Para alĂ©m da desinformaĂ§Ă£o, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), LuĂ­s Roberto Barroso citou outros riscos Ă s eleições e ao convĂ­vio social que se misturam Ă  natureza do que nomeou “populismo autoritĂ¡rio”. Barroso discursou hoje no Brazil Conference at Harvard & MIT, evento organizado por pesquisadores brasileiros em Boston, nos Estados Unidos.

“A caracterĂ­stica central do populismo Ă© a divisĂ£o da sociedade em duas, nĂ³s o povo puro, decente e conservador, e eles, as elites cosmopolitas, progressistas e corrompidas. A primeira falha conceitual desse populismo Ă© a ideia de que sĂ³ eles representam o povo, quando o povo Ă© plural sempre. NinguĂ©m pode reivindicar para si o monopĂ³lio da representaĂ§Ă£o de um povo”, disse o ministro.

Segundo Barroso, alĂ©m de dividir a sociedade intencionalmente, esses movimentos se apoiam na comunicaĂ§Ă£o direta com as massas, “bypassando” (passando por cima de) instituições intermediĂ¡rias, como o Legislativo, a imprensa livre e a sociedade civil, alĂ©m de eleger inimigos.

“Na maior parte dos casos, nĂ£o nos EUA por razões Ă³bvias (as indicações Ă  corte americana seguem a lĂ³gica bipartidĂ¡ria) um dos inimigos eleitos sĂ£o as supremas cortes, os tribunais constitucionais. Foi o que aconteceu na Hungria, na PolĂ´nia, na Turquia, na RĂºssia e na Venezuela. TambĂ©m foi o que aconteceu no Brasil”, disse Barroso.

“Populistas autoritĂ¡rios geralmente gostam de cortes preenchidas com juĂ­zes submissos ou cortes com poderes limitados. Porque o papel da suprema corte Ă© limitar o poder polĂ­tico, assegurar estado de direito e direitos fundamentais inclusive contra maiorias polĂ­ticas”, continuou Barroso em alusĂ£o indireta Ă s investidas do ex-presidente Jair Bolsonaro contra o STF.

O presidente do STF concluiu esse trecho de sua fala dizendo que Supremas Cortes tĂªm papel importante na resistĂªncia a ataques contra a democracia, mas que nenhum tribunal consegue resistir sozinho, sendo necessĂ¡rio o engajamento da sociedade civil, sobretudo da imprensa, mas tambĂ©m de forças polĂ­ticas democrĂ¡ticas.

Segundo ele, cortes anĂ¡logas ao STF perderam na RĂºssia, na Hungria e na Venezuela, mas, no Brasil, as instituições venceram, ainda que tenham ficado “por um triz”

ReligiĂ£o

Barroso ainda incluiu na lista de riscos Ă  democracia a apropriaĂ§Ă£o de discursos religiosos com fins eleitorais.

“Um fenĂ´meno que precisa ser tratado com delicadeza Ă© a captura da liberdade religiosa pela polĂ­tica extremista que, em algumas partes do mundo colocou lĂ­deres religiosos a serviço de determinadas causas polĂ­ticas”, disse.

“A pior coisa que pode acontecer Ă© um lĂ­der religioso dizer que meu adversĂ¡rio Ă© o representante do demĂ´nio na terra e que, por isso, Ă© preciso enfrentĂ¡-lo. Isso Ă© um desrespeito Ă  integridade do processo eleitoral”, concluiu.