Para vereador Denian Couto, Câmara fiscaliza ‘pouco e mal’

Parlamentar diz que sua principal meta é combater privilégios e fiscalizar poder público

Da Redação

Franklin de Freitas - Denian Couto (Pode): “Farei fiscalização responsável”

O jornalista Denian Couto (Podemos) ficou conhecido pelas críticas à classe política nos programas de rádio e televisão em que atuou ao longo de 26 anos de carreira. Nascido em Porto Alegre (RS), ele veio para Curitiba em 2005, onde atuou em várias emissoras. Em 2020, já com a bagagem também de bacharel, mestre, doutor e professor de Direito, resolveu ele mesmo se candidatar à uma vaga na Câmara Municipal, sendo eleito com 7.005 votos.
Agora, “do outro lado do balcão”, Couto garante que não mudará de postura. Tanto que logo na posse, seu primeiro ato foi abrir mão do carro oficial e da cota de combustível e selos colocada à disposição dos parlamentares.
Além do combate aos privilégios, o novo vereador pretende ainda atuar na fiscalização dos atos do Poder Público – incluindo a gestão Rafael Greca (DEM). Em entrevista ao Bem Paraná, ele afirma que a Câmara “fiscaliza pouco e fiscaliza mal”. “Eu não vou me moldar à politica tradicional. Vou continuar sendo o mesmo Denian da rádio e da TV”, garante.

Bem Paraná – Onde o senhor nasceu e qual a sua formação?
Denian Couto – Nasci em Porto Alegre. Sou formado em Jornalismo. Vim para Curitiba em 2005. Também sou bacharel em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutor em Direito Constitucional. E sou professor de Direito Constitucional na Uni Opet, Unicesumar, na Faap e BDConst. No jornalismo, atualmente estou na Rede Mercosul.

BP – Como foi o seu envolvimento na política?
Denian – Na verdade eu me interesso em política desde sempre. Sou de uma família que sempre teve na política muito interesse, desde os meus avós. Eu me interessei desde muito cedo, desde a escola. Estudei jornalismo e desde a faculdade sempre, no estágio e depois na vida profissional, eu sempre trabalhei com jornalismo político. O meu interesse pela política sempre foi como jornalista, analista e aí nesse ano decidi disputar a eleição.

BP – E o que foi determinante para que o senhor entrasse na política partidária e se lançasse candidato?
Denian – Primeiro eu me senti preparado para enfrentar uma eleição. Tecnicamente, e também quanto à questão de maturidade pessoal de entender que o momento era esse. Eu venho fazendo críticas à classe política nesses anos todos. E entendi que chegou o momento de ir além da posição jornalística para fazer a crítica à classe política do lado de dentro. Sempre tive na minha atuação profissional uma posição muito crítica à desvios na política, a condutas que eu considero inadequadas quanto ao comportamento moral. Entendi que chegou a hora. Antes de tomar uma decisão, ainda assim eu consultei minha família, meus amigos, ouvintes, alunos, e foi depois de muita reflexão que tomei a decisão de disputar.

LEGISLATIVO
‘Temos muitas leis inócuas e inconstitucionais’ ‘Temos muitas leis inócuas e inconstitucionais’

Bem Paraná – Qual a principal bandeira de seu mandato?
Denian Couto – Não considero que tenha uma bandeira em particular. Acho que eu tenho pontos de atuação que são convergentes. Por um lado, defendo uma questão de mudança na forma de se fazer política. Uma construção de uma política diferente, calcada em princípios de natureza moral, de fim de privilégios da classe política. Um controle maior da atividade legislativas. A gente tem uma produção muito grande em Curitiba de leis que são inócuas ou inconstitucionais. Uma produção de normas jurídicas, repetição de homenagens, de dar nomes de ruas, e uma produção legislativa que eu considero de baixa qualidade. Então por um lado teria um foco de uma produção legislativa que fosse calcada no interesse da sociedade. O segundo ponto: fiscalização do poder público, do Poder Executivo, de maneira efetiva. Eu penso que o Poder Legislativo fica aquém do seu papel fiscalizador. Ela fiscaliza pouco e fiscaliza mal. Principalmente aquilo que toca os pontos centrais da competência do município, que é saúde e educação básica, e a questão do transporte coletivo, lixo, meio ambiente. Me parece que a fiscalização realizada pela Câmara de Vereadores é fragilizada. Eu tendo a usar o mandato para uma fiscalização efetiva do governo. O terceiro ponto é o investimento político na questão da educação básica. Para que ela seja tratada com qualidade.

