Opinião

Em favor dos nossos idosos

Mark Deeke

Uma em cada quatro mulheres brasileiras com mais de 60 anos de idade estão sujeitas à fratura do fêmur. O dado é da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e tem mobilizado famílias e médicos em medidas preventivas de acidentes domésticos com quedas. O Brasil comemora neste dia 1º de outubro o Dia do Idoso, momento oportuno para se pensar e debater ações efetivas de prevenção nessa área. A queda de uma pessoa idosa sempre gera traumas, transtornos e até complicações sérias para as vidas dos pacientes e suas famílias. Nos casos das fraturas de fêmur, a maioria delas ocorre na parte superior do osso, já na região do quadril. Na população feminina, a situação é agravada em razão da osteoporose, comum na maioria das mulheres após a menopausa.
Assim, torna-se cada vez mais necessário a união de toda a sociedade em torno da prevenção de quedas de pessoas com mais de 60 anos de idade. Isso tem que começar dentro das casas, mas precisa atingir as ruas das cidades, as calçadas dos bairros, a feira livre, o comércio da região, o transporte coletivo, as clínicas e hospitais, enfim, todo lugar de convivência de idosos, que é uma parcela da população cada vez mais numerosa no Brasil em razão da melhoria da qualidade de vida e da longevidade do ser humano. Na maioria das vezes, as quedas são decorrentes da perda do equilíbrio corpóreo provocado por pequenos acidentes, como tropeços em tapetes, o escorregar em um piso molhado, choque contra a mobília em um ambiente mal iluminado ou desníveis e imperfeições de uma calçada.
A essas situações, somam-se as situações ligadas ao envelhecimento natural, como a perda da capacidade visual, as tonturas frequentes por arritmias cardíacas, as quedas súbitas pela variação da pressão arterial e um desgaste da articulação do joelho, que o faz falsear. Tudo isso contribui e pode ocasionar um acidentecom queda, que muitas vezes culminará com a fratura femoral. No esforço da prevenção, é importante que todos saibam, especialmente familiares e cuidadores de pessoas idosas, que a maneira que um idoso cai é diferente da maneira que um jovem cai ao chão. O jovem, geralmente, cai com o corpo voltado para frente. O idoso, em consequência de alterações normais do sistema nervoso, normalmente cai com o corpo rodando e para trás, situações nas quais os membros superiores não podem atuar como amortecedores naturais.
Por isso, é importante estar atento aos riscos que podem estar cobertos nas situações mais comuns da vida e que podemos diminuir ou evitar. A Unimed Curitiba lança nesse dia o programa Não Caia Nessa. Esta campanha tem por objetivo orientar o idoso para que estes riscos sejam diminuídos. Com algumas medidas práticas, pode-se melhorar a qualidade de vida e contornar-se este grande transtorno, que é uma das maiores causas de internamentos hospitalares em todo o mundo. Evitar uma queda depende mais da sua ação de cada um de nós do que a maioria das pessoas imagina.
No Brasil, cerca de 30% dos idosos caem pelo menos uma vez no ano e, na maioria dos casos, as vítimas são as mulheres. É bastante comum que os idosos que tenham sofrido quedas voltem a ter um acidente semelhante mais tarde. Estatísticas comprovam que mais de dois terços caem novamente nos seis meses subsequentes.
Em 70% dos casos, as quedas que vitimam os idosos ocorrem dentro de seus próprios lares. Entre as mulheres com mais de 75 anos, 40% das quedas causam fraturas, em especial do fêmur. Entre os homens da mesma faixa etária, 28% das quedas resultam nas mesmas fraturas. Quando acima dos 85 anos, a probabilidade de quedas pode chegar a 85%. As fraturas de fêmur nos idosos podem desestabilizar o organismo e agravar doenças já instaladas. O agravamento destas doenças prévias pela fratura femoral é a maior causa de morte pós quedas. Por esta razão, as fraturas do quadril são tratadas pelos médicos por meio de cirurgias com o intuito de diminuir a dor e reabilitar o paciente precocemente minimizando complicações.
Dado importante é a mortalidade dos pacientes, que pode chegar a 30% após uma fratura de fêmur no idoso nos primeiros seis meses pós-trauma. Isto reforça a importância da situação levando a todo a sociedade a um momento transformador de prevenção.
Entre as principais orientações do programa Não Caia Nessa estão o uso de pisos antiderrapantes, especialmente no acesso à casa, eliminação de barreiras nas áreas de passagem, instalação de corrimões em escadas e de barras de segurança nos banheiros (no box e junto ao vaso sanitário), remoção de tapetes, uso de mobília alta (incluindo mesas de centro e sofás) e o cuidado com os fios soltos dos aparelhos eletrônicos.
Quanto mais pessoas souberem destas informações e quanto mais estas pessoas aplicarem as dicas, e efetivamente modificarem seus hábitos ou mesmo os ambientes que convivem, teremos menos acidentes, quedas que causam as fraturas na população que envelhece e necessita de nossa especial atenção. Cada um de nós pode e deve fazer a sua parte como agentes transformadores de nossa sociedade!

HMark Deeke é médico cooperado da Unimed Curitiba, ortopedista e coordenador do programa Não Caia Nessa