Solange Bueno: contra novos pedágios (Valquir Aureliano)

Candidata pela primeira vez, Solange Bueno (PMN) aposta no apoio dos eleitores do presidente Jair Bolsonaro para ser eleita governadora do Paraná. Natural de Maringá, no norte do estado, e professora de música, a candidata do PMN se define como “oposição ferrenha” ao governador e candidato à reeleição Ratinho Júnior (PSD), mas à direita dele. Ela diz que pretende dar mais transparência às ações do governo e combater a Agenda 2030, programa da ONU para o desenvolvimento sustentável. Entre suas propostas ainda estão a criação de conselhos para definir as políticas de reajustes e de investimentos e a abertura de concursos públicos para a contratação de servidores.

Bem Paraná — Como foi a sua trajetória até essa primeira candidatura?
Solange Bueno
– Nunca fui política de concorrer a cargo, mas sempre fui politizada, observava e fazia críticas aos candidatos. Quando eu tive a certeza de que não me ouvem e que não ouvem as pessoas, eu resolvi mudar. Antes eu era somente eleitora, hoje eu sou a pessoa que pede votos para vencer uma eleição, para depois do dia 1º de janeiro de 2023 eu ouvir a população. É muito injusto um político estar em contato com as pessoas antes e depois se fechar em um escritório, achar que é o dono do Paraná. Em função de não ter políticos eleitos pelo povo que saibam ouvir é que eu resolvi me candidatar. O PMN procurou partidos para fazer coligações, mas os partidos estavam fechados com alguém. Quando 90% ou 95% estão fechados com uma única pessoa, isso é uma unanimidade, e toda unanimidade é burra. Tira o nosso direito de fazer o que é correto, tira a nossa democracia.

BP — Seu plano de governo fala muito em diálogo e na criação do Conselho Participativo de Política Salarial e o Conselho Participativo de Política de Investimento. Em que medida falta esse tipo de diálogo hoje?
Solange Bueno –
Fiz um plano de governo conversando com a população. Quero que o professor também seja responsável para dizer quanto ele pode ganhar para não fazer greve. Quero um conselho para decidir o salário dos professores, dos policiais, dos médicos. Nessa caminhada eu descobri que as filas de saúde estão como estão porque não tem diálogo, não tem conversa e não tem transparência. Quanto arrecada o nosso governo, quanto gasta com folha de pagamento, quanto é cabide de emprego? Todos esses valores a gente quer colocar na mesa e colocar para a população. Sabe quantos meses ficou o Portal da Transparência sem abrir? Para mim tudo que não é transparente tem alguma coisa por trás.

BP — Seu plano também propõe uma auditoria nas contas do governo.
Solange Bueno –
Eu vou abrir a caixa preta dos pedágios e não só desse governo. Vou abrir a caixa preta da saúde, onde está o dinheiro que veio do governo federal para o paraná? Onde foi investido esse dinheiro, foram pagas outras contas? Tenho que abrir o cofre, mandar pegar todas as notas e vamos ver para onde foi o dinheiro. Transparência é transparência. O imposto deveria ser respeitado como se fosse algo sagrado. É um dinheiro de toda a população e também da população que ganha salário mínimo e paga imposto na hora de comprar arroz e feijão. Em cada área vou ter os profissionais competentes para a gente buscar os dados e trazer para a população o que aconteceu. Não vai ser no primeiro mês que vou conseguir isso. A gente não vai parar o estado, mas a gente vai ter que saber onde está o dinheiro. Principalmente em relação à saúde e ao pedágio.

RODOVIAS
‘Não vai ter mais praças de pedágio’
Bem Paraná —
Seu programa é bastante crítico ao pedágio, que está em processo de licitação pelo DNIT. A senhora pretende interferir no processo, ou mesmo pará-lo?
Solange Bueno – Está no projeto para serem licitadas 15 novas praças. No meu governo não vai ter mais 15 praças de pedágio. Está previsto um pedágio entre Cascavel e Toledo. Tem cerca de 45 km, tem muita gente que dorme em Toledo e trabalha ou estuda em Cascavel, é uma circulação como se fosse a mesma cidade. Colocar pedágio ali? Troco de nome se no meu governo colocarem pedágio entre Cascavel e Toledo.

