasceu e qual a sua formação?
Nori Seto – Nasci em Curitiba. Moro há mais de 40 anos no São Braz. 43 anos. Casado, tenho duas filhas. Sou formado em Direito pela PUC/PR, com pós-graduação na Escola de Magistratura do Paraná em Direito Aplicado. Me formei também no curso BR Cidades. E atualmente estou fazendo pós-graduação em um curso de especialização em Políticas Públicas, Direitos Sociais na Uninter.
BP – Quando o senhor começou a se interessar por política?
Seto – Justamente com o meu pai, ele trabalhava em jornais, Correio de Notícias, Tribuna, Estado do Paraná. Quando eu era criança, pré-adolescente, ele levava as edições para casa com as charges dele, charges políticas. E para poder entender um pouco do trabalho dele, o que ele desenhava, fazia, eu tinha que tentar ler as notícias, saber quem era os protagonistas, os personagens que ele desenhava, quem era o prefeito, governador, candidatos. Admirava muito o trabalho dele. Passava os desenhos dele no horário eleitoral também, animação. Ainda na infância e pré-adolescente a gente montava comitês jovens na garagem de casa, eu e meus amigos da vizinhança. Meu pai apoiava candidatos. Mais por diversão e também para começar a participar da cidadania, se interessar pela política. Depois na adolescência comecei a participar do movimento estudantil, secundarista e a gente percorria os colégios da região para poder falar sobre a importância da participação, da mobilização dos estudantes, para lutar pelo ensino público gratuito de qualidade. Participei também de grêmios estudantis e na sequência comecei a participar do movimento gincaneiro de Curitiba, as famosas gincanas. E lá tive a oportunidade de conhecer os 75 bairros de Curitiba. Conheci diversas realidades. Também tive oportunidade de conhecer diversos trabalhos sociais. O movimento gincaneiro tinha várias atividades para contribuir com essas entidades. Era uma mistura de diversão com solidariedade. Para fazer arrecadações, ações sociais. Também cheguei a criar um site “São Braz, Santo Inácio e região na Linha de Frente”, para fazer prevenção da Covid e também incentivar o comércio local para poder fazer a economia girar na região. E também para os comerciantes doarem para as pessoas que perderam renda. Depois também passei a participar da comunidade Nipo-brasileira também. Fui diretor. Deois que meu pai faleceu, eu e minhas irmãs começamos a tocar o jornal “Planeta Zen”, da comunidade nipo-brasileira. Depois entrei como vice-presidente de divulgação e marketing do clube Nikkei. Em 2019 fui eleito presidente. A Nikkei é a maior associação nipo-brasileira de Curitiba que organiza diversos eventos.
Bem Paraná – O senhor já tinha se candidatado antes?
Nori Seto – Em 2016, as pessoas entenderam que devíamos lançar um candidato, diversos segmentos, tanto na comunidade nipo-brasileira, quanto no bairro, diversas pessoas me procuraram para que eu fosse candidato a vereador. Fiquei na segunda suplência da coligação. Mas não consegui assumir. Até que agora em 2020, consegui a eleição com 4.085 votos. A intenção é representar a comunidade nipo-brasileira, os bairros de Curitiba, as pessoas que defendem a cultura, a arte, o esporte. A nossa região, São Braz, Santo Ignácio, Orleans, Guabirotuba, Jardim das Américas, Uberaba. É bem diversificado. A gente vai atuar de forma bem ampla, diversos segmentos da sociedade.
BP – Qual a principal bandeira do seu mandato?
Seto – Principalmente educação, cultura e o esporte como elementos transformadores da sociedade. Acredito que investindo nesses três elementos teremos bons resultados a médio e longo prazo. Como o Japão, que investe muito em educação. A ideia é trazer vários projetos que são implantados lá e adaptá-los ao Brasil. Parcerias na área educacional, científica e cultural.
BP – Em relação à gestão Greca, o senhor pretende ser da base de apoio, oposição ou independente?
Nori Seto – O meu partido Progressistas apoiou o prefeito Rafael Greca, então naturalmente a gente vai fazer parte da base de apoio. Mas é óbvio que a gente vai analisar cada projeto, proposta. O que entender que é interessante para a sociedade a gente vai votar a favor. O que não for, vamos votar contra. A gente também vai fiscalizar bastante também, apesar de ser da base. Desempenhar o papel de representante da população.
BP – O senhor tem algum projeto específico que pretende apresentar já no início da legislatura?
Seto – A gente está finalizando um estudo para apresentar um projeto na questão da educação e da prevenção da saúde. Principalmente com essa pandemia ficou evidente que a saúde não pode ser vista somente em época de pandemia. Tem que ser algo continuado e fazer parte da cultura do povo. Desde a saúde alimentar, mental. Preparar o estudante para ser mais preparado. Inclusive o primeiro requerimento que apresentei foi pedindo esclarecimentos da prefeitura sobre as atividades que estão previstas no “Janeiro Branco”, que trata da saúde mental. Que se agravou justamente na pandemia. Muitas pessoas apresentavam depressão, ansiedade. E com a pandemia se agravou. A pessoa perde o emprego, insegurança, incerteza. Mais importante ainda que nesse mês seja reforçada a questão do “Janeiro Branco”.
PRINCÍPIOS
‘Na dificuldade é que temos que dar a cara para bater’
Bem Paraná – O senhor fez parte do movimento Renova BR Cidades, que é um movimento de renovação da política. Mas muitas pessoas têm sido eleitas com essa bandeira, e quando assumem acabam entrando no jogo da velha política. Como evitar isso?
Nori Seto – O Renova BR, além de pregar a renovação, prega a questão do preparo para as pessoas atuarem na vida pública. Acho que isso é o princípio de tudo. Se a pessoa está preparada, vai também saber, teoricamente o que é certo e errado. A gente vai sempre ouvir a população. Sempre com base em fatos e evidências para ver qual caminho seguir. As pessoas que nos elegeram têm o direito de cobrar.
BP – O seu pai também foi vereador em Guaiçara, nos anos 70. O que o senhor acha que o Cláudio Seto vereador diria para o Nori Seto vereador?
Seto – Na verdade ele sempre dizia, primeiro… Pode parecer loucura a gente entrar em na política nesse momento de crise econômica, social, de saúde, pandemia. Mas ele sempre falava que no momento de dificuldades, que nós temos que dar a cara para bater e fazer alguma coisa para mudar a situação. Outra coisa que ele sempre dizia, que tem o bushido, que é o código de ética dos samurais. Um código não escrito. Mas que fazia que os samurais vivessem e morressem com honra. Tem vários princípios, honra, lealdade, honestidade, patriotismo. Um dos mais famosos samurais do Japão sempre dizia que a vida de uma pessoa é limitada, mas a honra e o respeito duram para sempre. É com base nesses princípios que a gente se guia. Esses ensinamentos são uma base.
BP – Como o senhor vê a forma como as autoridades têm lidado com essa questão da pandemia em Curitiba?
Seto – Na verdade a pandemia é uma coisa que pegou todo mundo de surpresa. Mesmo as autoridades nacionais e internacionais ficaram em dúvida sobre como agir nesse momento. Então é difícil a gente julgar. Mas acredito que o município está fazendo tudo para proteger a população. Acho que teve mais acertos do que erros. É lógico, tem a questão da economia. Ofereceram linhas de crédito, mas muitos empresários não conseguiram chegar a essas linhas por causa da burocracia. Por isso, uma das nossas bandeiras é a redução da burocracia. Acredito ainda que a sociedade tem que participar e não esperar só do governo. Se unir.