A importância do pequeno proprietário

Leopoldo Scremin

A paixão pelos cavalos de corrida é diferente de qualquer outra. Nos dias de corrida a manhã começa diferente, a expectativa é grande e a cada largada o coração se acelera. As retas de chegada são emocionantes e logo que uma carreira acaba já começa a emoção da outra. 

Grande parte dos apaixonados gosta de apostar, estudar as provas, preparar suas barbadas e ir ao guichê no momento certo. Enfim, o turfe é emocionante. Mas existem turfistas que em alguma época da vida começam a sonhar com o “algo a mais”. 

Vendo os proprietários felizes nas fotos da vitória, eles começam a se imaginar ali. Começam também a imaginar sua farda desfilando em cima de algum cavalo, até que um dia resolvem comprar um animal. 

A experiência de ter um cavalo de corrida transcende o imaginável de quem nunca teve. Claro que a emoção é completamente diferente. Ver sua farda, acompanhar o treinador encilhando seu animal, dando as ordens ao jóquei e ouvir seu nome sendo anunciado no cânter é especial. 

E a emoção não fica apenas nisso. Uma vez que é dada a largada o coração “vem à boca”, a emoção aflora e sem nem perceber você está quase subindo na cerca para torcer pelo seu cavalo. Cruza o disco e a adrenalina vai baixando vagarosamente.

Entre cumprimentos quando o cavalo vai bem e lamentações quando vai mal, aquele momento de reflexão te faz chegar a conclusão que – independente do lugar que o cavalo chega – tudo vale a pena. 

Porém, a emoção de ter um cavalo de corrida não se resume ao dia da reunião. Existe a parte – talvez mais legal – de acompanhar o cavalo no dia a dia. São mensagens para o treinador, ligações, visitas e uma demonstração de carinho enorme com o animal. O contexto disto tudo é o que mais vale a pena. Como dizem muito nos esportes americanos: “curta o processo”.

Esta introdução foi feita para falarmos da importância do pequeno proprietário, que hoje em dia tem uma relevância absurda no turfe. É claro que os grandes haras e studs tem grande protagonismo, e isso não poderia ser diferente. São eles que movimentam grande parte do mercado da criação e da compra dos potros. Sem eles o turfe acaba. 

Contudo, os pequenos proprietários vêm fazendo a diferença no turfe brasileiro. Se olharmos para o Hipódromo da Gávea, estes proprietários são de grande relevância para a formação dos páreos, principalmente na segunda e terça-feira.

As vezes sem condições de bancar tratos caros em Centros de Treinamento, fazem com que a Vila Hípica da Gávea fique a cada dia mais movimentada. E com isso, tanto os profissionais quanto o Jockey em si faturam mais, fazendo com que a “máquina” continue funcionando. 

No Jockey Club do Paraná isto também está se tornando uma tônica. Com a inadimplência do Hipódromo de Cidade Jardim, os grandes haras daqui levam muitos de seus animais – que mostram mais aptidão para a pista de grama – para o Rio de Janeiro, uma vez que correr em trânsito lá não é uma opção. 

Sim, tivemos grandes resultados de animais que foram daqui para lá correndo em trânsito. No entanto, a maioria não volta tão cedo e quando voltam, ficam pelo menos um mês em recuperação sem correr. O clima desgasta e os cavalos perdem em média 15 quilos em uma viagem. 

Aí que entram os pequenos proprietários. Quando falamos “pequenos” não estamos falando de maneira pejorativa, apenas estamos escalonando o valor investido nos animais. 

Desde os que possuem apenas um, até os que – com parceria de sócios – tem cinco ou seis, estão fazendo grande diferença na formação dos programas do Hipódromo do Tarumã. Claro que os grandes proprietários também inscrevem, mas a quantidade ótima de animais por páreo (em média 9 animais), é fruto destes apaixonados. 

Poderíamos citar vários nomes de “pequenos proprietarios” que hoje estão correndo seus animais em três ou quatro páreos numa única reunião. Eles são muitos e para não nos esquecermos de ninguém não citaremos nomes. 

O importante é que eles estão aumentando. A paixão que estes proprietários tem pelos animais está “movendo correntes” no Tarumã. A viabilidade e o possível acontecimento de uma terceira reunião mensal está diretamente ligada a eles. Óbvio que o pagamento em dia dos prêmios pelo Jockey é o grande incentivador.

E uma decisão importannte da Comissão de Corridas do Jockey Club do Paraná vai ajudá-los muito. A partir do dia 14, animais de 3 e 4 anos sem vitória terão uma chamada especial, colocando na pista quem não se colocou até o quarto lugar nas últimas três atuações. As chamadas para animais de 3 e 4 anos – “Chamada Extra A” e Chamada Extra B” – devem se formar tranquilamente.

É promissora a decisão. Talvez o ideal fosse uma chamada para animais que já possuam vitórias (duas ou três no máximo), uma vez que muitos cavalos que não vêm se colocando chegam do Rio de Janeiro um pouco mais velhos, já contando com vitórias na campanha. Mesmo assim é uma chamada bem interessante. 

Isso ajuda os animais a ficarem no Tarumã. Tendo chance de rentabilizar, os proprietários não precisam se desfazer de animais que não estão faturando. É importante deixar claro que as colocações são importantes para baratear os custos dos pequenos proprietários. Principalmente os que custeiam os animais sozinhos. Esta chamada é excelente para eles. 

No mais, é louvar estes proprietários que estão ajudando muito o crescimento do turfe. O amor que eles tem pelos cavalos e pelas corridas está transformando o esporte. E com certeza eles são o grande caminho – vide Gávea – para mais animais na Vila Hípica e, consequentemente, mais corridas mensais.