Aos 42 anos, João Emanuel Carneiro é a mais jovem e recente ararinha azul da TV – espécie rara e em extinção, como o autor Aguinaldo Silva gosta de chamar o seleto time de seis autores de novelas que há anos domina o horário das 9 da Globo, maior audiência da TV brasileira.
Premiado roteirista de cinema, Carneiro estreia Avenida Brasil na segunda-feira, sua quarta novela como autor principal (a segunda no horário das 9), com a responsabilidade da inovação, marca que cunhou após subverter a narrativa teledramatúrgica em A Favorita (2008), quando o público passou três meses sem saber quem era mocinha ou vilã: Donatela (Claudia Raia) ou Flora (Patrícia Pillar)?
Em Avenida Brasil, sinopse que ele entregou à direção da Globo em 2009, a inovação está em eliminar os tradicionais núcleos rico e suburbano das novelas. Tudo será um grande subúrbio, com ricos e pobres morando na periferia – tendência que acompanha a ascensão da classe C e a ânsia da TV por agradar a esse público. O minguado núcleo abastado será apenas um satélite da trama, e o título da novela, assim como os personagens, não podia ser mais carioca: embora em São Paulo a Avenida Brasil corte bairros nobre e casarões quatrocentões, no Rio, a via é um dos principais acessos da zona sul para a zona norte suburbana.
Quase todo o elenco mora no fictício bairro do Divino, onde fica o lixão, de onde saiu a vilã rica Carminha (Adriana Esteves) e para onde ela vai mandar Rita (Mel Maia), sua enteada de apenas 11 anos. Mais antiga que as fábulas, a história da madrasta má também é subvertida, quando a menina volta, adulta (com o nome de Nina, papel de Débora Falabella), como uma justiceira sedenta por vingança.
Não escrevo personagens para os atores, mas a Nina foi feita para a Débora e, da personagem dela, partiu toda a história, contou o autor. Anti-heroína, Nina fugirá do perfil das mocinhas tradicionais, já que vai cometer vilanias em nome de uma causa justa.
Cheio de referências literárias, João Emanuel compara sua mocinha a Robin Wood e Davi, da Bíblia, além de Raskolnikov (protagonista de Crime e Castigo, do russo Fiodor Dostoievski) e Conde de Monte Cristo, obra de Alexandre Dumas que ele diz usar em todas as novelas. Não sei mais fazer a mocinha vitimada. Como sofri pra fazer a Preta (Taís Araújo, em ‘Da Cor do Pecado’)! A Lara (Mariana Ximenes, de ‘A Favorita’) já era uma mocinha com mais problemas. Tenho de dar uma tapeada, para não ficar aquela coisa insuportavelmente chata.
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