
A UFPR Litoral iniciou suas atividades com o ingresso da primeira turma no segundo semestre de 2005. Neste mês de agosto completa 20 anos de atuação, instalado em Matinhos, no Litoral do Paraná.
O Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná (UFPR) está instalado em Caiobá, em Matinhos, e tem uma equipe de 80 técnicos administrativos e 129 docentes, além dos trabalhadores tercerizados.
Criada em 2004 como campus, por meio da Resolução nº 39/2004 do Conselho Universitário (Coun), a UFPR Litoral iniciou suas atividades com o ingresso da primeira turma no segundo semestre de 2005 e foi instituída como setor universitário em dezembro de 2007.
Atualmente, conta com uma estrutura consolidada que inclui os prédios didático e administrativo, laboratórios, auditório, biblioteca, quadra esportiva e espaços multiuso.
“A UFPR Litoral foi construída nesses 20 anos de forma muito coletiva, com muitas mãos, olhares, desafios e experiências”, afirma a diretora do Setor Litoral, professora Vanessa Andreoli. “Foi mais do que começar um Setor novo na UFPR, foi um projeto de futuro, um jeito muito próprio de ser e de fazer uma universidade pública, comprometido com a formação integral do ser humano e a transformação social”.
Desde o início, a UFPR Litoral se destacou por seu projeto pedagógico inovador, com seu currículo estruturado por projetos, pela prática da interdisciplinaridade e intensa articulação entre ensino e extensão. O modelo pedagógico implantado propõe que estudantes e professores trabalhem juntos para enfrentar os desafios sociais e ambientais da região, promovendo uma formação crítica e voltada à transformação social.
Os cursos ofertados foram pensados para dialogar diretamente com a realidade local. Para, além de suprir lacunas locais de formação profissional, articular saberes populares e científicos, contribuindo para a valorização das culturas tradicionais e dos territórios caiçaras, indígenas e quilombolas, como comenta Vanessa Andreoli.
“Aqui se faz uma universidade efetivamente viva, afetiva e resistente, aberta ao território, ao diálogo com as comunidades, a troca saberes e sabores. Então, a experiência ao longo dessas duas décadas, nos mostram na prática que é possível fazer educação pública, de qualidade e com compromisso social aqui no Litoral do Paraná”.
Trajetória da oferta de cursos
Inicialmente, em 2005, foram ofertadas 190 vagas em cinco cursos, dois de graduação: Fisioterapia e Gestão Ambiental (atualmente Ciências Ambientais) e quatro profissionalizantes (técnicos): Agroecologia (atualmente tecnólogo), Enfermagem, Hotelaria (atualmente Gestão de Turismo) e Transações Imobiliárias. Progressivamente foram criados mais cursos de graduação, como os de Gestão e Empreendedorismo, Serviço Social, Gestão Desportiva e do Lazer (atualmente Educação Física), Saúde Coletiva, Ciências, Artes, Linguagem e Comunicação (atualmente Letras Português), Administração Pública, Educação do Campo e Geografia, sendo disponibilizadas, em média, 450 vagas anualmente. Hoje são ofertados 13 cursos superiores, entre eles licenciaturas, bacharelados e tecnólogos.
Nestes 20 anos de existência, a UFPR Litoral proporcionou acesso à graduação a pessoas que haviam deixado de estudar, como a aluna de letras Português, Taciane Maciel.
“Eu achei que já tinha passado a minha chance de ingressar num curso superior, foi quando eu conheci o cursinho solidário, que ajudava na preparação para o vestibular da UFPR e eu decidi tentar, sem muita expectativa, pois estava a um tempinho fora das salas de aula. Absorvi o máximo de conhecimento que me passaram e passei em primeiro lugar no meu ano de ingresso. Foi uma conquista pessoal muito grande. Estou na reta final da formação e tenho certeza que foi uma das melhores decisões que eu tomei”, relata Taciane.
A fisioterapeuta Daiane Polzin Bortoluzzi, egressa da primeira turma do Setor Litoral, também relatou sua história. “Foi uma experiência maravilhosa, cheia de desafios, novidades, superações e grandes amizades. A comunidade da UFPR Litoral foi minha família por longos quatro anos. Os trabalhos na comunidade foram inesquecíveis, nossa rotina era sempre um misto de alegria com luta, pois não foi fácil ser a primeira turma do curso. Foi muito intensa, mas também muito gratificante viver tal experiência. Hoje tenho orgulho do meu currículo, da minha formação e do senso crítico e de cidadania que a UFPR me proporcionou”, relembra Daiane.
