Vereadores aprovam repúdio à peça teatral “Porno Gospel”

Bancada evangélica alega que espetáculo que satiriza relação entre política e religião seria ofensiva

Da Redação

A Câmara Municipal de Curitiba aprovou ontem, por 17 votos a onze, moção de repúdio à peça Porno Gospel, que ficou em cartaz entre 15 de maio e 5 de junho, no miniauditório do Teatro Guaíra, e satiriza a relação entre política, religião e poder no Brasil atual. A proposta foi do vereador Tiago Gevert (PSC), que alegou que o espetáculo teria caráter ofensivo e intolerantecom todos os cristãos que se identificam com a música gospel como forma de expressão da sua fé. A moção foi assinada por 16 parlamentares, a maioria da chamada bancada evangélica da Casa.

A peça se passa em uma cidade fictícia chamada Paradise City, onde é ano de eleições à prefeitura. O enredo mostra personagens ligadas ao Partido Missionário do Senhor, a deputada Holly Holla Cristy e o pastor Jair Malagaia, em situações de corrupção. Pra quem leu a sinopse da peça, entende que tentaram ser ofensivos, alegou Gevert.

Nós entendemos que a peça viola a honra de todos os cristãos. Não ofende só os evangélicos, mas os católicos também. O idioma estrangeiro (utilizado na caracterização da peça) não esconde a ofensa. A que ponto chegou a degeneração social brasileira? Pretensos artistas a profanarem o nome de Jesus Cristo, a vilipendiarem a Bíblia, argumentou o autor da proposta.

Carla Pimentel (PSC), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Legislativo, em apoio à moção de repúdio, disse que os evangélicos não aceitarão a ‘ironização’ do que lhes é tão precioso, que é a fé. Somos o povo da cruz, que precisa e vai ser respeitado. Não aceitaremos o descrédito e a desconstrução, afirmou a vereadora, que classificou a polêmica como manobra para vender ingresso.

A vereadora professora Josete (PT) foi a única a criticar a iniciativa. Debater uma moção de repúdio à peça teatral é perda de tempo. Essas Casa tem outros temas (para debater) que dizem mais respeito à sociedade curitibana, afirmou. Eu respeito todas as religiões, as cristãs, as orientais e as de matriz africana. Acredito que a religiosidade faz parte da vida humana. Só que a peça de teatro é exibida em um espaço privado, com recomendação para maiores de 16 anos de idade e só vai assistir que quiser, argumentou.

Josete chegou a sugerir a retirada do requerimento, mas não foi atendida. Em todos os setores têm pessoas éticas e outras que não agem da mesma forma. Uma sátira sobre corrupção no parlamento não quer dizer que todos os políticos sejam corruptos. É possível haver diversas opiniões sobre um mesmo tema, defendeu a vereadora, que disse ver censura quando não se pode fazer sátira ou crítica a determinadas ações da sociedade. Temos que garantir ao cidadão o direito à expressão, apontou.

Assembleia

Na semana passada, oito deputados estaduais também apresentaram na Assembleia Legislativa, uma moção de repúdio à peça. A proposta foi encabeçada pela deputada e cantora gospel Mara Lima (PSDB), que alegou ter se sentido ofendida pessoalmente pelo espetáculo, que inclui uma personagem de nome Nara Lira, definida como uma cantora gospel e dona de uma rede de lojas de produtos do Senhor (livros, cds, camisetas, presentes…), e agora lançando no mercado, uma linha de produtos eróticos, feita especialmente para crentes.

Os parlamentares apresentaram ainda um pedido de informações dirigido à Secretaria de Cultura, para saber se a peça teria algum tipo de incentivo público. A moção de repúdio acabou sendo retirada de pauta a pedido do líder do governo, deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), sob a alegação de que seria melhor esperar a resposta da secretaria antes de votar a proposta.

Fernando Cardoso, um dos produtores do espetáculo, informou que a peça é uma produção independente, sem incentivo público. Ele negou qualquer intenção de ofensa a religiões, lembrando que é evangélico, e que a peça seria uma ficção baseada em fatos reais. Cardoso explicou ainda que o nome da peça foi baseado em notícias da imprensa sobre o lançamento de uma linha de produtos erótivos voltados ao público evangélico.