A TransparĂªncia Internacional denunciou nesta segunda-feira, 3, Ă  OrganizaĂ§Ă£o dos Estados Americanos (OEA) o que classificou como “desmonte das polĂ­ticas de combate Ă  corrupĂ§Ă£o” no Brasil e em outros paĂ­ses da AmĂ©rica Latina. A organizaĂ§Ă£o diz que “os esforços recentes para desmantelar mecanismos legais e institucionais do combate Ă  corrupĂ§Ă£o” no Brasil “promoveram um cenĂ¡rio de impunidade em relaĂ§Ă£o a empresas, agentes pĂºblicos e privados cujo envolvimento em esquemas de corrupĂ§Ă£o transnacionais jĂ¡ haviam sido amplamente verificados”.

“Pedimos que a comissĂ£o passe a considerar os riscos de corrupĂ§Ă£o e os impactos da corrupĂ§Ă£o de forma transversal no seus relatĂ³rios sobre Direitos Humanos e avaliaĂ§Ă£o por paĂ­ses. Solicitamos que seja indicado um ponto focal para acompanhar o tema de corrupĂ§Ă£o na ComissĂ£o Interamericana. E solicitamos tambĂ©m que seja integrado uma abordagem de Direitos Humanos no mecanismo de verificaĂ§Ă£o da implementaĂ§Ă£o da ConvenĂ§Ă£o Interamericana AnticorrupĂ§Ă£o”, afirma o gerente de pesquisa e advocacy da TransparĂªncia Internacional, Guilherme France.

A TransparĂªncia Internacional apresentou o pedido de audiĂªncia na OEA com entidades de ColĂ´mbia, Guatemala, RepĂºblica Dominicana, Venezuela e Brasil. Na reuniĂ£o, os representantes de organizações nĂ£o governamentais de cada PaĂ­s apresentaram casos de violações Ă  polĂ­tica de combate Ă  corrupĂ§Ă£o e de defesa de direitos humanos. Entre os casos, France destacou as decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli sobre o acordo de leniĂªncia da Odebrecht, atualmente Novonor.

O objetivo Ă© fazer com que o tema do combate Ă  corrupĂ§Ă£o seja debatido nas comissões da OEA para que possam se tornar recomendações da organizaĂ§Ă£o aos paĂ­ses citados.

“As organizações abaixo assinadas solicitam uma audiĂªncia temĂ¡tica regional. O objetivo Ă© divulgar exemplos especĂ­ficos de atos de corrupĂ§Ă£o ocorridos no Brasil, na ColĂ´mbia, na Guatemala, na RepĂºblica Dominicana e na Venezuela, e mostrar concretamente como esses eventos afetaram negativamente o gozo dos direitos humanos ou deram origem a violações dos mesmos. Em particular, referimo-nos a vĂ¡rios casos de violações dos direitos humanos ligados aos danos ambientais causados ??pelas empresas, aos ataques ao poder judicial e Ă  sua falta de independĂªncia, Ă  perseguiĂ§Ă£o de jornalistas e defensores que denunciam a corrupĂ§Ă£o, Ă  deterioraĂ§Ă£o da democracia e Ă  corrupĂ§Ă£o transnacional”, dizem no pedido enviado Ă  OEA.

De acordo com France, o prĂ³ximo passo Ă© submeter um relatĂ³rio completo do que a TransparĂªncia Internacional considera como transgressões Ă  polĂ­tica de combate Ă  corrupĂ§Ă£o.

“O prĂ³ximo passo vai ser a gente submeter um relatĂ³rio completo, com todas informações compiladas para justamente subsidiar de forma mais detalhada o trabalho da comissĂ£o, que Ă© avaliar os riscos e as violações aos direitos humanos por diferentes razões, inclusive, pela corrupĂ§Ă£o”, detalhou.

ApĂ³s analisar os casos denunciados pela TransparĂªncia, a organizaĂ§Ă£o pode emitir recomendações aos paĂ­ses membros. O objetivo Ă© fazer com que as nações signatĂ¡rias implementem medidas que fortaleçam a defesa dos direitos humanos e o combate Ă  corrupĂ§Ă£o.

No mĂªs passado, a TransparĂªncia Brasil jĂ¡ havia criticado a decisĂ£o de Toffoli que anulou as ações contra o ex-ministro Antonio Palocci. Em nota, a entidade classificou a medida como “mais um passo no desmonte do enfrentamento Ă  macrocorrupĂ§Ă£o” no Brasil e alertou que tais decisões abalam a confiança da sociedade no STF.

“Os impactos das recentes decisões judiciais nĂ£o se limitam ao territĂ³rio brasileiro, uma vez que evidĂªncias que serviram de base para investigações e processos em vĂ¡rios paĂ­ses da AmĂ©rica Latina foram invalidadas irregularmente. No caso Lava Jato, um juiz do Supremo Federal anulou provas de confissões de executivos da Odebrecht considerando que sĂ£o ‘inutilizĂ¡veis’ por ‘qualquer jurisdiĂ§Ă£o’. Esta impunidade implica esvaziando os esforços para promover a reparaĂ§Ă£o dos direitos das vĂ­timas difuso e individual desses esquemas de corrupĂ§Ă£o, com repercussões nĂ£o sĂ³ no Brasil mas tambĂ©m em toda a AmĂ©rica Latina”, diz a TransparĂªncia no relatĂ³rio preliminar apresentado Ă  OEA.

De acordo com a TransparĂªncia Internacional, a corrupĂ§Ă£o “produz violações de direitos humanos que devem ser abordados de forma estrutural”.

“A corrupĂ§Ă£o aumenta a pressĂ£o sobre a decisĂ£o de realizar determinadas obras, apesar de riscos e impactos, possibilita interferĂªncia no licenciamento ambiental, agrava os impactos diretos e indiretos (incluindo aqueles sofridos pelos povos indĂ­genas, comunidades tradicionais e outros grupos afetados) e prejudica a gestĂ£o de recursos destinados Ă  mitigaĂ§Ă£o e compensaĂ§Ă£o. Nesse sentido, produz violações de direitos humanos que devem ser abordados de forma estrutural, o que Ă© inviabilizado pela mencionado processo de desestruturaĂ§Ă£o de mecanismos legais e institucionais anticorrupĂ§Ă£o no Brasil”, sustenta.