Mulheres e Motocicletas: Uma relação cada vez mais próxima 

O público feminino representa metade das vendas de motos na maior rede de concessionárias do Paraná

Nilton Saciotti

Conduzir uma motocicleta é uma ação que cresce a cada dia entre as mulheres brasileiras. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), analisados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – Abraciclo, hoje 8.884.345 pessoas do gênero feminino possuem carteira de habitação na categoria A. Em 2013, havia 5.034.139 habilitadas. No comparativo, há um crescimento de 76,5% em nove anos.

No Paraná, de 2012 para cá, houve um salto de 78,4% no número de mulheres com habilitação na categoria A, destinada para pilotar motos. O estado fechou 2022 com 703 mil motociclistas femininas – há dez anos eram cerca de 400 mil.

Apesar desse crescimento bastante expressivo, elas ainda são minoria e representam 24% dos habilitados. Em 2013, esse índice era de 20,2%. Dentre os fatores atribuídos para o aumento de condutoras está o empoderamento feminino.

A vendedora Cristiane Felippi faz parte desse número. A pilota de 39 anos adquiriu recentemente uma Honda SH 150i na Honda Blokton em Curitiba e conta que utiliza a moto somente para o lazer, assim como fazia com a Biz, sua scooter anterior.

“Gosto de motos desde pequena. Aprendi a pilotar muito nova e hoje é um hobby para mim. Minha dica é: se você gosta de liberdade, compre uma moto”, aconselha a curitibana.

Erika, Josilda, Karime e Waldesta (da dir. para esq.) são unidas pela paixão pela motocicleta

A da administradora de empresas Érika Di Iório, de 50 anos, moradora da cidade de Belém (PA). Quem a vê hoje, com um modelo de alta cilindrada, não imagina que até pouco tempo, essa mineira de Belo Horizonte, apesar da vontade, não se sentia apta a conduzir uma motocicleta. Essa história ganhou um novo capítulo durante uma viagem a Brasília. “Fui com meu marido até uma concessionária. Quando vi uma motocicleta, foi paixão à primeira vista. Comprei, mesmo sem ter a carteira de habilitação”, relembra.

De volta para casa, se matriculou numa moto escola. “As primeiras voltas de moto eram restritas ao meu condomínio. Depois de um tempo fiquei mais confiante. Mas sempre digo que andar de motocicleta é uma superação constante”, diz ela que é uma das integrantes da Confraria Harleyros do Pará.

Com muitos quilômetros na bagagem, Josilda Maria Maciel (46 anos) e Karime Abrão (42) transformaram o amor pelas motocicletas em profissão.

Nascida em Tracunhaém, cidade do interior de Pernambuco, Josilda fez parte da primeira turma do curso de Motofretista, promovido pelo SEST/SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte). “Éramos eu e mais uma garota”, relembra.

        No início, fazer entregas representava uma forma de garantir uma renda extra até que se transformou na principal fonte de sustento. “Quando comecei na profissão, usava aqueles guias impressos para chegar nos endereços. Hoje temos o GPS que facilita muito a nossa vida”, compara. “Ainda existe preconceito, mas acredito que avançamos bastante e, com muita competência, conquistamos nosso espaço”, destaca.

A procura feminina pela motocicleta tem como principal objetivo a locomoção no dia a dia, que depois vira opção de lazer nos fins de semana, de acordo com a gerente da Blokton.

A gerente diz que o modal é usado por elas para ir e vir do trabalho ou da faculdade, ou seja, querem se virar sozinha sem depender da carona do marido ou namorado.

“O volume de clientes mulheres tem aumentado bastante. Elas estão super empoderadas, independentes e encarando numa boa essa aventura de pilotar em duas rodas. A mulher encontrou na motocicleta uma aliada para economia de tempo e menor gasto com combustível, além da liberdade em se locomover pela cidade”, comenta Leise.

Habilitações por faixa etária

        A faixa etária que concentra o maior número de habilitações, tanto para homens como para mulheres, é a que vai dos 31 a 40 anos. No total, elas somam 7.790.504 motociclistas e eles totalizam 11.871.802 habilitados.

        Em segundo lugar, estão as pessoas com idades entre 41 e 50 anos. O gênero feminino responde por 6.520.793 habilitações e o masculino por 10.774.078 das carteiras na categoria A. Na terceira colocação, está o público acima 60 anos: são 3.988.122 mulheres motociclistas e 11.068.970 homens.

        De acordo com dados do IBGE/Denatran, no Brasil existe uma mulher habilitada a conduzir uma motocicleta a cada oito pessoas do gênero feminino.

Mais cuidadosas na compra e na revisão

A crescente participação em um universo dominado pelo público masculino vem acompanhada de uma maior preocupação delas no momento de comprar e cuidar da motocicleta.

Leise Braga explica que as mulheres são mais detalhistas do que os homens na hora da aquisição. Querem saber sobre consumo, valor de parcela que cabe no bolso, acessórios que a motocicleta possui, capacete mais adequado, entre outros aspectos.

“Elas já pensam em comprar um modelo que vá atender bem as necessidades. E também têm um cuidado maior em manter a motocicleta em bom estado de uso e conservação do que o homem. Perdem menos prazo de revisão e estão mais atentas às trocas de óleo”, revela a gerente.