Pós-graduação e pesquisa
O primeiro curso de especialização (lato sensu) ofertado pela UFPR Litoral foi o de Questão Social pela Perspectiva Interdisciplinar, em 2008. Hoje são ofertadas também as especializações Alternativas para uma Nova Educação (ANE), Educação do Campo e a Realidade Brasileira a partir dos seus Pensadores e Educação e Saberes da Experiência para a Educação Básica, todas gratuitas.
Em 2013, o Setor criou o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável (PPGDTS), com a oferta do curso de mestrado. Em 2016, teve início o mestrado profissional em ensino das Ciências Ambientais (Profciamb), voltado à formação de professores e pesquisadores em educação ambiental. Recentemente, em 2025, teve início a primeira turma de doutorado pelo PPGDTS.
As pesquisas desenvolvidas no Setor Litoral abrangem várias áreas do conhecimento, desde o campo da educação, das ciências sociais, do meio ambiente e da saúde. Alguns exemplos são as pesquisas desenvolvidas nos laboratórios didáticos, iniciadas em 2009. Elas são relacionadas à qualidade e contaminação do ar, solos e água, bem como nas áreas de biodiversidade biológica e plantas medicinais, com a extração de óleo essenciais. A partir de 2014, iniciaram-se pesquisas na área de biologia molecular e microbiologia e, mais recentemente, a partir se 2020, pesquisas relacionadas a poluição com microplástico.
Grandes eventos também fazem parte da história do Setor, como estes que têm edições recorrentes em Matinhos: Feiras de Cursos e Profissões locais, Mostras de Projetos, Feiras Regionais de Ciências, Circuito Cultura e Arte, Festa da Juçara, Simpósios Brasileiros de Desenvolvimento Territorial Sustentável (SBDTS).
Trabalho em rede e por projetos
A trajetória do Setor Litoral é marcada pelo envolvimento da comunidade acadêmica e das populações locais nos seus projetos e atividades, sendo que uma das formas de participação é por meio da atuação em conselhos, fóruns e coletivos, como explica o professor do curso de Ciências Ambientais e ex-diretor do Setor, Renato Bochicchio.
“O cotidiano de trabalho da UFPR Litoral demanda uma cobertura às dimensões da vida universitária de modo significativamente mais amplo e complexo que os demais setores acadêmicos da capital, tanto pelos aspectos operacionais do trabalho, relacionados à distância da sede, quanto pelos modos próprios e únicos de funcionamento do projeto institucional local”, afirma.
Os programas e projetos de extensão contribuem na promoção do desenvolvimento social, preservação ambiental e valorização cultural. Programas com mais de uma década, como o Laboratório Móvel de Educação Científica (LabMóvel) e o Mundo Mágico da Leitura são exemplos da atuação junto à população local.
Muitas pessoas fazem parte desta história, os estudantes que vivenciam a universidade por alguns anos e muitos servidores técnicos e docentes que permanecem fazendo a sua história junto com a da instituição. Um deles é o técnico-administrativo Enio de Souza Lima.
“Comecei a trabalhar na UFPR Litoral em 2018, confesso que foi e está sendo uma das experiências mais proveitosas, tanto na vida profissional como pessoal. É um lugar onde sinto aquela sensação de pertencimento, tanto em relação ao trabalho em si, quanto a relação com os meus colegas. A palavra que defino em estar aqui é pertencimento”, afirma Enio.
Ao comemorar seus 20 anos, o Setor Litoral reafirma seu compromisso com a construção de uma universidade pública, inclusiva, socialmente referenciada e integrada ao território. Mais do que formar profissionais, sua missão tem sido contribuir com a construção de sujeitos transformadores, que compreendam e respeitem as múltiplas dimensões — humanas, culturais e ambientais — do litoral do Paraná.
A diretora do setor, Vanessa Andreoli conclui: “eu me sinto extremamente honrada e orgulhosa de ter entrado nessa história, mesmo que um pouco depois. Fica aqui meu sincero agradecimento a cada um e cada uma de vocês que fizeram, e seguem fazendo, essa história acontecer, com coragem, com persistência, criatividade e muita esperança e amor pela educação”.