Na Ăºltima semana a ConfederaĂ§Ă£o Nacional da IndĂºstria (CNI) divulgou um estudo em que o setor industrial gasta mais em segurança do que em ciĂªncia e desenvolvimento. No ano passado, foram gastos cerca de R$ 30 bilhões em segurança, enquanto, em pesquisa, foram gastos R$ 12,5 bilhões, de acordo com os Ăºltimos dados disponĂveis do IBGE.
Outro nĂºmero mostrado pela CNI tambĂ©m Ă© bastante preocupante. Um em cada trĂªs empresĂ¡rios escolhe o local do seu negĂ³cio pelo grau de periculosidade. Ou seja, a logĂstica ou proximidade da matĂ©ria-prima nĂ£o sĂ£o levadas em conta.
Estes dados sĂ£o sintomĂ¡ticos e refletem na vida de todos. Estes valores estĂ£o embutidos em todos os produtos que vocĂª, caro leitor, consome, seja um carro ou uma simples caneta. Com isso, a violĂªncia chegou ao nĂvel de influenciar inclusive o nosso consumo diĂ¡rio.
JĂ¡ sĂ£o perceptĂveis os gastos com segurança privada – como cĂ¢meras ou cancelas – para se proteger. TambĂ©m jĂ¡ Ă© claro que precisamos evitar caminhos, gastando mais gasolina ou pegando outro Ă´nibus, para nĂ£o sermos vĂtimas de um assalto. Isso sem contar nos impostos que deveriam ser investidos em segurança que tambĂ©m pagamos. Em todas as pontas a conta chega aos nossos, jĂ¡ reduzidos, bolsos. Agora temos mais uma evidĂªncia e Ă© muito importante que tenhamos a consciĂªncia da gravidade do problema.
NĂ£o Ă© da noite para o dia que isso irĂ¡ mudar, mas algo precisa ser feito, urgentemente, para que esta engrenagem comece a girar da forma correta e reflita na sociedade que vamos deixar para os nossos filhos. O estudo da CNI tambĂ©m aponta melhorias que vĂ£o gerar resultados concretos em 2023, por exemplo. NĂ£o existe segredo ou mĂ¡gica. NĂ£o existe intervenĂ§Ă£o militar que resolverĂ¡ em um instante. O problema vem de dĂ©cadas. Como pode ser resolvido em um piscar de olhos?
DĂ³i na conta, dĂ³i quando perdemos alguĂ©m para a violĂªncia. Atualmente, segundo o ranking da organizaĂ§Ă£o de sociedade civil mexicana Segurança, Justiça e Paz, 17 das 50 cidades mais violentas do mundo estĂ£o no Brasil. Como mudar este panorama sem um cuidado especial?
É necessĂ¡rio cobrar dos governantes um planejamento com investimentos nĂ£o sĂ³ em segurança, mas em educaĂ§Ă£o, saneamento bĂ¡sico e saĂºde. Fazer com que o Estado consiga prover dignidade para a populaĂ§Ă£o e assuma o vĂ¡cuo de oportunidades deixado para o crime organizado se apossar.
NĂ³s – populaĂ§Ă£o geral, empresĂ¡rios, instituições – precisamos unir forças e pedir uma soluĂ§Ă£o conjunta para o Brasil. O problema nĂ£o Ă© municipal ou estadual, ele Ă© federal e precisa de uma polĂtica comum para ser resolvido. Uma facĂ§Ă£o criminosa nĂ£o se prende Ă fronteiras e o Governo precisa ser assim tambĂ©m, em todas as Ă¡reas.
A insegurança custa caro, seja em forma de produtos ou vidas. Até quando vamos continuar calados pagando esta conta?
Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil