O maniqueísmo da disputa política eleitoral

Bem Paraná

O maniqueísmo é uma das características mais presentes na disputa política eleitoral brasileira. Nestas eleições não poderia ser diferente. Na defesa de Dilma Rousseff em relação às acusações de quebra de sigilo de aliados e parentes de José Serra, o presidente Lula, por exemplo, alegou que as denúncias seriam um crime contra o Brasil e contra a mulher brasileira. A tática lembra muito o slogan Brasil, ame-o ou deixe-o usado pelo governo militar, nos anos 70, contra os opositores do regime. Em Curitiba, o grupo de Jaime Lerner – do qual por mais que tente negar, Beto Richa é cria direta – construiu uma hegemonia política de mais de três décadas, com o discurso de que quem fizesse qualquer crítica à administração municipal ou às mazelas da Capital estaria na verdade atacando a cidade. Nesta campanha, Richa também tem feito o mesmo, se colocando como o representante do novo, contra as velhas práticas políticas. Seria aceitável se o próprio Richa não fizesse política há pelo menos vinte anos. Osmar Dias, por sua vez, se apresenta como o representante defensor das políticas públicas progressistas, contra os privatistas e neo-liberais representados pelo tucanato.

Tête-à-tête
O programa do candidato do PDT exibido na noite de quarta-feira foi quase todo ocupado por uma gravação em que Osmar conversa com Lula. Pelo jeito, as pesquisas devem ter estimulado a campanha do pedetista a intensificar ainda mais a presença do presidente na propaganda.

Emotivo
Na conversa, Osmar diz que quem não enxerga que seu governo melhorou muito a vida de milhares de pessoas não tem coração. Mais uma tentativa de passar uma imagem mais emotiva do pedetista, até então visto como carrancudo.

Recado
Lula destaca no programa que na hora que governador briga com o presidente quem perde é o povo. Devia ter avisado isso para o Requião.

Cafezinho
Osmar afirma que pretende continuar recebendo conselhos de Lula depois que ele deixar o cargo. E que quer poder pela porta da cozinha da casa da Dilma.

Passou o recibo
Depois de começar a semana exibindo um vídeo para tentar desconstruir o discurso do adversário, Beto Richa iniciou a propaganda de quarta-feira à noite anunciando um programa só com propostas, sem ataques. Pelo jeito a guinada de segunda-feira pegou mal.

Rendição
Candidato da oposição ao governo federal que chegou a classificar o Bolsa-família de bolsa esmola, o tucano se rendeu à popularidade de Lula. Não só elogia o programa como promete iniciativas para fazê-lo render mais.

Confissão
Richa também deu o braço a torcer, admitindo que muitas das propostas que ele vem apresentando na campanha não são dele, mas ideias antigas que vieram de governos anteriores. E prometeu ainda não só manter os programas sociais de Requião, como o Luz Fraterna e Tarifa Social da água, como ainda ampliá-los. Não vou mudar nem o nome, garantiu.

Clientela
Entre as promessas, está a de aumentar para 120 kw, o consumo máximo para os beneficiários do Luz Fraterna. Segundo a propaganda tucana, esse patamar é o suficiente para o consumo mensal de, entre outras coisas, uma geladeira moderna e econômica. Resta saber se o público-alvo do programa, de baixíssima renda, vai ter dinheiro para comprar uma geladeira dessas. Ou se quem tiver geladeira velha, está fora.

Na linha
Geraldino (PP) é o candidato de uma causa única: pelo fim da assinatura básica do telefone.

Fatura
Ivan da Rodeo (PMN) pede: elejam-me e depois venham cobrar de mim. O que exatamente ele não explica.

Doeu
Trocadilho infame do dia: O Paraná vota Everton dropa.

Hit
As inúmeras quebras de sigilos fiscais estão dando o que falar nos programas eleitorais. Todos candidatos a presidente citaram ao menos uma vez o fato. A maior crítica veio no programa de Plínio (PSOL) que trouxe o caseiro Francenildo falando mal do PT e de Serra. Ninguém pode achar natural os abusos que estão ocorrendo nestas eleições. Foi com essa frase que Serra (PSDB) iniciou seu programa político, que contou ainda com alfinetadas do estilo não preciso ficar na sombra de ninguém.