Nos últimos anos, o avanço da globalização e o fortalecimento do mercado de capitais impulsionaram uma mudança silenciosa, porém poderosa, no mundo da contabilidade: a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade, conhecidas como IFRS (International Financial Reporting Standards).

Muito mais do que uma adequação técnica, esse processo representa uma transformação profunda na forma como as empresas prestam contas e se relacionam com investidores, parceiros e órgãos reguladores. E, embora tenha seus desafios, é uma mudança que aproxima o Brasil de um padrão contábil mais transparente, comparável e eficiente.

As IFRS funcionam como uma linguagem universal. Ao padronizar a forma como as demonstrações financeiras são elaboradas, permitem que uma empresa brasileira seja compreendida e comparada com outra sediada na Alemanha, nos Estados Unidos ou em qualquer outro país que adote o mesmo modelo.

Essa uniformização traz benefícios incontestáveis: amplia a transparência das informações contábeis, fortalece a confiança de investidores, facilita a atração de capital estrangeiro e promove uma base mais sólida para a tomada de decisões estratégicas — tanto por parte dos gestores quanto dos analistas de mercado.

No entanto, o caminho até essa nova realidade ainda impõe obstáculos, especialmente para as empresas brasileiras. A complexidade técnica das normas, somada às divergências entre o modelo contábil internacional e a legislação fiscal nacional, exige um esforço conjunto entre contadores, gestores e órgãos reguladores.

É comum, por exemplo, que ativos e passivos passem a ser mensurados pelo valor justo — um conceito central nas IFRS — enquanto a legislação fiscal brasileira ainda adota, majoritariamente, o custo histórico. O reconhecimento de receitas e despesas também segue critérios distintos, o que pode gerar ruídos na interpretação dos resultados.

A solução passa por investimentos em capacitação, atualização constante e uma mudança cultural na forma como a contabilidade é vista dentro das empresas.

Nesse novo cenário, o contador deixa de ser apenas um executor de obrigações acessórias para assumir um papel estratégico na organização. É ele quem traduz os números em informações relevantes, que orientam decisões de investimento, fusões, aquisições e planejamentos de longo prazo.

Para isso, é fundamental que os profissionais da área desenvolvam novas habilidades: domínio das normas internacionais, capacidade de adaptação a mudanças regulatórias, visão analítica e uma comunicação clara e acessível, inclusive com públicos não técnicos.

A tendência global é clara: as IFRS continuarão ganhando espaço e devem se tornar, cada vez mais, o padrão dominante para empresas que atuam ou pretendem atuar internacionalmente. Países que resistirem à harmonização correm o risco de ficar à margem de um mercado que valoriza a comparabilidade e a transparência.

É verdade que, para algumas empresas de menor porte, a adoção plena pode ser desafiadora e, em certos contextos, até desnecessária no curto prazo. Mas para quem mira alto — seja na expansão internacional, na busca por investidores ou na solidez da governança corporativa —, alinhar-se às normas internacionais não é apenas recomendável: é estratégico.

A contabilidade do futuro já está batendo à porta. Cabe a nós, contadores e gestores, decidirmos se seremos apenas espectadores dessa transformação ou protagonistas de uma nova era da informação financeira no Brasil.

Benício José Pires – Contador