O maioria da populaĂ§Ă£o brasileira segue contrĂ¡ria Ă  alteraĂ§Ă£o no modelo de governabilidade do PaĂ­s. É o que mostra a Ăºltima pesquisa AltasIntel, que identificou uma rejeiĂ§Ă£o de 71% dos brasileiros Ă  proposta defendida por atores polĂ­ticos poderosos de migrar do atual regime presidencialista para o semipresidencialista, no qual o Congresso ganha mais poderes com o desempenho de funções do governo federal.

A pesquisa realizada para o programa GPS CNN, ao qual o EstadĂ£o teve acesso, mostra que apenas 18% dos brasileiros sĂ£o favorĂ¡veis Ă  adoĂ§Ă£o de um modelo de governo semelhante ao da França ou de Portugal. Nesses dois paĂ­ses, o presidente exerce apenas o papel de chefe de Estado, com atribuições como o controle das Forças Armadas, mas quem executa o orçamento Ă© o primeiro-ministro com apoio parlamentar.

AlĂ©m disso, 11% dos entrevistados responderam que nĂ£o sabem qual modelo Ă© melhor. A pesquisa AtlasIntel ouviu 817 pessoas em todo PaĂ­s, entre os dias 11 e 13 de fevereiro. A margem de erro do levantamento Ă© de 3 pontos percentuais e o nĂ­vel de confiança Ă© de 95%. Os entrevistadores tambĂ©m responderam sobre o nĂ­vel de confiança nas instituições.

De acordo com o levantamento, o apoio ao semipresidencialismo Ă© maior entre eleitores que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno das eleições de 2022. A AtlasIntel identificou que 25,1% desse grupo Ă© favorĂ¡vel ao novo modelo de governo, antes a 0,3% dos eleitores do presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT).

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou as discussões sobre a adoĂ§Ă£o do semipresidencialismo. Ela afirmou que a proposta em discussĂ£o na CĂ¢mara pretende “tirar da maioria da populaĂ§Ă£o o direito de eleger um presidente com poderes de fato para governar”.

O debate sobre a adoĂ§Ă£o do semipresidencialismo voltou a ganhar força em BrasĂ­lia apĂ³s o novo presidente da CĂ¢mara demonstrar apoio Ă  mudança do regime de governo para o parlamentarismo, no qual o primeiro-ministro acumula as funções de chefe de governo e Estado. Logo apĂ³s as falas de Motta, a proposta de Emenda Ă  ConstituiĂ§Ă£o (PEC) do semipresidencialismo atingiu o nĂºmero de assinaturas necessĂ¡rias para ser protocolada.

O modelo de semipresidencialismo em discussĂ£o na CĂ¢mara daria ao premiĂª a capacidade de definir o plano de governo e o controle do Orçamento, alĂ©m de empoderar a CĂ¢mara, que poderia votar sozinha as moções de confiança e censura. PorĂ©m, os brasileiros jĂ¡ rejeitaram duas vezes em plebiscito e referendo o fim da figura do presidente.

A defesa de um modelo de governo alternativo ao presidencialismo tem sido recorrente entre atores polĂ­ticos relevantes. O ex-presidente da CĂ¢mara, deputado federal Arthur Lira (PP-AL), o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes sĂ£o algumas das principais vozes a favor do semipresidencialismo.

Essas autoridades argumentam que as crises polĂ­ticas seriam menos custosas e traumĂ¡ticas com a figura do primeiro-ministro no lugar do presidente. Na avaliaĂ§Ă£o deles, a substituiĂ§Ă£o de um primeiro-ministro impopular seria mais tranquila do que o impeachment de um presidente eleito pela maioria dos eleitores.