Na copa do mundo da formaĂ§Ă£o dos estudantes brasileiros, nossa classificaĂ§Ă£o Ă© deplorĂ¡vel. O Banco Mundial oficializou relatĂ³rio em que faz o comparativo do nĂvel educacional brasileiro e dos paĂses desenvolvidos. Dedicado Ă educaĂ§Ă£o mundial, o World Development Report destaca a existĂªncia de crise de aprendizado no paĂs. Em Leitura, para atingir o padrĂ£o dos paĂses desenvolvidos, o tempo previsto (a continuar o atual cenĂ¡rio educacional) serĂ¡ de 260 anos. Em MatemĂ¡tica o tempo previsto serĂ¡ de 75 anos. SĂ£o jovens que nĂ£o entendem o que leem e outros nĂ£o sabem fazer contas.
O Banco Mundial utilizou o Programa Internacional de AvaliaĂ§Ă£o de Alunos (Pisa), da OrganizaĂ§Ă£o para CooperaĂ§Ă£o e Desenvolvimento EconĂ´mico (OCDE), que mede o nĂvel educacional atĂ© 15 anos. A prioridade Ă© a discussĂ£o da qualidade da educaĂ§Ă£o bĂ¡sica para indicar polĂticas nacionais de melhoria da educaĂ§Ă£o. No caso brasileiro os indicadores sĂ£o desalentadores. A raiz do problema foi bem diagnosticado pelo professor Marcelo Viana: A cultura nacional nĂ£o privilegia a educaĂ§Ă£o. A formaĂ§Ă£o docente Ă© deficiente, nĂ£o valorizamos o professor e a sociedade acha razoĂ¡vel que ele tenha salĂ¡rios entre os mais baixos do paĂs, ao contrĂ¡rio de outros paĂses.
No JapĂ£o, o sensei (mestre) Ă© o Ăºnico profissional que nĂ£o precisa se curvar diante do Imperador. A revoluĂ§Ă£o educacional foi pilar bĂ¡sico da Era Meiji (1884) que sepultou o JapĂ£o feudal garantindo a todos o direito Ă educaĂ§Ă£o. ApĂ³s a II guerra mundial (1945), para incentivar a docĂªncia com sĂ³lida formaĂ§Ă£o pedagĂ³gica, o governo decretou que os professores ganhariam 30% a mais do que outros funcionĂ¡rios do estado. Hoje, no inĂcio de carreira do ensino fundamental, o salĂ¡rio mĂ©dio anual Ă© de 26.031 dĂ³lares, aumentando ao longo do tempo pelo trabalho e experiĂªncia chegando a 57.621 dĂ³lares. Os professores estĂ£o entre os servidores pĂºblicos mais bem remunerados.
Na FinlĂ¢ndia, com exigente formaĂ§Ă£o prĂ¡tica e teĂ³rica, o professor estĂ¡ Ă frente de carreiras tradicionais como engenharia, medicina e direito. O professor finlandĂªs Martti Mery retrata essa realidade: O magistĂ©rio na FinlĂ¢ndia Ă© carreira de prestĂgio. A profissĂ£o possui alto status em nossa sociedade, que tem grande respeito e consideraĂ§Ă£o pelos professores. Um professor primĂ¡rio ganha 3.132 euros, por mĂªs; no ensino mĂ©dio 3.832 euros; e, docentes universitĂ¡rios ganham mensalmente 4.109 euros. Comparativamente o diretor-executivo de uma grande empresa, em mĂ©dia, ganha 6.775 euros. Os dados sĂ£o do Projeto EscandinĂ¡via, de autoria da educadora Claudia Wallin, de Helsinque.
No Brasil a realidade educacional Ă© oposta, regredindo nos Ăºltimos anos. AtĂ© os anos de 1970, a estrutura educacional secundĂ¡ria se baseava em trĂªs estĂ¡gios: o curso primĂ¡rio era de 5 anos. Ao seu final fazia-se prova de admissĂ£o ao ginĂ¡sio que tinha duraĂ§Ă£o de 4 anos. E mais 3 anos nos cursos clĂ¡ssico ou cientĂfico. O ingresso na universidade era atravĂ©s vestibular com provas escritas e orais (nos cursos de humanidades). Com a reforma MEC-Usaid, na dĂ©cada de 70, introduziu-se em nome da modernidade o caĂ³tica sistema educacional que prevalece nos dias atuais. Educador e fundador da Universidade de BrasĂlia, Darcy Ribeiro, constatou: A crise da educaĂ§Ă£o no paĂs nĂ£o Ă© uma crise, mas um projeto.
A dissimulaĂ§Ă£o no ensino brasileiro fez dos alunos e professores vĂtimas. A escola Ă© a vĂtima principal pela superficialidade e desvalorizaĂ§Ă£o do saber. Exigindo Estado, atravĂ©s os seus governantes, verdadeira revoluĂ§Ă£o educacional, formando gerações capacitadas para o futuro. Igualmente professores com formaĂ§Ă£o sĂ³lida e remuneraĂ§Ă£o decente na estrutura pĂºblica, a exemplo do que ocorre nas nações que sabem que sem educaĂ§Ă£o o desenvolvimento integral da sociedade torna-se impossĂvel. EducaĂ§Ă£o, educaĂ§Ă£o e educaĂ§Ă£o Ă© um dos grandes desafios brasileiros. Estariam os presidenciais, em 2018, conscientes dessa elementar realidade?
HĂ©lio Duque Ă© doutor em CiĂªncias, Ă¡rea econĂ´mica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vĂ¡rios livros sobre a economia brasileira