Quando era criança costumava ser muito agitado e me distrair com bastante facilidade das coisas que estava fazendo no momento, o que imagino nĂ£o ser algo incomum nessa fase da vida. Na Ă©poca, meus pais me convenceram a experimentar uma aula de judĂ´ e naquele instante nasceria uma paixĂ£o pelas artes marciais que carrego atĂ© hoje.

ApĂ³s começar a praticar judĂ´, passei a focar melhor nos objetivos e metas que estabeleci, a ter maior cuidado com meu corpo e a enfrentar os obstĂ¡culos nĂ£o como algo intransponĂ­vel, mas que exigem esforço e dedicaĂ§Ă£o para serem superados. Com o tempo experimentei outras modalidades, como o jiu jitsu e o muay thai, que pratico atĂ© hoje, e pude vivenciar como as artes marciais conseguem influenciar e ajudar no desenvolvimento dos jovens.

Sabendo do valor e benefĂ­cios que essas modalidades trazem consigo, bem como dos grandes desafios que uma gestĂ£o pĂºblica na Ă¡rea do esporte encontra para promover atividades diferenciadas para as comunidades, acho vĂ¡lido ressaltar as artes marciais como uma opĂ§Ă£o viĂ¡vel e acessĂ­vel para serem desenvolvidas pelas polĂ­ticas pĂºblicas municipais.

O Brasil Ă© reconhecidamente um dos grandes berços de atletas de judĂ´, jiu jitso, MMA, entre outras modalidades. SĂ£o atividades que contam com o interesse da populaĂ§Ă£o e podem ser adaptadas em diferentes espaços, sem a necessidade de grandes e onerosos complexos esportivos, ginĂ¡sios ou estruturas para serem realizados.

Diferente do que afirmam algumas crenças populares, as artes marciais nĂ£o buscam estimular a violĂªncia, mas o autoconhecimento e autocontrole. As diferentes modalidades permitem trabalhar questões como esporte, saĂºde, disciplina, respeito, defesa pessoal, desenvolvimento social, autoconfiança e formaĂ§Ă£o do carĂ¡ter, elementos que contribuem para a melhoria dos Ă­ndices de um municĂ­pio e da qualidade de vida das pessoas.

Em 2017, quando assumi a Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba, existiam apenas 28 turmas de artes marciais no municĂ­pio. Rapidamente entramos em contato com federações, clubes e entidades da Ă¡rea para formalizar parcerias para capacitaĂ§Ă£o dos professores e orientadores de educaĂ§Ă£o fĂ­sica da secretaria, bem como para abrir espaço para que pudessem desenvolver atividades gratuitas nas unidades pĂºblicas.

O resultado dessa aĂ§Ă£o superou todas as expectativas e em apenas um ano passamos a disponibilizar 62 turmas de artes marciais e lutas em sete modalidades, com um total de 1.197 alunos/mĂªs. A procura foi tĂ£o alta que para 2018 jĂ¡ programamos a abertura de novas turmas, ampliando a oferta e descentralizando ainda mais o atendimento.

A promoĂ§Ă£o de diferentes modalidades esportivas sempre irĂ¡ resultar em maior capilaridade das polĂ­ticas pĂºblicas municipais. Nesse sentido, incentivar a prĂ¡tica de artes marciais representa uma opĂ§Ă£o econĂ´mica em termos estruturais para as prefeituras, que poderĂ£o ofertar atividades acessĂ­veis para todas as idades e com capacidade de transformar positivamente a vida de uma pessoa.

 

Marcello Richa Ă© presidente do Instituto TeotĂ´nio Vilela do ParanĂ¡ (ITV-PR)