Artigo: Cultura organizacional. O fator invisível que pode definir o sucesso de um M&A

Erich Hüttner

Já se perguntou o que acontece com a sua empresa quando você não está por perto?
Essa pergunta, que parece simples, costuma ter um peso decisivo nas mesas de negociação de uma operação de M&A. Embora muitos ainda enxerguem fusões e aquisições como uma equação puramente financeira, quem está no campo sabe: a cultura organizacional tem um impacto profundo — e muitas vezes determinante — no sucesso de uma transação.
É comum nos depararmos com negócios que apresentam excelentes números. Boa margem, mercado consolidado, crescimento consistente. Mas se a cultura interna da empresa não dialoga com a cultura do comprador, o deal pode desandar. Ou pior: pode até ser assinado, mas fracassar meses depois.
Cultura organizacional não é um conceito abstrato. Ela se expressa na forma como as pessoas tomam decisões, lideram, resolvem conflitos, se comunicam, tratam clientes e operam no cotidiano. É o modo como a empresa funciona quando ninguém está olhando. E quando esse funcionamento é incompatível com a lógica e os valores do adquirente, a integração pós-deal pode se transformar em um campo minado.
Empresas com cultura centralizadora, dependência excessiva de lideranças informais e ausência de processos institucionais claros tendem a gerar insegurança para o investidor. A dúvida é inevitável: será que o negócio funciona sem a presença constante dos fundadores?
Por outro lado, companhias que cultivam uma cultura de autonomia com responsabilidade, foco em resultado e gestão profissionalizada transmitem segurança. Demonstram que a operação tem musculatura própria, capaz de seguir em frente mesmo em contextos de transição.
Isso se torna ainda mais relevante quando o comprador pretende manter a operação e o time original. Nesses casos, a cultura deixa de ser detalhe e passa a ser critério de prioridade. Uma cultura sólida favorece a retenção de talentos, reduz o risco de rupturas internas e assegura maior fluidez no processo de integração.
M&A é, sim, um processo racional, baseado em análise de dados, valuation, projeções e due diligence. Mas também é um processo humano. No fim das contas, empresas são feitas de pessoas. E a forma como essas pessoas operam juntas pode ser a diferença entre um negócio de sucesso e uma aquisição que se torna um passivo.
Cultura não aparece no DRE. Mas pode definir, com todas as letras, o sucesso ou o fracasso de uma transação.
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*Erich Hüttner é CEO da VSH Partners