Balelas e marolas
Duarte Nogueira*
O governo e sua tropa de choque até que tentam tapar o Sol com a peneira, mas a crise na Receita Federal revela, como numa chapa de radiografia, a tentativa de aparelhamento de um órgão que deveria ser puramente técnico. Essa, aliás, já é uma prática comum. O Estado se transformou numa presa do governo, em prejuízo ao interesse público.
Nós, da oposição, temos tentado sistematicamente fazer com que os fatos sejam apurados para que a ordem natural seja restabelecida. O governo tem de dar exemplo à sociedade, já que é a ela que deve servir. Na semana que passou, foram apresentados vários requerimentos nas comissões permanentes da Câmara para a convocação de integrantes do alto escalão do governo e servidores envolvidos na discussão. No entanto, a tropa de choque governista entrou em campo.
E mesmo que tentem impedir uma investigação mais profunda sobre o caso, os elementos já colocados denunciam a intenção governamental. É inegável que a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, foi demitida porque não rezou a cartilha oficial. Revelar a manobra contábil da Petrobras, que deixou de recolher R$ 4 bilhões, foi o que a colocou na rua.
O próprio Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que já havia sido aparelhado em 2008 com a substituição de pesquisadores não alinhados com a orientação oficial, deu sua contribuição ao caso. Concluiu que a crise econômica e as desonerações promovidas pelo governo é que foram responsáveis pela queda na arrecadação federal no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2008. Ou seja, a queda não ocorreu por ineficiência da Receita sob o comando de Lina, como alega o governo.
Com esses indícios de ingerência política em um órgão que deveria ser estritamente técnico, não dá para duvidar que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tenha ordenado que Lina “agilizasse” as investigações sobre empresas da família do presidente do Senado, José Sarney. E muito menos se o encontro no Palácio do Planalto ocorreu ou não.
Se em solidariedade a Lina há uma rebelião na Receita, com dezenas de cargos colocados à disposição, é porque há algo de errado. É apenas a ponta do iceberg. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recorre à velha tática de usar eufemismos para se referir à crise na Receita Federal. Para ele, é uma balela. Com certeza, do tamanho da marolinha do presidente Lula. O esforço da oposição será no sentido de que tudo seja devidamente esclarecido. A sociedade espera respostas.
*Duarte Nogueira é deputado federal por São Paulo e 1º vice-líder do PSDB na Câmara. Contato: [email protected]