BP – Em relação à gestão Greca, o senhor pretende ser da base de apoio ao prefeito, oposição ou independente?
Denian – Me considero um vereador independente. Não vou integrar nem a base do prefeito Greca, nem farei oposição. Farei uma fiscalização responsável.

BP – No dia da posse, o senhor anunciou a decisão de abrir mão do veículo oficial colocado à disposição dos vereadores, além da cota de selos e combustível. Porque?
Denian – Na minha opinião, o uso do veículo e dois demais benefícios configura ato imoral. O recebimento desses benefícios nesta Câmara Municipal afronta claramente não apenas as regras gerais da boa administração, mas a própria essência de nosso Estado Democrático de Direito que cobra daqueles que ocupam função pública condutas de probidade, de equidade e de justiça. Em todos os canais que atuei como jornalista, sempre defendi o fim dos privilégios. Esse foi também um de meus compromissos de campanha. A hora é de enfrentamento.

PLENÁRIO
‘Não vou me moldar à política tradicional’

Bem Paraná – O jornalista, muitas vezes é visto como um representante da população na cobrança de políticos e autoridades. Como o senhor encara o desafio de passar para o outro lado do balcão e passar de estilingue à vidraça?
Denian Couto – Tenho ouvido dos políticos, não dos meus ouvintes: ‘agora eu quero ver, agora você está do lado de cá, você é vidraça, você vai ter que se moldar ao modelo da política’. Eu não vou me moldar à politica tradicional. Vou continuar sendo o mesmo Denian da rádio e da TV. Com a diferença que eu farei a fiscalização, a cobrança na tribuna. A partir das medidas que são possíveis de um membro do Poder Legislativo. Eu quero ser fiscalizado quanto aos meus atos. Que a imprensa e os cidadãos cobrem o que eu estou fazendo. Quanto eu gasto no gabinete. Quanto o mandato custa para o cidadão. Quero que ele vá lá e veja a minha lista de presenças, quais os projetos que eu vou relatar. Isso é um anseio meu. Se é para ingressar na política é para fazer diferente, não é para fazer igual os outros. Estou muito animado com a chance que o eleitor me deu.

BP – Muito se fala na “nova política”. Mas muitas vezes aqueles que se elegem sob essa bandeira acabam adotando uma postura pragmática. Como evitar isso?
Denian – Eu acho que o maior aprendizado é justamente não fazer do jeito daqueles que disseram representar a nova política e acabaram em erro. Esses políticos ficaram mais preocupados em aparecer nas redes sociais, em produzir factoides, em ganhar curtidas no facebook em ficar na modinha e lacrar nas redes sociais do que em produzir uma política diferente. Eu creio que dá para fazer diferente. Mas não é ficar buscando protagonismo falso, pueril, quinze minutos de fama. É você realmente cultivar uma política diferente.

BP – O senhor tem algum projeto que pretenda apresentar já no início da legislatura?
Denian – Tem uma série de projetos de lei que eu pretendo protocolar o quanto antes. Um deles é ampliar o trabalho desempenhado pelos Farois do Saber. Para que eles cumpram também o papel de educação cidadã. De cursos para jovens e adultos sobre seus direitos fundamentais de uma nova forma de cidadania. As pessoas precisam ser educadas quanto aos seus direitos. O cidadão comum, infelizmente, muito por problemas da educação básica, não sabe compreender quais são os seus direitos básicos. Não sabe nem na porta de quem ele tem que bater para que tenha uma resposta aos seus direitos.