O fantasma da CPMF voltou para assombrar o bolso dos brasileiros. A ideia de reimplantar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, anunciada pelo Governo Federal como parte do ajuste fiscal necessário para salvar as contas do País – que vem perdendo credibilidade a passos largos, parece querer ajustar o Brasil desajustando o bolso do contribuinte e o caixa das empresas brasileiras.
Tenho me perguntado por que não criamos vergonha e fazemos o que deve ser feito. Tomemos como exemplo a Inglaterra, segunda maior economia da Europa, que em 2010 vivia uma recessão fortíssima depois da crise de 2008. Havia dois anos de queda expressiva no PIB, desemprego, enfim, um cenário de caos econômico. À época, o primeiro ministro David Cameron implementou medidas duríssimas, criando um choque na maneira como eram conduzidas até então as finanças.
Não foram medidas populares, mas por lá realmente cortaram na carne, como foi prometido aqui em terras tupiniquins. Cameron demitiu funcionários comissionados e reduziu despesas de custeio, enxugou de verdade a máquina do governo e vendeu ativos improdutivos. Com isso, economizou 80 bilhões de libras, gerando mais sinergia com a sociedade.
O Banco da Inglaterra (BoE) projetou que a economia do Reino Unido deve crescer 2,8% em 2015 e permanecer no mesmo ritmo de crescimento até 2017. Além disso, manteve a taxa básica de juros na mínima histórica de 0,5%, além de segurar a inflação. Uma lição de economia.
Enquanto isso, no Brasil, insistimos em um modelo ultrapassado de gestão, tentando voltar a cobrar um imposto que, como o nome diz, deveria ser provisório, quando na verdade deveríamos reduzir cargos públicos desnecessários e enxugar a máquina.
Recriar a CPMF significa aumentar o custo final de tudo o que, em algum momento, passa por uma transação bancária. Sim, é o que você pensa: basicamente é um imposto cobrado sobre tudo. Salários, insumos da indústria, transporte e toda a cadeia produtiva são afetados. Ou seja: vai encarecer qualquer conta para o consumidor final. Um efeito cascata que no final pode aumentar a inflação ao invés de melhorar a economia.
Temos que mudar nosso modo de pensar, parar de tentar resolver as coisas pelo modo mais fácil, aumentando impostos, revivendo fantasmas como a CPMF e penalizando a sociedade como um todo. O Governo continua a cometer os mesmos erros do passado. Enquanto não encararmos o problema da economia brasileira pensando a médio e longo prazo, só teremos soluções provisórias – e o buraco ficará cada vez mais fundo.
Gilberto Cantú é Presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar)