Embora o diabetes seja mais comum em adultos, a doença também acomete as crianças. O atraso no diagnóstico ou a falta de adesão ao tratamento impactam significativamente a saúde e o desenvolvimento dos pequenos. O diagnóstico de doenças crônicas na infância é um desafio tanto para as crianças quanto para seus familiares. Iniciar o tratamento é essencial para restabelecer o equilíbrio e a saúde da família como um todo, além de implementar a rotina de cuidados. No caso do diabetes na infância, há necessidade de adequação nos hábitos alimentares, incentivo à atividade física, monitoramento dos níveis de glicose no sangue, uso de medicamentos e na maioria dos casos, administração de insulina.

O Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo, atrás apenas da China, da Índia, dos Estados Unidos e do Paquistão. E infelizmente, a previsão é que esse número aumente ainda mais, chegando a 21,5 milhões em 20231. Mundialmente, 1,1 milhão de crianças e adolescentes com menos de 20 anos são portadores de diabetes do tipo 1, também conhecido como insulinodependente, que é o tipo de diabetes mais frequente na infância.

A doença geralmente, se inicia de forma abrupta e por isso algumas estratégias são importantes. A primeira delas é a educação em diabetes. Pais, tutores, cuidadores, escola e pares precisam receber informações confiáveis, orientação e treinamento sobre o uso de medicamentos, controle dos níveis de glicose e como agir em caso de intercorrências. Além disso, educar e conscientizar crianças e adolescentes com diabetes para que eles possam entender e atuar no gerenciamento da sua doença, sempre gera bons frutos. Encoraje a criança a participar do seu plano de cuidados, conversando sobre boas escolhas alimentares, ensinando-a também a verificar os níveis de glicose no sangue, a administrar insulina (dependendo da idade e se necessário) e a reconhecer os sintomas de hipoglicemia e hiperglicemia.

Outra questão importante é a saúde emocional, que pode ter um grande impacto tanto nas crianças quanto nos pais ou cuidadores. Algumas crianças sentem-se sobrecarregadas, frustradas ou tristes devido à necessidade de cuidados contínuos e, principalmente, por se enxergarem “diferentes”. Os pais também podem experimentar ansiedade, preocupação e estresse relacionados ao manejo da doença. Nesses casos, considerar o apoio de profissionais da saúde mental para fornecer estratégias de enfrentamento é uma boa opção para a família.

Por último, devemos incentivar a desmistificação de que uma criança portadora de diabetes não pode ter uma vida normal e plena. A criança diagnosticada com diabetes deve manter uma rotina normal como qualquer outro indivíduo da mesma faixa etária, com dias ricos em atividades físicas, estudo, festas, viagens e outras experiências comuns da infância. Aliás, todos nós devemos cultivar hábitos saudáveis, independente de diagnósticos ou pré-disposições e lembrar que a infância é um terreno fértil para o cultivo de bons hábitos e bons pensamentos.

*Myrna Campagnoli é endocrinologista pediátrica e diretora médica de análises clínicas dos laboratórios Frischmann Aisengart e São Camilo (PR) da Dasa. Também é pesquisadora clínica no Hospital Nossa Senhora das Graças – Centro de Diabetes