Depoimento de avô e tia de Isabella é adiado para 3ª feira

O depoimento foi adiado devido ao esgotamento de ambas as partes

Agência Estado

O depoimento do advogado tributarista Antônio Nardoni e da filha dele, Cristiane Nardoni, avô e tia de Isabella Nardoni, que seria realizado hoje (19) à tarde, foi adiado, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP). O depoimento foi transferido para a tarde de terça-feira, ainda sem horário determinado.


Segundo a SSP, os advogados da família e os delegados envolvidos no caso entraram em um acordo para a transferência, por causa do esgotamento de ambas as partes. Na sexta-feira, durou 17 horas o interrogatório de Alexandre Nardoni, de 29 anos, e de Anna Carolina Jatobá, de 24 – pai e madrasta de Isabella. Todos deixaram o DP quase às 5 horas da madrugada, porque tiveram de ler e reler as 13 páginas do interrogatório da madrasta e as outras 20 páginas do de Alexandre.


Hoje foi dia de descanso para o casal, que já foi indiciado pela morte de Isabella, por homicídio doloso triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima). O casal deixou o 9º Distrito Policial (Carandiru) às 4h37 da madrugada e seguiu para a casa de Alexandre Peixoto Jatobá, pai de Anna Carolina, em Guarulhos, onde estão os filhos do casal, Pietro, de 3 anos, e Cauã, de 1 ano.


Alexandre e Anna Carolina chegaram a Guarulhos pouco depois da 5 horas e, durante toda a manhã, permaneceram em casa. A única movimentação no prédio foi às 9h20, quando o zelador do edifício retirou todos os cartazes de protestos contra a morte de Isabella que estavam no local. Um deles dizia: “A Justiça vai ser feita.” Segundo ele, “o síndico mandou”. O zelador só não teve como evitar a manifestação das pessoas que passavam pela rua e gritavam por justiça. “Onde está a assassina?”, bradou uma mulher de dentro de seu carro.


Saída sob protestos – Assim como a chegada do casal ao 9º DP já havia sido cercada de seguranças, na manhã de sexta-feira, a saída, na madrugada de ontem, não foi muito diferente – havia apenas 40 curiosos, mas o policiamento seguia reforçado.


Às 4h37 deu-se a movimentação final do Grupo de Operações Especiais (GOE) à espera da saída do casal. Os homens do GOE deram cobertura ao Vectra conduzido pelo avô de Isabella, Antônio Nardoni, onde Alexandre, de camiseta branca, e Anna Carolina, de blusa vermelha, entraram apressados, às 4h40, após saírem pela porta lateral do distrito. Em disparada, um minuto depois, partiram para a casa dos pais da madrasta, em Guarulhos, sem escolta policial.


O casal deixou o DP sob xingamentos, pedidos de “Justiça” e gritos de “assassinos”. A maioria não passava de manifestações de deboche, precedidas pela “dança do créu”. Uma pedra foi arremessada pelo público.


Esquema de segurança – A Secretaria de Segurança Pública informou que o casal e os advogados receberam a orientação para que solicitassem e aceitassem a proteção do GOE. Na manhã de sexta-feira, recorreram à ajuda policial para chegar à delegacia Na madrugada, no entanto, dispensaram a escolta. Para isentar a polícia de eventual acusação de omissão, o escrivão redigiu um documento, diante de duas testemunhas, no qual expressou a oferta e a recusa de proteção.


Atrás do Vectra dos Nardonis seguiu apenas um veículo, com um segurança da JM-Seg, empresa contratada pela família. Em seguida, às 4h42, os advogados deixaram o DP em outro carro.


A espera pelo casal, que apareceu poucos segundos ao público, foi longa. O depoimento de Anna Carolina, que teve início às 20 horas, terminou à 0h50. Durante o interrogatório, a madrasta não chorou nenhuma vez. As cinco horas de depoimento resultaram em 13 páginas para o inquérito. Advogados e indiciados só deixaram o DP quase às 5 horas da madrugada, porque tiveram de ler e reler as páginas e mais páginas do interrogatório da madrasta somada às outras 20 páginas do interrogatório de Alexandre. Diferentemente da mulher, o pai chorou ao falar de Isabella, em depoimento com início às 11h30 e término às 20 horas. Enquanto Anna depunha, ele ficou isolado, assistindo à TV, na companhia de um advogado e um investigador.


O promotor Francisco José Cembranelli foi um dos primeiros a deixar o DP, à 1h46, sem falar com a imprensa. Às 2h41, o delegado-titular do 9º DP, Calixto Calil Filho, deixou o local, também sem dar declarações.


Fé em Santo Expedito – Devota de Santo Expedito, Rosa Cunha – mãe de Ana Carolina Cunha de Oliveira e avó de Isabella – esteve ontem pela manhã na festa para o santo, na Capela das Graças de Santo Expedito e do Sagrado Coração de Jesus, no Jaçanã, zona norte. O evento, realizado todo ano em 19 de abril – dia do santo das causas justas e urgentes -, dessa vez também virou homenagem a Isabella, com pessoas vestidas com camisetas com a foto da menina e bandeirinhas com os dizeres: “Isabella estará sempre no ‘Cantinho da Alegria’ (nome do colégio onde estudava) “


Por volta das 9h30, Rosa apenas entrou na capela, foi em direção às imagens de Santo Expedito e do Sagrado Coração de Jesus, e se retirou, com medo do assédio da imprensa. Mais tarde, por volta das 11 horas, ela, o marido, José, e o filho Felipe foram chamados pelo padre Luiz César Bombonato a subir ao altar montado no lado de fora da igreja para participar da oração feita para Isabella. Estavam com Masataka Ota (pai de Yves Ota, menino seqüestrado e morto aos 8 anos, em 1997).


Depois, o padre conversou separadamente com a família de Isabella e deu de presente a Rosa uma imagem de Santo Expedito. Rosa pediu que o padre reze pelas famílias de Alexandre Nardoni e de Anna Carolina Jatobá.


De volta para casa, perto do meio-dia, Rosa e José não quiseram comentar nada sobre a morte da neta. “Nós não achamos nada”, disse a avó de Isabella. Ela carregava a imagem que tinha ganho de presente.


O padre, em sua oração, pediu pela alma de Isabella e por “tantas crianças no Brasil vítimas da violência, da dengue e do descaso”.