Transações de fusões e aquisições, normalmente chamadas de M&A (Mergers & Acquisitions), são movimentações importantes no mundo dos negócios. Afinal, aquisições bilionárias por parte de grandes corporações ou fundos de investimento costumam ter grande destaque na mídia.
É de comum senso no setor a importância do crescimento para a saúde e rentabilidade das empresas; empresas que não crescem, normalmente, têm mais dificuldade para manter sua competitividade, encolhem ou acabam adquiridas por concorrentes mais dinâmicos. É a velha máxima do mercado financeiro: “grow fast or die slow”.
De acordo com o estudo Granularity of Growth, realizado pela McKinsey, entre as que crescem com mais vigor, 1/3 do seu crescimento vem por meio das aquisições. Empresas médias, geralmente familiares, costumam ser o alvo das aquisições: em um cenário competitivo que muda rapidamente, estas empresas optam pela venda para um concorrente mais dinâmico ou de maior porte.
Entretanto, muitas empresas de médio porte já entenderam a importância de uma boa estratégia de aquisições para se manterem competitivas ou acelerarem o crescimento. Ao invés de ficarem na defensiva, partem para o ataque. Com menos poder de fogo, costumam fazer transações um pouco menores, sem muito alarde, mas nem por isso menos importantes dentro da dinâmica de diversos segmentos.
O National Center for The Middle Market apurou que cerca de 60% dos executivos do segmento de middle Market – empresas com faturamento anual até R$ 500 milhões – que participam de transações de M&A afirmam: o crescimento através de aquisições desempenha um papel importante na estratégia da empresa.
Segundo dados divulgados pelo portal Fusões & Aquisições, até setembro de 2021, ocorreram 350 transações no segmento de middle market (com valores entre R$ 50 a R$ 499 milhões) no Brasil, um crescimento de 77% em comparação com o ano passado. Na bolsa de valores o cenário também tem mudado: de janeiro de 2020 a agosto de 2021, cerca de 20% dos 72 processos de IPOs realizados na B3 tiveram valor inferior a R$ 500 milhões. Nos cinco anos anteriores, nenhuma das ofertas foi abaixo desse patamar.
Com recursos financeiros mais limitados, empresas médias devem estudar muito bem cada movimento, pois têm menos espaço para errar. Com estruturas mais enxutas, dificilmente conseguem ter uma equipe própria dedicada para conduzir o processo de mapeamento, abordagem e negociações. Como as empresas alvo das aquisições normalmente são médias ou pequenas, muitas vezes não têm informações bem organizadas ou uma governança corporativa robusta, e isso pode dificultar – ou até inviabilizar – o processo.
Os desafios são grandes, mas empresas que colocam as aquisições em destaque ou até mesmo no centro de sua estratégia, podem colher excelentes frutos e existem muitos casos de grande sucesso.
A Selbetti, por exemplo, é uma empresa de Joinville do setor de tecnologia que fez 19 aquisições nos últimos sete anos. Com crescimento acelerado, dobrando a estrutura e o faturamento a cada três anos, a estimativa é que, até 2023, a organização passe a ter um valor de mercado de mais de R$ 1 bilhão, de acordo com o CEO da empresa, José Selbach Junior.
A Mutant, especialista em business performance, é outra empresa que acelera fundo no crescimento via aquisições. Tem uma área always on de M&A; na prática, estão sempre buscando, analisando, qualificando e adquirindo empresas que tenham afinidade com o modelo de negócios. A Mutant já conta com 13 aquisições desde a sua criação em 2016.
Não existe uma receita pronta para um processo de M&A. Cada operação é única e exige bastante planejamento, organização e dedicação. Uma equipe com experiência, seja interna ou de assessores externos, tem suma importância para o sucesso de uma estratégia de crescimento através de aquisições.
João Caetano Magalhães é diretor da Redirection International, que assessora transações no middle Market.