BP — Mas a senhora é contra esse ponto específico ou contra o modelo?
Solange Bueno –
Posso mexer e deixar do jeito que acho conveniente para a população. O (ex-governador) Jaime Lerner fez um contrato em que, dizem, não dava para mexer. Diziam que “ou abaixa ou acaba”, mas não foi feito nada. Pelo contrário, as empresas foram desobrigadas de duplicar as pistas. Se existir oportunidade de o governo assumir o pedágio a R$ 2, vou fazer isso. Querem fazer um pedágio de 30 anos para ficarmos escravos de novo. Eu não vou admitir isso. Sempre vou lutar pelas classes de trabalhadores e caminhoneiros.

BP — Então existe a possibilidade de o governo assumir o pedágio?
Solange Bueno –
Existe a possibilidade, tem que colocar nas contas. Para a manutenção eu já tenho o IPVA. Por que eu tenho que pagar dois impostos para a mesma coisa? Eu não aceito isso. Outra coisa que eu não aceito é a Agenda 2030 (Plano Global da ONU para o desenvolvimento sustentável).

BP — E qual a sua agenda para o meio ambiente?
Solange Bueno –
A primeira coisa é combater a Agenda 2030. A soberania do agricultor do Paraná está acima dessa agenda. Não vou permitir que um órgão internacional diga para o agricultor paranaense o que ele vai plantar. Temos que ter soberania. Não tem essa de ONGs mandarem no nosso pedaço. O presidente está cuidando da Amazônia. Falam que estão queimando a Amazônia, como vai queimar mata úmida?

BP — Então a sua candidatura é de oposição a Ratinho Júnior, mas à direita?
Solange Bueno –
Claro. Se o povo paranaense perceber que estou candidata para mudar o que está aí, a população vem para o meu lado. O PMN é um partido de centro-direita. Tentam nos colocar como de centro-esquerda para eu não crescer nas pesquisas. Fiquei triste quando não fizemos aliança com nenhum partido, mas hoje estou agradecendo, porque eu não tenho compromissos com partidos. Meu compromisso é com o paranaense, o caminhoneiro, o policial, o professor, o servidor público, o empresário.

IDEOLOGIA
‘Tudo que é extremista não é bom’
Bem Paraná — Quais os principais problemas do governo Ratinho Júnior, na sua opinião?
Solange Bueno –
Para quem foram doados os R$ 17 bilhões em isenções fiscais? Eu não achei. Onde estão os deputados? Tem que ser aberto para a população. Se há duas empresas com o mesmo faturamento e só uma ganha isenção, isso é justo? Então vamos dar isenção para todos. Para o pessoal com dívida ativa porque recebeu multa durante a pandemia. O microempreendedor, o pequeno e o médio empresário precisam de isenção. Sou oposição ferrenha ao Ratinho Júnior. Não estou falando por mim, estou falando pelo povo que eu ouvi. Outro ponto, o governo deu 3% de reajuste para os servidores. E fez uma coisa que deveria ser caracterizada como pedalada, tirou 50% dos salários dos contratados via PSS (Processo Seletivo Simplificado, com contratação sem concurso público) e agora devolveu 43%.
BP — Na educação, por exemplo, qual o principal problema no estado?
Solange Bueno –
Querem o PSS para tudo. E aí acabou o professor que vai realmente estudar. O governo não tem compromisso com o professor. Parece que eles estão querendo privatizar a educação no Paraná.
BP — Sua candidatura é de direita, mas não privatista?
Solange Bueno –
Totalmente não. Se eu privatizar a Sanepar, alguém tem ideia de quando vai pagar? Ela é mista, se aumentar isso (a participação privada) vai ficar pior do que já está.
BP — Em relação ao quadro de servidores da saúde sua ideia é abrir concurso público?
Solange Bueno –
Abrir concurso, ter pessoas responsáveis trabalhando e lutando para crescer. Daqui a pouco ninguém mais vai ter saúde. Está na Constituição que a saúde é um dever do estado. Se eu privatizar tudo, como vai fazer a pessoa que não tem condição nenhuma hoje? Tenho que dar o mínimo necessário.
BP — Alguns pontos do seu plano de governo e algumas de suas propostas poderiam estar no plano de um partido de esquerda. Em que medida sua candidatura é de direita?
Solange Bueno –
Liberdade. Eu quero que a pessoa tenha o direito de estudar em uma escola pública, mas que ela também tenha o direito de estudar em uma escola privada. Tem que ter um equilíbrio nisso. Nós precisamos ter uma saúde pública de qualidade, mas também precisamos da saúde particular, porque a pessoa precisa ter liberdade para escolher. Tudo que é extremista não é bom.