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SĂ³stenes Cavalcante (PL-RJ) Pedro França/AgĂªncia Senado

A oposiĂ§Ă£o e parte do centrĂ£o se movimentam no Congresso para alterar o projeto que amplia a faixa de isenĂ§Ă£o do Imposto de Renda. O principal alvo Ă© a proposta de compensar a perda de arrecadaĂ§Ă£o com a ampliaĂ§Ă£o da cobrança sobre o estrato mais rico da populaĂ§Ă£o.

Apontado como uma das principais bandeiras de Lula (PT) na tentativa de se reeleger em 2026, a proposta jĂ¡ foi aprovada em comissĂ£o especial e estĂ¡ pronta para ser votada no plenĂ¡rio da CĂ¢mara, o que deve ocorrer nas prĂ³ximas semanas.

O texto atual, relatado pelo ex-presidente da CĂ¢mara Arthur Lira (PP-AL), eleva a faixa de isenĂ§Ă£o do IR de R$ 3.036 para R$ 5.000, com desconto parcial para rendas de atĂ© R$ 7.350. A compensaĂ§Ă£o se darĂ¡ pela criaĂ§Ă£o do imposto mĂ­nimo para quem ganha a partir de R$ 50 mil mensais (cerca de R$ 600 mil anuais), com alĂ­quota de 10% para quem ganha a partir de R$ 1,2 milhĂ£o ao ano.

OposiĂ§Ă£o

O lĂ­der do PL na CĂ¢mara, SĂ³stenes Cavalcante (RJ), afirmou nesta quarta-feira (27) que o partido irĂ¡ apresentar emenda para derrubar toda a proposta. E que o movimento tem apoio do centrĂ£o.

“NĂ³s somos a favor da isenĂ§Ă£o atĂ© R$ 10 mil. Vamos apresentar destaque [emenda] para o PT botar digital lĂ¡ de que Ă© contra”, disse. “E vamos apresentar emenda para nĂ£o ter compensaĂ§Ă£o. O Partido Liberal Ă© a favor de reduĂ§Ă£o de imposto e nĂ£o de aumento”.

Questionado se o projeto como um todo nĂ£o seria inviabilizado caso a compensaĂ§Ă£o caia, SĂ³stenes disse que esse Ă© um problema do governo e “ele que se vire”.

O lĂ­der do partido de Jair Bolsonaro afirmou ainda nĂ£o temer ser alvo da campanha que o PT e o governo patrocinaram nas redes sociais –e que prometem repetir agora na votaĂ§Ă£o– de que os contrĂ¡rios ao projeto querem defender ricos e privilĂ©gios em detrimento do alĂ­vio no bolso dos mais pobres e da classe mĂ©dia.

“Eu tenho certeza que o CentrĂ£o virĂ¡ conosco e nĂ£o vai ter compensaĂ§Ă£o. NĂ£o estamos preocupados com isso [campanha ricos x pobres]. ‘Ah, estĂ£o defendendo os ricos’. NĂ³s defendemos que o brasileiro paga imposto demais. Pobre, rico, classe mĂ©dia, milionĂ¡rio. Tem que reduzir impostos.”

CentrĂ£o

Os presidentes do UniĂ£o Brasil, AntĂ´nio Rueda, e do PP, Ciro Nogueira, defendem ou a derrubada ou alterações que minimizem o impacto para a parte mais rica da populaĂ§Ă£o.

Rueda tem se manifestado contra a criaĂ§Ă£o do imposto sobre rendas mais altas. Contudo, integrantes do partido dele dizem que Ă© preciso conversar antes porque nĂ£o dĂ¡ para derrubar a medida sem colocar outra forma de compensaĂ§Ă£o, como defende o PL.

O PP chegou a propor aumentar de R$ 50 mil para R$ 150 mil a faixa de cobrança dos mais ricos, mas abandonou a proposta. O partido, no entanto, defenderĂ¡ mudanças no plenĂ¡rio.

A sigla vai pedir que seja votada uma emenda do deputado ClĂ¡udio Cajado (PP-BA) para aumentar a CSLL (ContribuiĂ§Ă£o Sobre o Lucro LĂ­quido) dos bancos com faturamento superior a R$ 1 bilhĂ£o por ano, de 21% para 25%, como forma de elevar a faixa de renda que terĂ¡ desoneraĂ§Ă£o. AlĂ©m disso, irĂ¡ propor a elevaĂ§Ă£o do teto de isenĂ§Ă£o parcial de R$ 7.350 para R$ 7.590. “AĂ­ alcançaremos cinco salĂ¡rios mĂ­nimos”, diz Cajado.

Hugo Motta

Apesar das movimentações, o presidente da CĂ¢mara, Hugo Motta (Republicanos-PB), manifestou nesta quarta defesa de aprovaĂ§Ă£o do texto em plenĂ¡rio, sem modificações de relevo.

“A aprovaĂ§Ă£o por unanimidade [na comissĂ£o] demonstra que o trabalho foi bem feito. Claro que teremos emendas e destaques que queiram mudar algo, mas, pela construĂ§Ă£o feita, entendo que o texto da comissĂ£o possa vir a ser mantido. Temos que aguardar, a polĂ­tica Ă© dinĂ¢mica, Ă© uma Casa plural, vamos enfrentar os destaques e as iniciativas para aumentar a bondade do pacote, mas a CĂ¢mara vai ter responsabilidade”, disse durante evento do grupo Globo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tambĂ©m se disse otimista com a votaĂ§Ă£o apĂ³s encontro com Motta nesta quarta. “O apoio Ă  taxaĂ§Ă£o dos super-ricos Ă© maior que a isenĂ§Ă£o. Porque a sensaĂ§Ă£o Ă© que hĂ¡ muita injustiça no Brasil e os super-ricos precisam contribuir com uma justa parte.”

Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, nesta quarta, o ministro Rui Costa (Casa Civil) disse que serĂ¡ difĂ­cil para a oposiĂ§Ă£o se colocar contra a medida. “OposiĂ§Ă£o Ă© para dificultar a vida de governo, Ă© assim em qualquer lugar do mundo. Ă€s vezes, em alguns lugares, ganha irracionalidade. (…) O que eles podem fazer Ă© isso, Ă© votar o projeto e eventualmente tentar que nĂ£o tenha compensaĂ§Ă£o, o que criaria dificuldade de manter escolas, hospitais, porque em qualquer governo do mundo precisa de recursos para manter os serviços pĂºblicos funcionando.”