O país assiste, atônito — e o TSE, complacente — à mais escancarada campanha eleitoral antecipada da história recente.
Lula percorre o Brasil em ritmo de comício, colecionando palanques em vinte estados, discursos em 52 cidades e promessas que fariam corar até o mais veterano cabo eleitoral. Só falta pedir voto. Mas nem precisa.
E tudo, claro, com o selo oficial do governo e a conta paga pelo contribuinte.
No comando da Justiça Eleitoral, a ministra Cármen Lúcia virou alvo do chamado “fogo amigo”: colegas de toga, incomodados com a passividade do tribunal, já admitem o “constrangimento” de assistir ao presidente transformar o Planalto em comitê de campanha, em escandalosa afronta à legislação eleitoral.
Constrangimento, aliás, é palavra rara nesse ambiente. Quase exótica.
Em 2021, basta lembrar, a mesma Corregedoria e a mesma Procuradoria Eleitoral abriram, de ofício, apurações contra Jair Bolsonaro por suposta campanha antecipada.
Bastava o então presidente tossir em público para surgir um parecer, um processo, uma reprimenda moral. Agora, o silêncio é ensurdecedor — e revelador.
Lula já fez quatro pronunciamentos em rede nacional com foco em medidas de apelo eleitoral, criticando adversários e distribuindo bondades com o dinheiro que o Tesouro não tem. Luz de graça, água de graça, gás de graça e vem aí ônibus de graça — só falta prometer a multiplicação dos pães e peixes.
E, claro, tudo embalado por vídeos de marketing, bonés azuis e inteligência artificial a serviço do velho “nós contra eles”.
O TSE assiste a tudo, plácido, talvez orgulhoso de sua “isenção” sob medida. Enquanto isso, a máquina pública segue acelerando rumo a 2026, com o motor da campanha já roncando alto sob as vistas grossas de quem deveria zelar pelo jogo limpo.
No Brasil da impunidade seletiva, a Justiça Eleitoral se especializou em enxergar longe — menos quando o palanque é dos parças.
Caio Gottlieb é jornalista, publicitário, fundador e sócio-proprietário da Caio Publicidade, agência de propaganda com mais de três décadas de atuação em Cascavel e no oeste do Paraná.