Em 2025, celebramos o centenário de Janete Clair, a autora que revolucionou a televisão brasileira e consolidou a telenovela como a grande paixão nacional. Mineira de Conquista, Janete começou sua carreira escrevendo radionovelas — um formato que influenciaria profundamente seu estilo narrativo: ágil, emocional e capaz de prender o público com ganchos irresistíveis. Casada com o dramaturgo Dias Gomes, ela formou com ele uma das duplas mais importantes da teledramaturgia brasileira.
Janete Clair entrou na TV Globo no fim dos anos 1960, sucedendo a cubana Glória Magadan, que até então dominava as produções da emissora com tramas exóticas e voltadas para o escapismo. Janete trouxe uma nova abordagem: dramas mais próximos da realidade brasileira, misturando elementos de aventura, romance e crítica social. Obras como Pecado Capital (1975), um marco ao retratar conflitos morais na classe média carioca, e Pai Herói (1979), que emocionou o país com sua história de redenção e identidade, mostraram sua capacidade de capturar a alma popular e transformá-la em grandes épicos da televisão.
A herança do rádio foi fundamental para sua escrita televisiva. A habilidade em manter o suspense e construir personagens fortes a consagrou como a maior autora de sua geração. Na TV Globo, ela ainda emplacou sucessos como Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972) e O Astro (1977), sempre liderando audiências e ditando tendências narrativas.
Sua influência se estendeu às gerações seguintes. Gilberto Braga, autor de novelas como Vale Tudo (1988), e Glória Perez, criadora de O Clone (2001), são alguns dos discípulos que aprenderam com Janete a importância do apelo popular aliado à construção de histórias profundas e envolventes.
Desde suas origens, a telenovela consolidou-se como uma manifestação voltada ao público amplo, diferentemente da literatura, que só alcançou maior popularidade com o advento do folhetim. Com os avanços tecnológicos e a disseminação do audiovisual, o folhetim evoluiu para sua versão eletrônica: a telenovela. E ninguém soube aproveitar essa transformação com mais maestria do que Janete Clair, que traduziu as paixões e dramas do povo brasileiro em capítulos inesquecíveis.
Cem anos depois de seu nascimento, seu legado permanece vivo. As obras de Janete continuam a inspirar novos autores e a reafirmar seu nome como um dos pilares da cultura popular brasileira.
*Francisco Malta é coordenador do curso de graduação em Cinema da Estácio Maracanã e professor de Roteiro e Produção Executiva, na pós-graduação presencial, em Produção Audiovisual, e na pós-graduação EaD, em Cinema e Linguagem Audiovisual