Política Polêmica

Votação de pacote do governo acaba em ocupação da Assembleia

Manifestantes invadiram Legislativo após aprovação de comissão geral para acelerar votação de projetos de corte de gastos

Ivan Santos

A votação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governador Beto Richa (PSDB) acabou em invasão e ocupação da Assembleia Legislativa por manifestantes e servidores contrários as medidas. A invasão ocorreu no final da tarde, logo após a aprovação da transformação do plenário em comissão geral para acelerar a votação das propostas. O governo ainda tentou negociar, abrindo mão de alguns itens do pacote, como o fim das gratificações por tempo de serviço dos servidores – os chamados quinquênios e anuênios -; das licenças e do auxílio transporte para professores afastados do trabalho – mas não houve acordo. 

A transformação da comissão geral – que abriria caminho para a liquidação das votações ontem mesmo – foi aprovada por 34 votos a 19, apesar dos protestos de cerca de 300 manifestantes que acompanham a sessão das galerias do plenário e de quinze mil manifestantes na conta dos sindicalistas, ou de sete a dez mil professores, funcionários de escolas e servidores de outras categorias do funcionalismo – nos cálculos da Polícia Militar – que acompanhavam a votação do lado de fora, acampados na praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico. Assim como na véspera, os portões da Assembleia amanheceram fechados e apenas um grupo cadastrado pela Casa em acordo com os dirigentes de entidades sindicais do funcionalismo foi autorizado a entrar.

Acordo

Na noite anterior, o governador Beto Richa (PSDB) se reuniu com 37 parlamentares da base governista para fechar um acordo sobre as mudanças no pacote. Além de desistir do fim do quinquênio – pelo qual os servidores têm direito a um adicional de 5% dos salários a cada cinco anos trabalhados, o novo texto também previa a continuidade do pagamento de auxílio transporte para servidores em licença ou férias, e a manutenção do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) para promoção e progressões de professores.

O governo, porém, insistiu na incorporação do fundo previdenciário do Paraná Previdência – que originalmente seria reservado para o pagamento de futuras aposentadorias de servidores. Com isso, o Executivo espera ter acesso a R$ 8 bilhões para o pagamento das atuais aposentadorias, liberando assim cerca de R$ 250 milhões do caixa do Tesouro para outras despesas e pagamento de dívidas. Pela proposta, os novos servidores a serem contratados passariam a contribuir com um novo fundo, com direito a aposentadoria mensal de até R$ 4,6 mil – teto do regime geral de previdência. Quem quiser receber valor maior, passaria a contribuir com o novo fundo complementar a ser criado.

O líder do bloco oposicionista, deputado Tadeu Veneri (PT), leu nota da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PR) contra a forma sumária como a votação do pacote está sendo encaminhada pelo governo, e também apontando a ilegalidade da fusão do fundo previdenciário do Paraná Previdencia ao fundo financeiro. Veneri voltou ainda a apelar para os 19 deputados de primeiro mandato, afirmando que a votação marcaria a trajetória política deles. É o primeiro projeto que muitos deputados vão votar, e não há como ficar em cima do muro, disse.

O único a defender o pacote em discurso na tribuna foi o líder do governo, deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), que enfrentou as vaias das galerias. Além da manutenção dos benefícios dos servidores previstos no novo texto dos projetos, o peemedebista afirmou que o governo se comprometia a resolver todas as pendências com os professores e funcionários das escolas. Inclusive o pagamento das rescisões dos professores temporários em sete dias úteis, acenou.

Simetria

Líder da bancada do PMDB, Moura, levantou questão de ordem apontando que pelo regimento interno da Assembleia, a comissão geral só poderia ser utilizada para debater os projetos do governo, mas não para votá-los. Ele lembrou ainda que no Congresso Nacional, a comissão geral existe mas não tem caráter deliberativo. O presidente da Casa, deputado Ademar Traiano (PSDB), rejeitou o questionamento, apontando que pela Constituição Estadual, a Assembleia tem autonomia para definir seu regimento e não é obrigada a seguir uma simetria com o Congresso Nacional.

Em seguida, Traiano promoveu a votação que acabou em vitória da base governista. Nesse momento, os manifestantes forçaram os portões e invadiram o plenário da Casa, fazendo com que a sessão fosse suspensa e os deputados se refugiassem em seus gabinetes. Alguns manifestantes pularam das galerias para o plenário, e outros forçaram a entrada pela porta de acesso do comitê de Imprensa, quebrando grades e uma porta de vidro. Outros jogavam papéis e garrafas de plástico no plenário.