
O Senado aprovou nesta quarta-feira (27) o projeto de lei que busca proteger crianças e adolescentes em meios digitais. A anĂ¡lise da proposta começou no Legislativo em 2022, mas ganhou traĂ§Ă£o recentemente depois de vĂdeo do influenciador Felca viralizar expondo situações de exploraĂ§Ă£o infantil na internet. O tema ficou conhecido como “adultizaĂ§Ă£o”.
O texto obriga as plataformas digitais a adotarem mecanismos para impedir acesso de crianças e adolescentes a conteĂºdos inadequados, alĂ©m de estabelecer regras gerais para uso de recursos virtuais por esse pĂºblico.
Empresas que nĂ£o cumprirem as determinações estarĂ£o sujeitas a, nos casos mais extremos, multa de atĂ© R$ 50 milhões por infraĂ§Ă£o e atĂ© mesmo a proibiĂ§Ă£o de operar no paĂs, segundo o texto. TambĂ©m Ă© determinada a criaĂ§Ă£o de uma estrutura estatal responsĂ¡vel pela aplicaĂ§Ă£o das regras. Isso demandarĂ¡ a discussĂ£o de uma lei especĂfica para seu funcionamento.
A aprovaĂ§Ă£o pelo Senado foi por votaĂ§Ă£o simbĂ³lica -sem necessidade de contar os votos- e encerra as discussões sobre o projeto no Congresso Nacional. Os senadores Carlos Portinho (PL-RJ), Eduardo GirĂ£o (Novo-CE) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) pediram para registrar que eram contra a proposta.
O texto seguirĂ¡ para sanĂ§Ă£o do presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva. O autor do projeto foi o senador Alessandro Vieira (MDB-SE).
‘Estatuto digital’
O relator, senador FlĂ¡vio Arns (PSB-PR), recomendou que os colegas aprovassem a medida quase na forma como avalizada pelos deputados na semana passada. TambĂ©m batizou oficialmente o texto como Estatuto Digital da Criança e do Adolescente.
A principal alteraĂ§Ă£o feita por Arns, e aprovada pelos senadores, foi a proibiĂ§Ă£o das caixinhas de recompensas em jogos direcionados a crianças e adolescentes ou que provavelmente serĂ£o jogados por esses grupos.
As caixinhas de recompensa sĂ£o eventos, normalmente pagos, em que o jogador participa de um sorteio virtual para obter ou nĂ£o um item necessĂ¡rio para avançar em um jogo. Por exemplo, uma espada mais poderosa em jogos com lutas de espadas.
O senador afirmou que esses mecanismos funcionam de maneira semelhante a jogos de azar, jĂ¡ que nĂ£o hĂ¡ certeza sobre qual serĂ¡ a recompensa.
“Se a legislaĂ§Ă£o vigente considera ilegais os jogos de azar voltados para adultos, como muito mais razĂ£o devemos proibir tambĂ©m os jogos de azar direcionados para os menores de idade, que sĂ£o pessoas vulnerĂ¡veis”, escreveu Arns em seu relatĂ³rio.
O projeto veda o “perfilamento” desses usuĂ¡rios com fins de propaganda. Ou seja, proĂbe que empresas analisem o perfil de crianças e adolescentes com base em seus hĂ¡bitos digitais para exibir propaganda direcionada a esses grupos.
MonetizaĂ§Ă£o
Um dos artigos proĂbe a monetizaĂ§Ă£o e impulsionamento de conteĂºdos “que retratem crianças e adolescentes de forma erotizada ou sexualmente sugestivo”. MonetizaĂ§Ă£o Ă© a remuneraĂ§Ă£o de produtores de conteĂºdo pelas plataformas digitais. Impulsionamento Ă© o ato de pagar a uma empresa de tecnologia para que mais pessoas vejam determinada postagem.
O texto aprovado prevĂª remoĂ§Ă£o de conteĂºdo caso haja decisĂ£o judicial ou apĂ³s as plataformas serem comunicadas a respeito de violaĂ§Ă£o dos direitos de crianças e adolescentes em casos de exploraĂ§Ă£o ou abuso sexual, violĂªncia, intimidaĂ§Ă£o ou assĂ©dio, automutilaĂ§Ă£o, suicĂdio, promoĂ§Ă£o de jogos de azar, tabaco ou bebidas alcoĂ³licas, pornografia, entre outros.
A proposta teve apoio do governo Lula e, de inĂcio, sofreu resistĂªncia de congressistas de direita. Segundo esse grupo, havia risco de a nova lei, quando em vigor, tolher a liberdade de expressĂ£o. Mesmo senadores dessa tendĂªncia polĂtica apoiaram o projeto durante a votaĂ§Ă£o.
Arns afirmou que o espĂrito do texto Ă© de proteĂ§Ă£o a crianças e adolescentes, “sem descuidar das necessĂ¡rias garantias de respeito Ă liberdade de expressĂ£o e de vedaĂ§Ă£o Ă censura”.
“Quando a classificaĂ§Ă£o indicativa passou no Congresso Nacional ainda tinha gente dizendo ‘isso vai nos censurar’. Graças a Deus a classificaĂ§Ă£o indicativa passou, foi uma bĂªnĂ§Ă£o. A gente agora estĂ¡ fazendo a mesma coisa”, declarou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
“Esse projeto de lei ajuda a proteger a parte mais importante da sociedade”, disse o senador Marcos Pontes (PL-SP). Pontes e Damares sĂ£o parte do grupo polĂtico que falava em possibilidade de censura.